Número de refugiados e deslocados atinge novo recorde
19 de junho de 2017
Total sobe para 65,6 milhões, uma alta de 300 mil em relação ao ano anterior. Síria é o país com maior número de pessoas forçadas a deixar suas residências, e Turquia, o que mais recebe refugiados.
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O número de pessoas forçadas a abandonar suas casas devido à guerra, violência ou perseguição chegou a 65,6 milhões em 2016, incluindo deslocados internos e refugiados, afirmou nesta segunda-feira (19/06) a agência das Nações Unidas para refugiados, o Acnur. O número equivale à população de um país como o Reino Unido e é um pouco superior ao do ano anterior, de 65,3 milhões.
Do total de 65,6 milhões, 22,5 milhões são refugiados, 40,3 milhões são deslocados internos e 2,8 milhões são requerentes de refúgio. A Turquia é o país que mais abriga refugiados, com 2,9 milhões.
Divulgado na véspera do Dia Mundial do Refugiado, o relatório do Acnur mostra que o conflito na Síria, iniciado em 2011, continua a gerar a maior população deslocada à força, com 12 milhões de refugiados ou deslocados internos, quase dois terços da população do país. Somente no ano passado foram registrados cerca de 825 mil novos casos de refugiados sírios.
O alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, manifestou também preocupação com a situação no Sudão do Sul, que hoje figura em terceiro lugar entre os países cujos habitantes mais procuram refúgio, atrás apenas da Síria (5,5 milhões) e do Afeganistão (2,5 milhões). Depois do catastrófico fracasso dos esforços de paz em julho, a crise de deslocamentos forçados naquele país é a que conhece o crescimento mais rápido no mundo, alertou Grandi.
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Em dezembro de 2013, dois anos após a independência, uma guerra civil eclodiu no país africano, o que resultou em dezenas de milhares de mortos e obrigou mais de 3,4 milhões de pessoas a abandonarem suas casas. Segundo o Acnur, até o fim de 2016, o número de refugiados era de 1,4 milhão, e de deslocados internos, de 2 milhões. Mas só no primeiro semestre deste ano, mais 500 mil pessoas abandonaram suas residências.
Segundo o chefe do Acnur, o aumento de apenas 300 mil de um ano para o outro pode parecer uma boa notícia, já que no ano anterior a alta havia sido de 5 milhões. Mas há 10,3 milhões de novos deslocados à força, salientou. "Não quero que ninguém tenha uma falsa impressão de estabilidade. Não há nada de estável nesses números, ainda que o total seja muito parecido com o de 2015. Dez milhões de novos deslocamentos falam de uma situação dinâmica e perigosa, porque muitos deles foram forçados a se mudar pela primeira vez", afirmou Grandi.
Como observa o relatório, 84% dos refugiados vivem em países de renda baixa ou média e um em cada três (4,9 milhões) é acolhido por países menos desenvolvidos. A Turquia acolheu 2,9 milhões de pessoas. O Líbano, mais de 1 milhão. Já no Paquistão estão vivendo 1,4 milhão de refugiados vindos, em grande parte, do Afeganistão.
"Os países mais pobres são aqueles que acolhem centenas de milhares de refugiados. É preciso reconhecer o enorme esforço que esses países fazem e levar isso em consideração quando países industrializados se opõem a receber dezenas ou centenas de pessoas", observou o alto-comissário da ONU.
MEY/lusa/dpa/ap/rtr
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Da escalada da violência no Médio Oriente e na África a crises sociais e políticas na Europa, veja como a União Europeia busca solucionar seus problemas.
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Fugindo da guerra e da pobreza
No fim de 2014, com a guerra na Síria entrando no quarto ano e o chamado "Estado Islâmico" avançando no norte do país, o êxodo de cidadãos sírios se intensificou. Ao mesmo tempo pessoas fugiam da violência e da pobreza em outros países, como Iraque, Afeganistão, Eritreia, Somália, Níger e Kosovo.
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Em busca de refúgio nas fronteiras
A partir de 2011, um grande número de sírios passou a se reunir em campos de refugiados nas fronteiras com a Turquia, o Líbano e a Jordânia. Em 2015, os campos estavam superlotados. A falta de oportunidade de trabalho e escolas levou cada vez mais pessoas a buscarem asilo em países distantes.
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Uma longa jornada a pé
Estima-se que 1,5 milhão de pessoas se deslocaram da Grécia para a Europa Ocidental em 2015 através da chamada "rota dos Bálcãs" . O Acordo de Schengen, que permite viajar sem passaporte em grande parte da União Europeia (UE), foi posto em xeque à medida que os refugiados rumavam para as nações europeias mais ricas.
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Desespero no mar
Dezenas de milhares de refugiados também se arriscaram na perigosa jornada pelo Mar Mediterrâneo em barcos superlotados. Em abril de 2015, 800 pessoas de várias nacionalidades se afogaram quando um barco que saiu da Líbia naufragou na costa italiana. Seguiram-se outras tragédias. Até o fim daquele ano, cerca de 4 mil refugiados teriam morrido ao tentar a travessia do norte da África para a Europa.
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Pressão nas fronteiras
Países ao longo da fronteira externa da União Europeia enfrentaram grandes problemas para lidar com o enorme número de pessoas que chegavam. Foram erguidas cercas nas fronteiras da Hungria, da Eslovênia, da Macedônia e da Áustria. As leis de asilo político foram reforçadas, e vários países da área de Schengen introduziram controles temporários nas fronteiras.
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Fechando as portas abertas
A catastrófica situação dos refugiados nos países vizinhos levou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, a abrir as fronteiras. Os críticos da "política de portas abertas" de Merkel a acusaram de agravar a situação e encorajar ainda mais pessoas a embarcarem na perigosa viagem à Europa. Em setembro de 2016, também a Alemanha introduziu controles temporários na sua fronteira com a Áustria.
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Acordo com a Turquia
No início de 2016, UE e Turquia assinaram um acordo prevendo que refugiados que chegam à Grécia podem ser enviados de volta para a Turquia. O acordo foi criticado por grupos de direitos humanos. Após o Parlamento Europeu votar pela suspensão temporária das negociações sobre a adesão da Turquia à UE, em novembro de 2016 a Turquia ameaçou abrir as fronteiras para os refugiados em direção à Europa.
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Que perspectivas?
Com o acirramento do clima anti-imigração na Europa, os governos ainda buscam soluções para lidar com a crise de refugiados. As tentativas de introduzir cotas para distribuí-los entre os países da UE em grande parte falharam. Por outro lado, não há indícios de que os conflitos nas regiões de onde eles vêm estejam chegando ao fim, e o número de mortos na travessia pelo mar continua aumentando.