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Na América Latina, Merkel prepara terreno para o G20

Fernando Caulyt
8 de junho de 2017

Após reunião do G7 marcada por divisões, chanceler visita Argentina e México, segunda e terceira maiores economias da região, em busca de pavimentar caminho para cúpula de julho, em Hamburgo. Em crise, Brasil é evitado.

Argentinien Bundeskanzlerin Angela Merkel & Präsident Mauricio Macri
Merkel é recebida por Macri na Casa RosadaFoto: Reuters/M. Brindicci

O governo alemão insiste que a viagem não consiste em formar qualquer tipo de aliança contra a retórica protecionista do presidente americano, Donald Trump. Oficialmente, Argentina e México são simplesmente os últimos países que faltavam ser visitados pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, antes da cúpula do G20 em julho, em Hamburgo.

Mas esses países, sim, poderiam estar ameaçados por políticas protecionistas do governo Trump. Sem mencionar a perspectiva da construção de um muro na fronteira com o México, um pesadelo de política externa e doméstica para o presidente Enrique Peña Nieto. E, apesar de os alemães comprarem um quarto das exportações de carne bovina da Argentina, o presidente do país, Mauricio Macri, teme que os tremores originados em Washington se transformem em devastadores terremotos ao atingirem Buenos Aires.

O ex-prefeito de Buenos Aires ganhou respeito com Merkel por ter começado a retirar o país da desordem econômica de 2001. Ele conseguiu um acordo com fundos de investimento depois de as presidências anteriores terem falhado, recuperando o acesso da Argentina aos mercados financeiros. No entanto, essa "história de sucesso" custou um alto preço para os cidadãos.

"Minha primeira visita como chanceler acontece no momento em que o presidente Macri conseguiu reabrir o país para os mercados financeiros", afirmou Merkel. "Nós acreditamos que, além das questões políticas, podemos apoiar o desenvolvimento econômico. A Argentina precisa de infraestrutura, precisa se modernizar, e a Alemanha pode ser um bom parceiro."

Antes de se encontrar com Macri na Casa Rosada, Merkel visitou a sinagoga Templo de Libertad, em Buenos Aires, em reconhecimento ao papel da Argentina em oferecer refúgio aos judeus na Segunda Guerra. Hoje, a capital argentina é o lar da maior comunidade judaica da América Latina, com cerca de 250 mil pessoas. Ela também prestou homenagem às vítimas da ditadura no país, de 1976 a 1983, durante a qual entre 7 mil e 30 mil pessoas foram mortas.

Brasil de fora

A próxima reunião do G20 provavelmente enfatizará os "valores comuns" que estavam ausentes na recente reunião do G7, na Sicília. Ainda assim, todas as economias sentadas à mesa – da China ao Japão, passando pelos países da União Europeia e, certamente, da América Latina – estarão observando cada movimento de Trump. E eles estarão assistindo também como Merkel – anfitriã do G20 – reage.

Merkel discursa no Templo LibertadFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

A chanceler federal alemã tem que gerenciar as expectativas da segunda e terceira maiores economias da América Latina sobre quanto poder ela exerce como líder da maior economia da Europa. O site Politico e outros apelidaram Merkel de "a líder do mundo livre".  E ela tem que carregar esse fardo – goste ou não.

Merkel está cuidadosamente evitando o contato com o país que – em qualquer outro momento – teria sido o parceiro natural para ser visitado. Brasil é o único país latino-americano com um acordo de comércio direto com a Alemanha. Ela não quer ser atraída para o escândalo de corrupção em torno do presidente Michel Temer. Uma visita da chanceler federal alemã em um clima político tão tóxico pode ser vista como estar tomando partido de um dos lados. Agora, o objetivo é agendar uma reunião na Alemanha antes do G20.

Questionado pela DW por que Merkel não visitará o Brasil, o gabinete do deputado alemão Andreas Nick, correligionário da chanceler no partido CDU e que integra a Comissão de Assuntos Exteriores do Bundestag (Parlamento), afirmou que a escolha dos países se deu pelo fato de a Argentina ser o próximo país-presidente do G20 a partir do final do ano. E também pelo objetivo de Merkel de se informar no México sobre a renegociação do Nafta – acordo que engloba os mexicanos, canadenses e americanos – e finalizar o Ano da Alemanha no México.

"Uma pergunta semelhante – por que não ir – poderia ser oferecida para outros países da região como Colômbia, Venezuela... Infelizmente, a chanceler federal alemã deve sempre fazer uma escolha", frisou o gabinete do deputado.

Aparando arestas

Na reunião do G20, a chanceler federal alemã terá que provar se ela consegue reunir as maiores economias do mundo para renovar o compromisso em prol do livre-comércio. Igualmente importante para Merkel é uma série de iniciativas que a presidência do G20 quer estabelecer como "obrigações" futuras na agenda: mulheres, digitalização e cuidados de saúde global, além de um compromisso com uma agenda de desenvolvimento para a África.

A última ideia acabou não recebendo apoio no G7 – um fracasso para Merkel, que está empenhada em combater a migração ao melhorar as condições dos imigrantes potenciais diretamente em seus países de origem.

Em Hamburgo, a dinâmica "seis contra um" que o mundo viu na reunião do G7 se transformar num cenário "19 contra um" não é uma opção. Se necessário, questões essenciais como as alterações climáticas podem ser deixadas de lado na declaração final.

Outro objetivo de Merkel será o de tranquilizar um governo americano eleito, em parte, por causa das afirmações de Trump de que o resto do mundo enganou os EUA com acordos ruins. Ela vai tentar transmitir a ideia de que sua visita de três dias à parte sul de um potencial muro fronteiriço não a coloca do outro lado desta divisão.

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