Joscha Weber, do Rio de Janeiro (av) 3 de agosto de 2016
Tendo passado mais da metade da vida como refugiado, o corredor sul-sudanês Yiech Pur Biel, de 21 anos, integra a equipe olímpica enviada pelo COI à Rio 2016. Sua ambição é dar esperança àqueles que a perderam.
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O corredor Yiech Pur Biel, natural de Nasir, no Sudão do Sul, integra a equipe de atletas refugiados que desembarcou no Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos.
Em 2005, aos dez anos de idade, ele fugiu da guerra civil em seu país, sendo acolhido no campo de Kakuma, no Quênia. Lá ele ouviu falar da Fundação Tegla Loroupe, que organiza competições esportivas. Mesmo sem ter sapatos de início, ele participou, qualificando-se para a equipe internacional de refugiados na Rio 2016, uma iniciativa inédita do Comitê Olímpico Internacional (COI).
Biel fala baixo e, em meio à tempestade de flashes dos fotógrafos em sua primeira coletiva no Rio, cercado por jornalistas e equipes de TV, sua voz é frequentemente suplantada pela bela nadadora síria Ysra Mardini – a qual, de longe, é quem recebe maior atenção, sobretudo das câmeras de televisão.
Até por o seu inglês não ser tão bom quanto o da colega, o sul-sudanês Biel fica mais à parte. A DW entrevistou o atleta de 21 anos, que, depois de muitos percalços, parece ainda não poder acreditar que esteja realmente participando dos Jogos de 2016.
DW: O que significa para você estar aqui, no Rio?
Yiech Pur Biel: Para mim e para toda a equipe de refugiados, significa muito. Porque é a primeira vez que uma equipe como a nossa participa dos Jogos Olímpicos. E torço para que consigamos dar esperança a todos aqueles que perderam a esperança numa vida melhor.
Competindo na corrida de 800 metros rasos contra uma concorrência de renome, como vê as suas chances?
Difícil dizer. Vou competir contra campeões de verdade. Mas todos nós, na equipe de refugiados queremos dar o melhor, para mostrar ao mundo que refugiados são capazes de fazer tudo o que as outras pessoas fazem. Essa é a esperança para nós e também para milhões de refugiados.
Você fugiu da guerra civil no Sudão do Sul e vive há dez anos no Quênia, em Kakuma, o maior campo de refugiados do mundo. Você só começou há um ano no esporte competitivo e agora participa das Olimpíadas. Quantas vezes já contou essa sua história?
Já contei para muitos. Deixei o Sudão por causa da guerra. Havia combates, quando saí da minha aldeia. Deixei os meus pais para trás e até hoje não sei onde eles estão. Nunca mais nos encontramos. E, onde quer que estejam, eles vão estar bem. Se Deus quiser, nós vamos nos ver novamente. Ainda assim, hoje estou muito feliz de estar sob a proteção da agência da ONU para refugiados Acnur: sem ela, eu hoje não estaria vivo. Agradeço muito às Nações Unidas.
Você também está correndo aqui pela ONU e seus encarregados dos refugiados?
Sim. Quando eu deixei minha família eles me acolheram, me apoiaram. Agora eu vivo no Quênia. Lá, entre os refugiados, eu encontrei uma nova família.
Alguns críticos dizem que a equipe de refugiados é uma boa campanha de publicidade para o COI em tempos difíceis. Como vê isso?
A equipe olímpica de refugiados é uma boa ideia do presidente do COI [Thomas Bach]. Pois nosso grupo mostra: todas as pessoas são iguais. Queremos mostrar isso ao mundo. Estamos todos muito felizes que o COI esteja nos dando esta chance.
Como continuará a sua história, quando os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro chegarem ao fim?
Também depois dos Jogos eu quero continuar com meu treinamento. Mas também quero frequentar a escola, a fim de um dia poder entrar para uma universidade. Eu quero aprender, para um dia poder mudar as coisas, também para os meus amigos refugiados. Quero assim me tornar um ser humano melhor.
Momentos inesquecíveis nas aberturas de Olimpíadas
As cerimônias de abertura de Jogos Olímpicos são sempre acompanhadas de suspense ou efeitos especiais surpreendentes, como Muhammad Ali acendendo a pira olímpica ou uma sósia da rainha Elizabeth descendo de paraquedas.
