Estado sedia em São Francisco a Cúpula Global de Ação Climática e anuncia lançamento de satélite que vai ajudar a frear emissões nocivas ao clima. Povos indígenas brasileiros são destaque no encontro.
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Enquanto o furacão Florence fazia suas primeiras vítimas e causava destruição na costa leste dos Estados Unidos, nesta sexta-feira (14/09), a conferência do clima organizada pelo governo da Califórnia, na costa oposta, chamava atenção para o que a ciência previu há mais de uma década: as mudanças climáticas trariam furacões mais frequentes e mais fortes.
A Global Climate Action Summit (Cúpula Global de Ação Climática) reuniu em São Francisco representantes de vários setores da sociedade e fez uma série de anúncios que, na prática, levam a uma redução das emissões dos gases de efeito estufa, apontados como causadores das mudanças climáticas.
Um reforço cientifico para monitorar o fenômeno foi anunciado ao fim da conferência por Jerry Brown, governador da Califórnia. "Com a ciência sofrendo ataques e o avanço das mudanças climáticas, vamos lançar o nosso próprio satélite”, justificou. "Vai ajudar governos, empresas e proprietários de terras a identificar e frear emissões destrutivas com uma precisão sem precedentes, numa escala nunca vista antes."
Desde que Donald Trump chegou ao poder, em 2017, a Califórnia se tornou um núcleo de resistência aos retrocessos ambientais liderados pelo presidente. Foi ele que tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, esforço global para limitar o aumento da temperatura a 2°C até o fim do século em relação à era pré-industrial.
Ao longo de dois dias de conferência, não faltaram críticas a Trump. "As pessoas são bem mais espertas que ele", disse John Kerry, ex-secretário de Estado do governo Barack Obama, sobre o fato de Trump negar as mudanças climáticas. Um dia antes, Brown chamou o presidente de "mentiroso, criminoso", por incentivar a indústria do carvão e sabotar ações com o foco na diminuição da poluição.
A rebelião verde
Para Lou Leonard, do WWF-EUA, a reunião em São Francisco trouxe esperança – apesar de Trump. "Quando o presidente saiu do Acordo de Paris, 1.200 líderes disseram 'nós continuamos'. Agora, são mais de 3.600: eles vêm de cidades, universidades, estados", disse à DW.
Um dos exemplos está em Los Angeles, maior cidade da Califórnia e uma das maiores do mundo, onde as emissões, a partir de 2018, chegaram ao limite – agora só devem cair. A meta foi atingida por outras 26 cidades, seis delas são americanas, nenhuma do Brasil.
"Trump disse que está fora do Acordo de Paris, mas dizemos que estamos dentro", afirmou Garcetti em entrevista para DW. "Representamos os americanos, empresas, universidades. Todos vivem em cidades e estão sentido os impactos das mudanças climáticas: fogos florestais, secas. Não temos o luxo de criar um problema e não resolvê-lo."
A devastação causada pelo fogo na Califórnia
Chamas de 22 incêndios já consumiram 69 mil hectares no norte do estado americano. Fogo causou ao menos 29 mortes e deixou 180 feridos.
Foto: Reuters/M. Blake
Fogo varre regiões
As chamas devastam a Califórnia desde a noite de domingo. Os focos de incêndio eclodiram quase simultaneamente numa ampla faixa do norte do estado americano e cresceram exponencialmente. O fogo se alastrou por propriedades de vinícolas e atingiu também cidades rurais e pequenos condados. A foto mostra a destruição na cidade de Santa Rosa.
Foto: Reuters/S. Lam
Vento dá trégua
De acordo com o Departamento Florestal e de Proteção contra Incêndios da Califórnia, em dois dias, as chamas já consumiram mais de 69 mil hectares. Mais de 1,6 mil bombeiros trabalham para conter os incêndios, como em Orange (foto). Desde terça-feira, temperaturas amenas e diminuição da intensidade dos ventos contribuíram para que o trabalho de contenção do fogo progredisse.
