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Na Alemanha, integração começa na escola

Kate Brady md
21 de agosto de 2019

O início do novo ano letivo no país ocorre em meio a debate sobre se as escolas devem barrar crianças que não falam alemão. Unidade de ensino básico berlinense mostra como é possível a acolhida de filhos de imigrantes.

Criança sentada numa sala de aula, com a mão no queixo, vista por trás. No fundo, a palavra "deutsch", outros alunos e uma mulher de véu islâmico
Alunos de famílias de imigrantes costumam ter mais dificuldades em entender os professoresFoto: picture-alliance/ZB/P. Pleul

O início do novo ano letivo na Alemanha – que ocorre em agosto, na maioria dos Estados –, coincide desta vez com um debate nacional sobre se crianças em idade escolar devem ser impedidas de entrar na primeira série por não terem proficiência na língua alemã.

"Como em qualquer escola, o desenvolvimento de cada criança é diferente. Muitos dos nossos alunos só foram expostos à sua língua nativa antes de chegarem a nós", ressalta Karina Jehniche, diretora da escola Christian Morgenstern, em Berlim. Ela se diz forte defensora de se preparar melhor as crianças antes que elas entrem na escola, mas é contra medidas genéricas.

Batizada com o nome de um poeta e tradutor alemão, a unidade de ensino básico localizada no bairro de Spandau tem cerca de 570 alunos, com idades entre seis e 12 anos. Eles vêm de 42 nações diferentes, incluindo Turquia, Bulgária, Síria, Grécia e Nigéria. Nas primeiras séries, mais de 80% das crianças são filhos de migrantes, e muitos deles iniciam o ensino fundamental com pouca ou nenhuma habilidade em alemão.

Jehniche destaca que muitas crianças frequentam a pré-escola antes de iniciar o ensino fundamental, mas que isso nem sempre é regra, já que em algumas cidades há escassez de oferta de ensino pré-escolar.

Na Christian Morgenstern, cada turma do primeiro ano tem cerca de 20 alunos, sendo acompanhada por dois professores e um assistente. Entre os instrutores, estão poloneses, árabes e falantes de turco. Alguns deles conhecem a sensação de ir à escola enquanto ainda se aprende alemão como segunda língua.

Brincadeiras com palavras são desafio para alguns, mas também chance de integração dos novos colegas de turmaFoto: picture alliance/dpa/P. Steffen

As crianças são encorajadas a falar apenas alemão na escola. Aquelas que apresentam dificuldade recebem lições adicionais. Mas encontrar tempo para oferecer essas lições continua sendo um desafio. "Quanto mais pudermos atender às necessidades individuais das crianças, melhor", frisa Jehniche.

O debate sobre se crianças que não dominam o alemão devem ser barradas nas escolas foi estimulado por comentários de Carsten Linnemann, deputado da conservadora União Democrata-Cristã (CDU), o partido da chanceler federal Angela Merkel. "Uma criança que mal fala e entende alemão não tem que estar numa escola primária", afirmou o político, em entrevista ao jornal Rheinische Post. Ele propõe que nesses casos, as crianças recebam educação pré-escolar adicional antes de começarem a primeira série.

Os comentários de Linnemann provocaram uma reação negativa da mídia alemã, assim como de outros membros da CDU. Mas uma pesquisa do instituto Insa, que entrevistou 2.060 cidadãos, revelou que 50,2% concordam com a declaração de Linnemann, enquanto 32,1% discordam.

A questão também dividiu os pedagogos. Alguns apoiam que as crianças sejam submetidas a testes de proficiência do idioma mais rígidos antes de iniciarem o ensino fundamental. Outros destacam a importância de se integrar as crianças estrangeiras nas escolas alemãs o mais rápido possível, a fim de aumentar as habilidades de linguagem.

Apoio na sala de aula

Na sala de aula da escola Christian Morgenstern, a professora faz uma atividade lúdica simples para ajudar as crianças de uma nova turma da primeira série a aprenderem os nomes umas das outras. Na brincadeira, fica imediatamente claro quais alunos falam alemão em casa.

Algumas das crianças são compreensivelmente tímidas em seu novo ambiente, mas outras lutam até para começar a pronunciar as palavras do jogo. Os professores repetem gestos para ajudar as crianças a entender a tarefa.

Para a diretora de escola Karina Jehniche, o fato de tantas crianças começarem a escola sabendo pouco alemão deve ser visto como uma oportunidadeFoto: DW/K. Brady

As crianças permanecem pacientes e tolerantes com seus colegas de classe que não falam tão bem o idioma. Alguns se oferecem para ajudar. "Eu posso ajudar você a dizer isso, se quiser", diz uma menina pequena para um colega de classe que vai afundando lentamente em sua cadeira. Toda a turma se une para apoiar.

Outro menino, que de acordo com seus professores não frequentava creche alemã, sorri com orgulho depois de conseguir dizer uma rima em alemão – e apenas alguns segundos depois de um surto de pânico o levar às lágrimas.

O início do ano letivo também pode ser difícil nas classes mais adiantadas, já que às vezes as crianças voltam de férias em que quase não falaram alemão.

E o nível variado de habilidades no idioma alemão não representa apenas um problema para os professores em sala de aula. A comunicação com os pais das crianças também pode ser um desafio. Jehniche explica que a escola reuniões especiais para descobrir as expectativas dos pais e também para que eles saibam o que a escola espera deles. A equipe de professores incentiva os pais que não falam a língua a se matricularem em um curso de alemão.

"As crianças sírias, por exemplo, parecem aprender alemão rapidamente, e muitas vezes descobrimos que os pais também estão aprendendo alemão", conta Jehniche.

Depois dos Estados Unidos, a Alemanha é um dos destinos de migração mais populares do mundo. Jehniche acredita que o país deve se acostumar a essa tendência. "Essas pessoas não vão a lugar nenhum", diz ela sobre os imigrantes na Alemanha. "E a maneira como queremos avançar é uma questão de mentalidade", completa.

"O fato de tantas crianças, como aqui, começarem a escola sabendo pouco ou nenhum alemão não deve ser visto como algo negativo", sublinha. "Isso deve ser visto como uma oportunidade. O que nós incentivamos aqui é um ambiente muito aberto."

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