Número de cristãos raptados por jihadistas sobe para 220
26 de fevereiro de 2015
Terroristas do "Estado Islâmico" atacam dez vilarejos no nordeste da Síria e fazem mulheres, crianças e idosos reféns. Mais de 5 mil pessoas fugiram da região e estão desalojadas.
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Após três dias de ofensivas no nordeste da Síria, militantes do grupo terrorista "Estado Islâmico" tomaram dez vilarejos e sequestraram pelo menos 220 cristãos assírios, informou nesta quinta-feira (26/02) o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Boa parte dos reféns são mulheres, crianças e idosos.
Os sequestros ocorreram em áreas ocupadas pela minoria cristã, próximas à cidade de Hasaka, controlada pelos curdos. Com a invasão jihadista, mais de mil famílias fugiram para cidades maiores vizinhas, segundo a Rede Assíria de Direitos Humanos, baseada na Suécia. Atualmente mais de 5 mil pessoas estão desalojadas.
Osama Edward, diretor da rede, acredita que os sequestros estejam relacionados às recentes perdas de território dos jihadistas na região, como resultado dos ataques aéreos realizados pelas forças aliadas contra o EI. "Eles pegaram reféns para usá-los como escudos humanos", afirmou Edward à agência de notícias France Press.
Os Estados Unidos e as Nações Unidas condenaram o rapto em massa – o primeiro do tipo no país devastado pela guerra – e exige que os reféns sejam soltos. "O último ataque do EI à minoria religiosa é mais uma mostra de seu tratamento brutal e desumano a todos aqueles que discordam de suas metas desagregadoras e de suas crenças nocivas", afirmou a porta-voz do Departamento americano de Estado, Jen Psaki.
Em nota, o governo brasileiro também condenou os ataques, reiterando "total repúdio a quaisquer atos terroristas ou de violência, em especial àqueles direcionados a pacíficas populações civis", afirmou o Itamaraty.
Até agora, o EI não reivindicou os sequestros. Mas o grupo terrorista tem no histórico centenas de mortes de minorias religiosas e de sunitas que não juraram lealdade ao autoproclamado "califado". Há dez dias, eles divulgaram um vídeo no qual 21 cristãos coptas egípcios são decapitados.
"Negociações estão sendo realizadas através de mediadores de tribos árabes e membros da comunidade assíria a fim de assegurar a libertação dos reféns", afirmou o Observatório Sírio, sediado em Londres, que acompanha o conflito no país por meio de informantes em todos os lados da zona de conflito.
MSB/rtr/afp
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.