Foto: Reuters/M. Blake
Mortos e feridos
Os incêndios deixaram ao menos 29 mortos e 180 feridos. As mortes ocorreram nos condados de Sonoma, Mendocino, Napa (foto) e Yuba. Há ainda relatos mais de 150 pessoas desaparecidas.
Foto: Getty Images/AFP/J. Edelson
Rastro de destruição
As autoridades afirmam que mais de 3,5 mil edifícios, entre habitações e estabelecimentos comerciais, foram destruídos pelas chamas dos 22 incêndios diferentes que se alastraram por nove condados do norte da Califórnia. Na imagem, bombeiro tenta conter incêndio na região da via El Estribo.
Foto: picture-alliance/Zuma/J. Gritchen
Região mais atingida
O incêndio mais devastador atingiu a região da cidade de Santa Rosa, de 175 mil habitantes, onde onze pessoas morreram. Os moradores tiveram poucos minutos para deixar suas casas, mais de 570 edifícios foram consumidos pelas chamas.
Foto: Reuters/S. Lam
Retira de emergência
Milhares de pessoas tiveram que deixar a região. Somente no condado de Sonoma, ao menos 25 mil foram retiradas, e destas 5 mil estão em abrigos. Já no município de Calistoga, em Napa, metade dos seus 5 mil habitantes receberam ordens para deixar suas casas. Diante da dimensão das chamas, como próximo a Lompoc (foto), os bombeiros disseram que a contenção do fogo deve levar ainda dias ou semanas.
Foto: Reuters/Twitter/FLYING90
Estado de emergência
O governador da Califórnia, Jerry Brown, declarou estado de emergência. "Esses incêndios destruíram estruturas e continuam a ameaçar milhares de casas, exigindo a retirada de milhares de moradores", escreveu Brown na declaração. Santa Rosa (foto) é uma das cidades mais atingidas.
Foto: Reuters/S. Lam
Causas desconhecidas
As causas do incêndio são desconhecidas e estão sendo investigadas. Autoridades afirmaram que incêndios florestais são comuns na Califórnia em outubro, mas relataram estranhar a erupção de tantos focos ao mesmo tempo. De acordo com o Departamento Florestal e de Proteção contra Incêndios da Califórnia, 98% dos incêndios são provocados por pessoas. Foto mostra bombeiro em Orange.
Foto: Reuters/M. Blake
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Al Gore, ambientalista que já foi vice-presidente dos Estados Unidos, afirmou que as "evidências científicas estão na cara". "No último mês, nós ultrapassamos todos os recordes de incêndios florestais na Califórnia", apontou. Com o aumento da temperatura e diminuição das chuvas, as florestas ficam mais secas e vulneráveis aos incêndios.
Em 2017, as emissões dos Estados Unidos, o segundo maior poluidor atrás da China, chegaram ao nível mais baixo dos últimos 25 anos "sem qualquer ajuda de Washington", lembrou Michael Bloomberg, enviado especial da ONU para Ação Climática.
"Os EUA já cumpriram metade do compromisso que fizemos em Paris. As cidades estão ajudando a tornar isso possível e garantirão o resto, não importa o que aconteça em Washington", afirmou.
Florestas e força-tarefa
Na Califórnia, povos indígenas brasileiros foram destaque no palco. "As florestas são importantes para regular o clima. E somos nós que fazemos a preservação”, disse para a plateia Francisca Oliveira Costa Arara, da Organização dos Professores Indígenas do Acre.
Um estudo recente publicado pelo RRI (Right and Resources Initiative) calculou que povos indígenas gerenciam quase 300 bilhões de toneladas de carbono em seus territórios – o equivalente a 33 vezes as emissões globais de energia em 2017.
Até 2022, 459 milhões de dólares serão destinados a florestas, direitos e terras indígenas para combater as mudanças climáticas. O dinheiro virá de nove fundações, que participaram da conferência.
