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Na África, Lula defende mais protagonismo do Sul Global

17 de fevereiro de 2024

Em discurso na Cúpula da União Africana (UA), presidente criticou FMI e Banco Mundial e reafirmou apoio à inclusão de países africanos de forma permanente no G20. Petista também se reuniu com premiê palestino.

Lula e primeiro-ministro da Etiópica, Abiy Ahmed, conversam com um participante da cúpula
"As lutas da África têm muito em comum com os desafios do Brasil", disse Lula no eventoFoto: AMANUEL SILESHI/AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a reiterar neste sábado (17/02) que o mundo precisa de uma reorganização imediata das instituições multilaterais, com mais presença e unidade dos países do Sul Global.

A declaração foi feita em Adis Abeba, na Etiópia, durante a Cúpula da União Africana (UA), onde Lula também destacou a dívida histórica do Brasil com o continente devido à escravidão, propôs iniciativas conjuntas para a proteção das florestas tropicais e defendeu um Estado palestino reconhecido pela ONU.

"As lutas da África têm muito em comum com os desafios do Brasil. Nós, africanos e brasileiros, devemos traçar nossos próprios caminhos na ordem internacional emergente", disse em seu discurso.

O presidente voltou a defender a presença da UA como membro permanente do G20, mas disse que "ainda é necessário incluir mais países do continente nesse grupo".

"O Sul global está se constituindo em parte incontornável da solução para as principais crises que afligem o planeta. Crises que decorrem do modelo concentrador de riquezas e que atingem sobretudo os mais pobres e, entre estes, os imigrantes", declarou.

Para Lula, a alternativa aos efeitos negativos da "globalização neoliberal não virá da extrema-direita racista e xenófoba".

"O desenvolvimento não pode continuar sendo privilégio de poucos. Só o projeto social inclusivo nos permitirá erigir sociedades prósperas, livres, democráticas e soberanas. Não haverá estabilidade nem democracia com fome e desemprego", disse.

O petista voltou a criticar organizações internacionais, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que, afirmou, "muitas vezes agravam as crises que afirmam estar resolvendo§ e obrigam os países em desenvolvimento a pagar suas dívidas em vez de investir em programas de educação ou saúde.

"Essas instituições que foram criadas há muito tempo não nos ajudam mais. Pelo contrário: estão engolindo nossos países. É por isso que temos uma agenda comum para defender", disse Lula.

Encontro com premiê palestino

Na fala, Lula também lamentou a morte de civis na Faixa de Gaza, ressaltando que "não há solução militar" para o conflito. "É o momento da política e da diplomacia".

Para Lula, a solução é "avançar rapidamente na criação de um Estado palestino livre e membro de pleno direito das Nações Unidas".

Lula evitou tomar lado no conflito: condenou os ataques do grupo radical islâmico Hamas a Israel, mas ponderou que a reação do Estado judaico "é desproporcional".

"Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses, e demandar a liberação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza – em sua ampla maioria mulheres e crianças – e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população", destacou Lula.

Antes do discurso, Lula teve um encontro bilateral com o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina, Mohammad Shtayyeh, quando o presidente brasileiro reafirmou a necessidade do cessar-fogo e do envio de ajuda humanitária urgente.

De acordo com Shtayyeh, o conflito na Faixa de Gaza já deixou 30 mil mortos, 70 mil feridos e estima-se que 9 mil pessoas estão desaparecidas sob escombros de casas e prédios destruídos com os ataques.

Preservação de florestas tropicais

Em sua 21ª visita ao continente africano, Lula também reiterou parcerias no combate à fome, na promoção da soberania em saúde e o enfrentamento de doenças tropicais negligenciadas, tendo como meta a ampliação do acesso a medicamentos para evitar o "apartheid" de vacinas ocorrido durante a pandemia de covid-19.

Outro ponto destacado foi os esforços para preservar as duas maiores florestas tropicais do mundo, a Amazônica e a do Congo.

"Os instrumentos internacionais hoje existentes são insuficientes para recompensar de forma eficaz a proteção das florestas, sua biodiversidade e os povos que vivem, cuidam e dependem desses biomas", disse o petista.

A cúpula da UA termina neste domingo, reunindo dezenas de chefes de Estado e de Governo da África, além da participação de líderes internacionais como o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abulgeit, entre outros.

Na sexta-feira, Lula se reuniu com o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, quando os dois analisaram as relações bilaterais, após a recente entrada da Etiópia no grupo de economias emergentes Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Antes, o presidente brasileiro esteve no Egito. 

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