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"Não vamos nos render", diz jornal turco

1 de novembro de 2016

Veículo de oposição "Cumhuriyet" reage a batida policial que resultou na prisão de 13 de seus funcionários. Autoridades acusam jornal de ligação com PKK e com o clérigo Fethullah Gülen.

Capa da edição do Cumhuriyet de 01/10
Capa da edição do Cumhuriyet desta terça-feiraFoto: Cumhuriyet

O jornal de oposição turco Cumhuriyet estampou nesta terça-feira (01/10) a manchete "Não nos renderemos", após 13 de seus funcionários serem presos durante uma batida policial na véspera – entre eles o editor-chefe, Murat Sabbuncu. O diário classificou o incidente como um golpe contra a liberdade de imprensa e afirmou que vai lutar até o fim pela democracia.

A ação das autoridades turcas contra o jornal, fundado em 1924, foi criticada por organizações de jornalistas na Turquia. As entidades qualificaram as detenções, que também tiveram como alvo colunistas e um cartunista do jornal, de "caça às bruxas".

O governo dos EUA se mostrou "profundamente preocupado com o que parece ser um aumento da pressão oficial sobre a mídia opositora na Turquia. O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, por sua vez, declarou no Twitter que "com a detenção de Murat Sabuncu e outros jornalistas foi cruzada mais uma linha vermelha da liberdade de expressão na Turquia".

O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, rebateu as críticas nesta terça-feira, afirmando que as "linhas vermelhas" do Parlamento Europeu não significam nada para a Turquia. Aqui, a nação que planta linhas vermelhas é nossa nação. O que vocês têm a ver com estas linhas? Traçaremos uma linha contra as de vocês", disse o premiê em discurso no parlamento.

Segundo o jornal Hürriyet, Yildirim insistiu que "há acusações contra diretores de um jornal, há uma denúncia e uma investigação desde o mês de agosto", e, por isso, foram ordenadas as detenções.

A Promotoria acusa os diretores do Cumhuriyet de serem membros do banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK)  e da confraria islamita de Fethullah Gülen, clérigo radicado nos Estados Unidos a quem é atribuído o fracassado golpe de Estado de julho.

A redação do Cumhuriyet nega as acusações e critica as detenções como "inaceitáveis e inconstitucionais". A linha editorial do jornal é de orientação laica e de centro-esquerda.

Dura repressão

Nos últimos meses, as autoridades turcas fecharam quase 170 veículos de comunicação e detiveram 105 jornalistas, segundo a Associação de Jornalistas turcos. As medidas afetaram jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão afiliadas a Gülen, mas também todos os principais meios curdos independentes do país.

O Cumhuriyet é o maior veículo crítico do governo que segue em funcionamento. O diário foi premiado em setembro deste ano com o chamado Nobel Alternativo. A Fundação Right Livelihood concedeu a honraria ao jornal por este exercer o jornalismo investigativo "sem medo" e se comprometer com a liberdade de expressão "contra as ameaças de opressão, censura, prisão e ameaças de morte". 

Desde a tentativa de golpe de Estado fracassada em julho, as autoridades turcas prenderam cerca de 37 mil pessoas e mais de 100 mil foram dispensadas ou suspensas de cargos governamentais, numa tentativa de erradicar a rede de Gülen no país.

LPF/efe/dpa/afp/ap

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