Número de mortos em atentado em Bagdá passa de 200
4 de julho de 2016
Ato terrorista, um dos mais mortais já reivindicados pelo "Estado Islâmico", deixou mais de 300 feridos em área comercial da capital iraquiana. Nova onda de ataques seria resposta dos extremistas a perda territorial.
Anúncio
Número de mortos em atentado no Iraque sobe para mais de 200
01:08
Subiu para 213 o número de mortos no ataque a bomba em Bagdá na madrugada de domingo, afirmou o Ministério da Saúde iraquiano nesta segunda-feira (04/07). O atentado, que feriu mais de 300 pessoas, foi um dos mais mortais já reivindicados pelo grupo "Estado Islâmico" (EI) no país.
Nas primeiras horas do domingo, um suicida detonou uma série de explosivos quando passava de carro em meio a uma multidão reunida perto da sorveteria mais antiga e popular da capital iraquiana. No momento, as pessoas se aglomeravam para fazer compras na véspera do final do mês sagrado muçulmano do Ramadã. A região, Al Karrada, é predominantemente xiita.
O "Estado Islâmico" reivindicou a autoria do atentado num comunicado divulgado na internet, afirmando que o alvo foram os xiitas, classificados de hereges pelos extremistas sunitas.
Entre os ataques reivindicados neste ano pelo EI no Iraque estão uma série de atentados a bomba em Bagdá no último dia 11 de maio, que deixaram mais de 90 mortos, e outro em um mercado do distrito de Sadr City, também na capital, que deixou 28 mortos e 62 feridos em 28 de fevereiro.
A onda de violência parece ser uma resposta do grupo às perdas territoriais sofridas no país nos últimos meses. Com apoio dos bombardeios da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, as forças iraquianas vêm garantindo uma série de vitórias contra o EI desde o ano passado.
O governo recuperou das mãos dos extremistas as cidades de Tikrit, Ramadi e Fallujah – esta última declarada livre do grupo na semana passada.
No entanto, o EI vem conseguindo realizar ações de larga escala em território fora da linha de frente. As autoridades iraquianas haviam ligado a operação para retomar Fallujah a uma melhora da segurança em Bagdá, citando o grande número de fábricas de explosivos na cidade.
No entanto, detectores de bomba desacreditados e forças de segurança fragmentadas não têm conseguido proteger Bagdá. Muitos iraquianos culpam os líderes políticos pela violência. Após o ataque do domingo, o primeiro-ministro Haider al-Abadi ordenou mudanças nas medidas de segurança da capital, incluindo o abandono do uso dos detectores de bomba não funcionais.
Série de ataques
Além do atentado em Badgá que matou mais de 200 pessoas, um segundo ato na capital iraquiana deixou pelo menos cinco mortos e 16 feridos no domingo. Nenhum grupo reivindicou o atentado, perpetrado num mercado popular na região de Al Shaab, também de maioria xiita.
Nesta segunda-feira, um homem morreu ao explodir uma bomba em frente ao consulado dos Estados Unidos na cidade de Jidá, no litoral oeste da Arábia Saudita. Segundo a imprensa local, as forças de segurança do consulado conseguiram impedir que o atentado atingisse outras pessoas. Dois oficiais ficaram feridos durante a operação.
No Kuwait, que fica entre o Iraque e a Arábia Saudita, pelo menos três ataques planejados pelo "Estado Islâmico" foram frustrados pelo governo, afirmou a agência de notícias estatal Kuna nesta segunda-feira. Um deles, segundo as autoridades, tinha intenção de explodir uma mesquita xiita.
"As agências de segurança do Kuwait realizaram três operações preventivas no país e no exterior que frustraram planos do Estado Islâmico no Kuwait e prenderam vários membros do EI", diz um comunicado no Ministério do Interior divulgado pela Kuna.
EK/afp/dpa/efe/rtr
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.