Número de execuções no Irã tem aumento expressivo em 2023
3 de julho de 2023O número de pessoas executadas aumentou consideravelmente no Irã nos primeiros seis meses deste ano, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (03/07) pelo grupo de direitos humanos Iran Human Rights (IHR), que tem sede na Noruega.
No período entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2023, pelo menos 354 pessoas foram executadas pelo regime fundamentalista islâmico, 36% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Os números apontam para uma clara tendência de aumento nas execuções por meio de sentenças de morte no Irã: nos primeiros seis meses de 2022, foram 261, enquanto que no ano anterior, 121.
Mais da metade das sentenças de morte executadas foram por delitos relacionados a drogas: 206 no total. Em comparação com o primeiro semestre do ano passado, esse tipo de condenação teria aumentado em 126%.
Conforme o relatório, ao menos 122 pessoas foram executadas devido a acusações de assassinato, muitas delas integrantes de minorias étnicas no Irã, a exemplo dos balúchis, que são sunitas. O levantamento aponta que 71 vítimas das sentenças de morte – 20% do total acima – seriam dessa minoria.
Outros crimes que levaram pessoas a execuções no Irã nestes primeiros seis meses do ano foram por protestos (5), estupro (4) e blasfêmia (2).
Um cidadão sueco-iraniano e outro britânico-iraniano também foram executados. O sueco era um dissidente árabe que havia sido sequestrado na Turquia, e o britânico foi acusado de espionagem.
Do total de 354 pessoas executadas neste semestre pelo regime, seis eram mulheres e apenas 43 casos – 12% do total – foram reportados pelas autoridades iranianas.
Instrumento de opressão
Enquanto a Anistia Internacional acusa o Irã de usar a perna de morte como "instrumento de opressão" da ditadura fundamentalista contra minorias étnicas, o diretor do IHR, Mahmood Amiry-Moghaddam diz que as execuções são usadas também "[...] para incutir medo na sociedade e evitar novos protestos".
De acordo com a agência de notícias AFP, o Irã é, depois da China, o país com o maior número de execuções por ano. Não há, entretanto, números oficiais de nenhum desses dois países.
Maiores protestos em décadas
Moghaddam refere-se aos protestos que ocorrem no Irã desde setembro de 2022. Em grande parte, as manifestações diminuíram, embora ainda haja atos esporádicos, incluindo a recusa de mulheres em usar o véu islâmico obrigatório.
As maiores manifestações em décadas eclodiram depois da morte sob custódia da jovem Jina Mahsa Amini, uma curda iraniana de 22 anos que havia sido presa pela polícia da moralidade do Irã acusada de ter "usado de forma inapropriada" o véu islâmico.
As autoridades disseram que a jovem sofreu um ataque cardíaco, mas testemunhas afirmam que ela foi severamente espancada e morreu em decorrência da brutalidade policial.
Os protestos rapidamente se espalharam e se transformaram em pedidos de derrubada da teocracia que governa o Irã desde a Revolução Islâmica de 1979.
Regime totalitário
Devido à onda de manifestações em diversas cidades, Teerã lançou uma forte repressão por meio das forças de segurança, rotulando os protestos como "tumultos" instigados por estrangeiros.
Milhares de iranianos foram presos e centenas foram mortos, inclusive dezenas de membros das forças de segurança. Grupos de direitos humanos afirmam que o país executou em torno de 600 pessoas somente em 2022, quase o dobro das 333 no ano anterior.
O sistema político iraniano é uma complexa combinação de autoridade clerical xiita e presidente e parlamento eleitos. O presidente cuida das questões governamentais do dia a dia, mas se orienta pelo profundamente antiocidental aiatolá e ditador Ali Khamenei.
Um órgão de vigilância composto por clérigos e juristas – alinhado ao líder supremo e inclinado a drásticas restrições políticas e sociais – tem o poder de vetar leis e decidir quem pode concorrer a cargos políticos.
gb (afp, dpa)