Foto: dapd
1896: primeiros Jogos da Era Moderna
Os Jogos Olímpicos da Antiguidade aconteceram de 776 a.C. até 393, quando o imperador Teodósio os proibiu por considerá-los pagãos. Eles ressurgiram por iniciativa do francês Pierre de Coubertin. De 6 a 15 de abril de 1896, se realizaram pela primeira vez os Jogos Olímpicos da Era Moderna. Eles foram abertos em Atenas pelo então rei George da Grécia, e neles soou pela primeira vez o Hino Olímpico.
Foto: picture-alliance/dpa
1920: Bandeira e juramento olímpicos
Dois anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, os Jogos foram realizados na Antuérpia. Pela primeira vez, foi içada a bandeira olímpica, concebida em 1913. As seis cores dos anéis – azul, amarelo, preto, verde e vermelho – podem ser encontradas em bandeiras nacionais. Os anéis representam os continentes habitados do planeta. Pela primeira vez, atletas fizeram o juramento olímpico.
Foto: picture-alliance/Xinhua
1928: Amsterdã e a ordem do desfile
A maior parte do cerimonial de hoje em dia já foi adotada em Amsterdã em 1928. Pela primeira vez, atletas gregos abriram o desfile, sendo seguidos pelas delegações dos demais países, na ordem alfabética de acordo com o nome no idioma do país-sede, cuja delegação é a última a desfilar.
Foto: Getty Images/Central Press
1936: primeiro revezamento da tocha
Em 1936, aconteceu pela primeira vez o revezamento da tocha olímpica, de Atenas até Berlim, onde foi acesa a pira olímpica. Cerca de 3 mil atletas participaram da corrida. A pira olímpica foi acesa pelo atleta alemão Fritz Schilgen (foto). Os Jogos Olímpicos de Berlim foram usados como instrumento de propaganda do regime nazista.
Foto: picture-alliance/akg-images
1964: homenagem a Hiroshima
Yoshinori Sakai nasceu em 6 de agosto de 1945, exatamente no dia do lançamento da bomba atômica sobre a cidade japonesa. Na abertura dos primeiros Jogos na Ásia, em 1964, o rapaz de 19 anos carregou a tocha olímpica para o estádio em Tóquio. Um momento inesquecível, que virou um símbolo da paz mundial.
Foto: Getty Images
1980: boicote em Moscou
A tensão durante a Guerra Fria ficou evidente nos Jogos em Moscou, em 1980. Em vez da bandeira de seu país, o presidente do comitê olímpico britânico, Dick Palmer (esq. à frente na foto) carregou a bandeira olímpica. Em protesto à invasão do Afeganistão por tropas russas em 1979, o Japão e a Alemanha boicotaram os Jogos junto com os Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo
1992: tiro perfeito em Barcelona
Em 1992, o arqueiro paralímpico Antonio Rebollo acendeu a pira olímpica da 25ª edição dos Jogos Olímpicos em Barcelona, com uma flecha em chamas. Na realidade, a flecha passou muito perto da pira, mas o fogo foi aceso exatamente ao mesmo tempo.
Foto: picture-alliance/Lehtikuva Oy
1996: momento mágico
Quatro anos mais tarde, outro momento emocionante. Muhammed Ali, a lenda do boxe, já visivelmente afetado pela doença de Parkinson, acendeu a pira nos Jogos em Atlanta, nos Estados Unidos. Ele foi uma figura controversa em seu país por ter se negado a combater no Vietnã, mas seus feitos esportivos foram reconhecidos.
Foto: picture-alliance/dpa
2004: vestido mágico em Atenas
A cerimônia de abertura das Olimpíadas segue um rígido protocolo, mas mesmo assim ainda oferece espaço para a criatividade. Enquanto Björk, cantora da Islândia, interpretou "Oceana" em 2004 nos Jogos de Atenas, seu vestido se abriu lentamente num enorme véu, que cobriu as delegações como um tapete.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Baker
2008: superlativos em Pequim
O custo da abertura dos Jogos em Pequim é estimado em 100 milhões de dólares. Quatro anos mais tarde, os de Londres custaram 40 milhões de dólares. A cerimônia na capital chinesa contou com extamente 2.008 percussionistas, usando baquetas iluminadas e tambores tradicionais do país. A apresentação deles foi o ponto alto de um show perfeitamente planejado, que durou três horas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Ugarte
2012: homenagem à rainha
A rainha Elizabeth abriu os Jogos de Londres, em 2012. E com estilo: uma dublê trazida pelo agente 007, James Bond, pulou de paraquedas de um helicóptero. A rainha britânica foi a primeira chefe de Estado a abrir duas Olimpíadas. Como rainha do Canadá, ela já havia feito o mesmo em Montreal, em 1976.