Número de insetos e pássaros cai acentuadamente na Alemanha
19 de outubro de 2017O número de pássaros na Alemanha caiu 15% nos últimos 12 anos, aponta um estudo divulgado nesta quinta-feira (19/10) pela Federação de Proteção Ambiental (Nabu). Outro levantamento publicado nesta semana revela números ainda mais dramáticos em relação aos insetos: a Alemanha abriga hoje 76% menos insetos voadores que há 27 anos.
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Segundo o relatório da Nabu, o declínio dos pássaros atinge principalmente espécies não ameaçadas, como o estorninho (Sturnus vulgaris), que foi nomeado "Pássaro do Ano de 2018" por ornitólogos alemães. Outras aves afetadas são pardais, estrelinhas, cotovias e escrevedeiras-amarelas. No entanto, as populações de algumas espécies raras e ameaçadas – que recebem proteção especial – se estabilizaram e, em parte, aumentaram nos últimos anos.
Ambos os estudos sugerem que existe uma estreita ligação entre o desaparecimento dos insetos e dos pássaros. "Quase todas as espécies de aves afetadas alimentam seus filhotes com insetos", disse Lars Lachman, ornitólogo da Nabu.
"Desaparecimento maior que o esperado"
O estudo relativo aos insetos voadores, publicado na revista especializada Plos One, é baseado em dados sobre o peso total desses animais capturados em armadilhas especiais desde 1989. Levando em conta a massa das espécies coletadas, os cientistas puderam tirar conclusões sobre a saúde das populações e sobre quantos exemplares vivem numa determinada área.
Para tal, eles usaram as chamadas armadilhas Malaise, telas que permitem coletar insetos voadores e direcioná-los para um recipiente. Os pesquisadores realizaram seus levantamentos em 63 diferentes áreas protegidas – de reservas paisagísticas a parques nacionais nos estados da Renânia do Norte-Vestfália, Renânia Palatinado e Brandemburgo. As armadilhas foram instaladas em charnecas, pastagens ou áreas de pousio.
Os pesquisadores esvaziaram os recipientes coletores em intervalos regulares para descobrir quando a maioria dos insetos voadores estava em atividade. E eles fizeram comparações sobre a mudança da biomassa ao longo do tempo nos diferentes habitats.
As armadilhas coletaram 53,54 quilos de insetos. Constatou-se que, ao longo de 27 anos, a massa total diminui em média 76%. O declínio foi mais pronunciado no alto verão: quase 82%. Nesse período, a maioria dos animais está em atividade.
Caspar Hallmann, da Universidade Raboud na holandesa Nijmegen, avaliou os dados junto à sua equipe, da qual também fazem parte pesquisadores alemães e britânicos. Ele afirmou que, embora o desaparecimento de insetos já fosse previsto, "ele foi maior do que o esperado até agora".
O estudo forneceu a prova de que o desaparecimento não afetou somente determinados locais, mas é "realmente um problema de grande escala", afirmou Josef Settele, do Centro Helmholtz para Pesquisa Ambiental (UFZ), na cidade de Halle.
O ecologista não esteve envolvido no estudo, mas disse ver a publicação como metodicamente correta. Ela apresenta uma base sólida para a evidência anterior de uma morte maciça de insetos, comentou.
Embora em alguns locais as amostras tenham sido coletadas somente uma vez por ano, "isso não tem nenhuma importância para a validade dos dados", apontou Johannes Steidle, da Universidade de Hohenheim. Em lugares onde houve diversas coletas anuais, os resultados foram correspondentes, acrescentou.
Causas e efeitos para polinização
Os motivos do desaparecimento dos animais ainda não foram esclarecidos. Os pesquisadores não acreditam que haja uma relação com as mudanças climáticas, já que, geralmente, um clima mais quente é favorável ao desenvolvimento de insetos e, portanto, também de pássaros. Ou seja, suas populações deveriam ser maiores dado o aumento da temperatura média em quase 1°C ao longo do período estudado.
A suspeita recai mais sobre a agricultura de larga escala. Aqui, muitos fatores poderiam estar em jogo: a larga utilização de pesticidas – principalmente inseticidas –; a intensa fertilização dos campos, que leva a condições biológicas alteradas; o uso contínuo de áreas cultiváveis; e o desaparecimento de zonas de refúgio, como faixas de vegetação natural, arbustos e cercas vivas ao longo de estradas.
Lachmann afirmou que os "pássaros que vivem em áreas agrícolas foram os mais afetados". "O desenvolvimento de nossas áreas cultiváveis é provavelmente a razão para o declínio maciço dos pássaros."
Quanto aos insetos, a agroecologista Teja Tscharntke, da Universidade Georg August, em Göttingen, afirma que o fato de o declínio ter sido registrado mesmo em áreas protegidas sugere que estas estão perdendo sua função de ambiente saudável para a reprodução. Uma vez que saem do habitat protegido, os insetos não conseguem mais se reproduzir, aponta.
A Associação de Agricultores Alemães tira conclusões bem diferentes. "Considerando que o levantamento dos insetos aconteceu somente em áreas protegidas, não se podem tirar conclusões prematuras em relação à agricultura", argumentou Bernhard Krüsken, secretário-geral da associação. "O novo estudo confirma e enfatiza fortemente que ainda há uma necessidade enorme de investigação sobre a escala e as causas do desaparecimento de insetos descrito."
Somente numa coisa pesquisadores e agricultores de acordo: se a situação dos insetos não é boa, ela também é ruim para os pássaros e outros animais, até mesmo répteis. E também é ruim para as plantas, que dependem dos insetos para serem polinizadas.
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