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Na Alemanha, população migra das cidades para zona rural

17 de setembro de 2023

Com o inchaço dos centros urbanos, o campo está se tornando um deserto. Tendência ocorre em vários países europeus. Contudo em algumas cidades da Alemanha, cidadãos fazem o caminho inverso. Quais serão as consequências?

Estrada e zona rural com placa "Bando de caronas" em primeiro plano
"Bando de caronas": comunidades rurais procuram suprir as deficiências do transporte com soluções criativasFoto: Norbert Fellechner/BildFunkMV/imago images

 

Estruturalmente debilitadas: é o que se diz das zonas rurais, onde, literalmente, nada acontece. Nos vilarejos onde moram principalmente aposentados, não há mais empregos, padarias, mercearias, consultórios médicos ou corpo de bombeiros. A população das cidades do interior de toda a Europa está em declínio com cada vez mais cidadãos migrando para centros urbanos.

Entre 2015 e 2020, em 87,4% das 406 áreas predominantemente rurais na União Europeia a evasão populacional foi maior do que o influxo. Sobretudo o número de jovens e indivíduos em idade ativa diminuiu de forma acentuada. Por outro lado, a população acima dos 65 anos cresceu, em média, 1,8% por ano.

As consequências desse cenário são graves. As cidades estão cada vez mais superlotadas, e o custo de vida, cada vez mais alto. A oferta de moradia é escassa e por isso, aumenta a pressão para construir e asfaltar todas as áreas verdes ainda existentes. Enquanto isso, no campo sobram vagas de emprego e cresce a sensação de ter sido deixado para trás.

Queda da população no Leste alemão

Durante 30 anos, a migração dentro do território alemão fluiu numa única direção: do interior para as cidades. Depois da reunificação da Alemanha em 1990, esse movimento ocorreu principalmente nos estados do leste do país, onde as zonas rurais foram despovoadas. As populações de cidades como Leipzig, Munique e Berlim cresceram mais de 20% entre 2000 e 2020.

Mas essa tendência parece ter chegado ao fim, como mostram dados levantados pelos governos federal e estaduais entre 2008 e 2021. Enquanto estudantes, trainees e estrangeiros continuam a seguir para os centros urbanos, desde 2017 contingentes cada vez maiores de cidadãos entre 30 e 49 anos, com filhos, e jovens profissionais na faixa de 25 a 29 anos de idade têm optado pelo interior.

Menor custo e mais área verde

O Instituto de Berlim de População e Desenvolvimento, que estuda as mudanças demográficas e suas consequências, constatou que agora as áreas rurais atraem cada vez mais habitantes.

Em parceria com a Fundação Wüstenrot, o think tank analisou um banco de dados demográficos e avaliou os impactos dessa mudança no padrão de migração na Alemanha. Em 2021, cerca de dois terços das comunidades rurais tiveram influxo de população, afirma o sociólogo Frederick Sixtus. Há uma década, isso acontecia apenas em um quarto desses territórios.

Ao longo de uma semana, os pesquisadores visitaram seis comunidades rurais em toda a Alemanha que registraram aumentos populacionais significativos e entrevistaram diversos moradores. O estudo resultante se intitula Neu im Dorf – wie der Zuzug das Leben auf dem Land verändert (Novo na aldeia – como novos habitantes transformam a vida no campo).

"Escolhi me mudar para o interior porque aqui a comunidade é mais unida", explicou um morador recém-chegado. "Vou ser sincero, para quem quer construir, o custo é uma questão bem central. Mas no interior é bem diferente".

Os pesquisadores constataram nas entrevistas que quem se muda para o campo procura, acima de tudo, moradia mais barata, mais contato com a natureza e menos poluição.

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Conexão com internet e creches

Com a possibilidade de trabalhar de casa em alguns dias da semana, ou integralmente, mais gente se dispõe a aceitar os trajetos mais longos até os centros urbanos.

"A necessidade de morar no mesmo lugar em que se trabalha não existe mais", explica Sixtus. "A pandemia de covid-19 reforçou essa tendência". Por isso, o principal para os recém-chegados é que haja a oferta de infraestrutura, sobretudo a conexão rápida de internet.

"Tinha que ter escola e jardim de infância. Mesmo que fosse o terreno mais bonito e mais barato do mundo, isso teria sido um obstáculo", comenta outro recém-chegado.

Os pesquisadores também examinaram o impacto da chegada de novos moradores sobre os habitantes mais antigos. "Não há uma receita para se ter uma comunidade funcional", diz Catherina Hinz, diretora do Instituto de Berlim. "Os recém-chegados e os moradores mais antigos precisam trabalhar ativamente para encontrar a melhor forma de convivência."

Comunidade de Morschenich, no estado Renania do Norte VestfáliaFoto: Daniela Natalie Posdnjakov/DW

Quem cresceu no campo geralmente sabe o que esperar da vida no interior, quando volta das cidades. Mas acostuma-se ao estilo de vida comunitário dos vilarejos pode levar tempo.

"No início não foi fácil, todo mundo cuida de todo mundo. Isso não acontece na cidade grande. Lá você é mais um anônimo", comenta um recém-chegado. "Todo mundo se cumprimenta na rua", observa outro. "É uma sensação boa, mas também é preciso se acostumar."

Virada demográfica não chegou

Os prefeitos têm um papel central para as perspectivas de longo prazo. A tendência demográfica continua sendo problemática mesmo em lugares onde há mais influxo do que evasão lá as mortes seguem superando os nascimentos. Cerca de 3.500 municípios e associações municipais pela Alemanha registraram chegada de novos habitantes entre 2018 e 2020, mas, mesmo assim, em cerca de um terço das cidades a população minguou.

O estudo conclui que as cidades precisam ter infraestrutura adequada aos idosos. Não deve haver apenas condomínios de moradias individuais nas periferias urbanas, onde os recém-chegados basicamente formam um grupo fechado.

A construção de blocos de apartamentos – o que é incomum na zona rural é uma alternativa de moradia para os mais idosos, para cujas casas os mais jovens podem se mudar, quando elas estiverem desocupadas.

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