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Números jogam contra brasileiros na sucessão papal

Renate Krieger e Rafael Plaisant Roldão12 de fevereiro de 2013

Eleição no Vaticano é uma das mais fechadas do mundo, mas forte presença europeia entre cardeais e influência de Bento 16 sugerem que chances de o novo Papa vir da Europa são altas. Mas há brasileiros bem cotados.

Foto: picture-alliance/dpa

A Igreja Católica ensina que os conclaves não são uma ciência exata. É o Espírito Santo, como disse o próprio Bento 16, que deve guiar a escolha do novo Papa. Mas diante de uma série de escândalos, uma Europa cada vez mais secular e a expansão de movimentos protestantes, o fator político será fundamental. Olhar para os números pode ajudar a entender umas das eleições mais herméticas do mundo – e mostra que um Pontífice brasileiro é menos provável que um europeu, embora não impossível.

A renúncia de Bento 16, marcada para 28 de fevereiro, abrirá uma disputa pela sucessão capaz de mudar o curso de uma Igreja que atravessa momento delicado, minada pela perda de fiéis em seus tradicionais bastiões. E os 117 cardeais que escolherão em março o novo Papa são também seres políticos, com ambições pessoais e preferências ideológicas.

"Os votantes do conclave pertencem a um colégio muito internacional. Nesse sentido, a Igreja pensa no conjunto de todas as necessidades. E muitas vezes a escolha é em função também disso. Fazer conjecturas é tão difícil que não se pode calcular", disse à Deutsche Welle o cardeal brasileiro dom João Braz de Aviz, de 66 anos.

Italianos são 25% dos cardeais

Na teoria, qualquer homem batizado e não casado pode se tornar Papa, mas nunca um não cardeal foi eleito. Entre os nomes especulados para suceder Bento 16, dois são brasileiros: um é o próprio dom João Braz de Aviz. O outro, com ainda mais força, é dom Odilo Scherer, de 63 anos, atual arcebispo de São Paulo.

Os dois nomes, no entanto, teriam que convencer um colégio majoritariamente europeu. Dos 117 cardeais, 62 são do Velho Continente, onde estão 25% dos católicos do mundo. A América Latina, apesar de abrigar 42% dos fiéis, tem apenas 19 cardeais. A desproporção pode acabar pesando a balança para uma escolha mais conservadora, sobretudo numa Europa em processo de descristianização.

Cardeal Angelo Scola, o nome forte entre os italianosFoto: picture-alliance/dpa

Ao mesmo tempo em que no Vaticano há uma ala que defende mais atenção para o Novo Mundo e sua grande população de católicos, muitos cardeais são partidários, da mesma forma que Bento 16, de uma Igreja mais enxuta, voltada para os fiéis mais devotos. Estes acreditam que muitos dos católicos latino-americanos não são tão atuantes como deveriam. Em janeiro do ano passado, Bento 16 nomeou 22 novos cardeais. Deles, 16 eram europeus e apenas um latino-americano, no caso João Braz de Aviz.

Numa avaliação puramente matemática, o próximo Papa seria da Itália, como foram todos os outros até o polonês João Paulo 2º, nos últimos 500 anos. Vinte e oito cardeais são italianos e, a seu favor, costuma estar a Cúria Romana, órgão administrativo da Santa Sé e que é dominada por seus compatriotas.

O papado de Bento 16 deve ficar marcado pelas denúncias de pedofilia, polêmicas dos tempos de seus antecessores, mas que vieram à tona de forma mais abrangente em sua gestão.

Por isso, muitos especialistas acreditam que a escolha dos cardeais será por alguém com maior habilidade no trato com os fiéis, um Papa capaz de levar a Igreja a atingir outros públicos, em particular jovens europeus, que parecem cada vez mais desinteressados pela religião, e também a América Latina e a África, onde os movimentos evangélicos estão ganhando força.

Idade como fator

Em seu discurso de renúncia, Bento 16, de 85 anos, sugeriu que a Igreja Católica precisa de um Papa com maior vigor. Entre os mais jovens estão quase todos os italianos, mas também dom Odilo Scherer. Ele é tido como da ala mais conservadora no Brasil, mas defende políticas mais centristas numa comparação com Bento 16 e, num contexto internacional, é de uma corrente mais moderada.

Entre os principais concorrentes do brasileiro está o cardeal Angelo Scola, poderoso arcebispo de Milão. Teólogo conservador, com interesse em bioética e relações entre católicos e muçulmanos, tem 71 anos, é tido como carismático e possui boas relações com políticos italianos.

Foto do filipino Luis Antonio Tagle ao lado de uma imagem do Papa: carismáticoFoto: Reuters

O cardeal canadense Marc Ouellet seria o nome favorito de Bento 16, que o nomeou para chefiar a influente Congregação para os Bispos, e o cardeal Peter Appiah Turkson, de Gana, é considerado o nome mais forte na África.

Outro nome especulado é o argentino Leonardo Sandri, que serviu como secretário de Estado no papado de João Paulo 2º. Ele seria, segundo especialistas, uma solução para lidar com a complicada burocracia vaticana e, ao mesmo tempo, uma aproximação com a América Latina. Também aparecem entre os prováveis sucessores o austríaco Christoph Schönborn, o filipino Luís Antônio Tagle, famoso pelo carisma, e o americano Timothy Dolan, tido como a voz do catolicismo nos EUA.

Autores: Renate Krieger e Rafael Plaisant Roldão
Revisão: Alexandre Schossler

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