Em entrevista a publicação suíça, presidente da Fifa afirma que, em vez de renunciar, colocou mandato à disposição. Fonte da entidade diz que dirigente não usou palavra "renúncia", mas que pretende mesmo entregar cargo.
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O presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse que não renunciou à presidência da Fifa, segundo reportagem publicada pelo jornal suíço Blick nesta sexta-feira (26/06).
"Eu não renunciei, estou oferecendo meu mandato num congresso extraordinário", disse Blatter ao Blick, aumentando as especulações de que ele possa tentar continuar na direção da entidade máxima de futebol.
Segundo a publicação, o comentário foi feito nesta quinta-feira, na primeira aparição pública de Blatter após o anúncio de que deixaria o cargo em setembro, há quase um mês. Ele participou de uma cerimônia no novo museu da Fifa, em Zurique, que deve ser aberto ao público em 2016.
O cartola de 79 anos, que comanda a Fifa há quase duas décadas, comunicou a renúncia à presidência no dia 2 de junho, em meio ao escândalo de corrupção envolvendo dirigentes da entidade. Na ocasião, Blatter, que foi reeleito em maio, convocou eleições para a escolha de um novo líder.
De acordo com uma fonte da Fifa, Blatter vai mesmo renunciar. "Ele não usou a palavra 'renúncia' no dia 2 de junho, mas disse que estava entregando seu mandato, e é exatamente isso que ele pretende fazer."
Outro porta-voz da entidade disse à agência de notícias Reuters que as citações feitas pelo Blick foram precisas. "Elas seguem a mesma linha do discurso do presidente do dia 2 de junho."
O presidente do comitê de auditoria da Fifa, Domenico Scala, reagira à notícia afirmando ser "indispensável" que haja uma mudança na liderança do organismo que tutela o futebol mundial. "Para mim, as reformas são o tema central", escreveu Scala, em comunicado. "É por isso que acho ser claramente indispensável prosseguir com o processo iniciado de mudança de presidente, como foi anunciado."
KG/dw/rtr/afp/dpa
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.