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Religião

Número três do Vaticano vai a julgamento por pedofilia

1 de maio de 2018

Tribunal australiano determina existência de evidências suficientes em "múltiplos casos" contra o cardeal George Pell. Chefe das Finanças da Igreja é clérigo de maior patente a ser julgado por acusações de ofensa sexual.

Cardeal australiano George Pell é acusado de abusar sexualmente de várias pessoas durante décadasFoto: picture-alliance/AP Photo/J. Castro

O cardeal australiano George Pell, chefe das Finanças do Vaticano e importante aliado do papa Francisco, será julgado por várias acusações de crimes sexuais na Austrália, comunicou nesta terça-feira (1º/05) um tribunal em Melbourne. O "número três" do Vaticano será a autoridade católica de maior patente a ser julgada por acusações de ofensas de cunho sexual.

A juíza Belinda Wallington determinou que existem evidências suficientemente fortes em "múltiplos casos" para que Pell seja julgado por um júri. Por outro lado, a magistrada dispensou cerca de metade das acusações, mas o número exato não foi divulgado – segundo a agência de notícias Associated Press, o tribunal rejeitou ao menos 15 acusações.

A decisão de Wallington veio após uma audiência preliminar de quatro semanas para decidir se o caso da promotoria era forte o suficiente. Quando questionado pela juíza, o cardeal Pell declarou ser inocente. Pell, um dos conselheiros mais próximos do papa Francisco, tem consistentemente negado as acusações.

Nesta terça-feira, o Vaticano reiterou que a licença de um ano concedida ao cardeal para que se possa defender das acusações sexuais ainda está em vigor. "A Santa Sé tomou nota da decisão emitida pelas autoridades judiciais na Austrália a respeito de Sua Eminência, o cardeal George Pell. No ano passado, o Santo Padre concedeu ao cardeal Pell uma licença para que se pudesse defender das acusações. A licença ainda está em vigor", disse o Vaticano numa nota publicada em sua página na internet.

Pell foi acusado em junho do ano passado de abusar sexualmente de várias pessoas no estado australiano de Victoria, seu estado natal. As autoridades não divulgaram detalhes das acusações, exceto que os supostos abusos ocorreram num período de décadas. Não foram divulgados nem as idades das presumíveis vítimas, nem a natureza exata dos crimes – as autoridades australianas se limitaram a mencionar que existem "múltiplos querelantes".

As provas são mantidas em segredo, embora ao longo do processo tenham vazado alguns detalhes sobre as acusações, entre elas uma de quando era arcebispo de Melbourne durante a década de 1990, e outra quando era sacerdote em Ballarat, sua cidade natal, na década de 1970.

Nomeado arcebispo de Melbourne em 1996 e de Sydney em 2001, George Pell foi escolhido em 2014 pelo papa Francisco para tornar mais transparentes as finanças do Vaticano.

Quatro mil crianças australianas vítimas

O julgamento do cardeal australiano é o mais recente dos múltiplos casos de abuso sexual que abalaram a Igreja Católica nos últimos anos. Embora desminta categoricamente as acusações, Pell admitiu ter "falhado" na gestão dos casos de pedofilia no estado de Victoria, na década de 1970.

A comissão que investiga a resposta das autoridades aos casos de abuso sexual de menores concluiu, em fevereiro do ano passado, que mais de quatro mil crianças teriam sido vítimas de crimes sexuais em mais de mil instituições católicas australianas, entre 1980 e 2015.

Os dados divulgados pela comissão indicam que pelo menos 7% dos padres católicos do país teriam abusado de crianças entre 1950 e 2010. Em algumas dioceses, a percentagem de padres suspeitos de pedofilia chegou aos 15%. A Ordem dos Irmãos do Hospital de São João de Deus foi a mais grave, com 40% dos membros interrogados.

Série de abusos sexuais dentro da Igreja

O Vaticano tem enfrentado pressão para responder às denúncias de agressões sexuais. Em janeiro deste ano, numa visita ao Chile, o papa Francisco pediu perdão pelos crimes de abuso sexual de menores cometidos por membros da Igreja Católica no país. Ele mencionou sentir "dor e vergonha" diante do "dano irreparável" causado às vítimas.

Na França, em 2016, o caso do padre Bernard Preynat, suspeito de ter abusado de cerca de 70 escoteiros, manchou a imagem do cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon, que será julgado em janeiro de 2019 por não ter denunciado os crimes.

Desde 2010, também se tornaram públicas na Alemanha centenas de casos de abuso sexual de menores em instituições religiosas, inclusive no renomado Canisius College, em Berlim. Na Áustria, dois escândalos levaram o Vaticano a demitir dois ultraconservadores, o arcebispo de Viena Hans Hermann Groër, em 1995, e o bispo de Sankt-Pölten Kurt Krenn, em 2004. Por sua vez, desde 2012, a Igreja Católica na Bélgica já indenizou em quase 4,13 milhões de euros as vítimas de denúncias prescritas.

Nos Estados Unidos, entre 1950 e 2013 a Igreja Católica recebeu denúncias de cerca de 17 mil vítimas de abusos cometidas por cerca de 6.400 membros de clero entre 1950 e 1980. Em 2012, especialistas em Vaticano falaram em cem mil vítimas.

PV/efe/lusa/afp/dpa/ap

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