Uma carta de princípios para aumentar a colaboração e diminuir os conflitos com povos indígenas também foi apresentada por 34 governadores de 9 países. O Acre foi o único do Brasil a participar da reunião do Força-Tarefa dos governadores para o Clima e Florestas, criado há oito anos. Ao todo, nove estados brasileiros fazem do grupo.
"Os indígenas tinham 90% de alcoolismo entre os homens nas aldeias. Hoje são menos de 5%. Houve uma retomada da cultura, um sentimento de que a vida pode ser próspera", justifica Tião Viana, governador, em entrevista à DW.
Entre os estados da Amazônia, o Acre é citado como o que mais dialoga com as populações indígenas, segundo Francisca Arara. "Ainda não resolvemos todos os problemas. Mas, pelo menos, conseguimos sentar na mesa com o governo e discutir, buscar soluções", afirmou.
Nádia Pontes viajou a São Francisco, na Califórnia. a convite da Climate and Land Use Alliance
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Três quartos dos gases estufa são produzidos pela combustão de carvão, petróleo e gás natural; o resto, pela agricultura e desmatamento. Como se podem evitar gases poluentes? Veja dez dicas que qualquer um pode seguir.
Foto: picture-alliance/dpa
Usar menos carvão, petróleo e gás
A maioria dos gases estufa provém das usinas de energia, indústria e transportes. O aquecimento de edifícios é responsável por 6% das emissões globais de gases poluentes. Quem utiliza a energia de forma eficiente e economiza carvão, petróleo e gás também protege o clima.
Foto: picture-alliance/dpa
Produzir a própria energia limpa
Hoje, energia não só vem de usinas termelétricas a carvão, óleo combustível e gás natural. Há alternativas, que atualmente são até mesmo mais econômicas. É possível produzir a própria energia e, muitas vezes, mais do que se consome. Os telhados oferecem bastante espaço para painéis solares, uma tecnologia que já está estabelecida.
Foto: Mobisol
Apoiar boas ideias
Cada vez mais municípios, empresas e cooperativas investem em fontes energéticas renováveis e vendem energia limpa. Este parque solar está situado em Saerbeck, município alemão de 7,2 mil habitantes que produz mais energia do que consome. Na foto, a visita de uma delegação americana à cidade.
Foto: Gemeinde Saerbeck/Ulrich Gunka
Não apoiar empresas poluentes
Um número cada vez maior de cidadãos, companhias de seguro, universidades e cidades evita aplicar seu dinheiro em companhias de combustíveis fósseis. Na Alemanha, Münster é a primeira cidade a aderir ao chamado movimento de desinvestimento. Em nível mundial, essa iniciativa abrange dezenas de cidades. Esse movimento global é dinâmico – todos podem participar.
Foto: 350.org/Linda Choritz
Andar de bicicleta, ônibus e trem
Bicicletas, ônibus e trem economizam bastante CO2. Em comparação com o carro, um ônibus é cinco vezes mais ecológico, e um trem elétrico, até 15 vezes mais. Em Amsterdã, a maior parte da população usa a bicicleta. Por meio de largas ciclovias, a prefeitura da cidade garante o bom funcionamento desse sistema.
Foto: DW/G. Rueter
Melhor não voar
Viajar de avião é extremamente prejudicial ao clima. Os fatos demonstram o dilema: para atender às metas climáticas, cada habitante do planeta deveria produzir, em média, no máximo 5,9 toneladas de CO2 anualmente. No entanto, uma viagem de ida e volta entre Berlim e Nova York ocasiona, por passageiro, já 6,5 toneladas de CO2.
Foto: Getty Images/AFP/P. Huguen
Comer menos carne
Para o clima, também a agricultura é um problema. No plantio do arroz ou nos estômagos de bois, vacas, cabras e ovelhas é produzido o gás metano, que é muito prejudicial ao clima. A criação de gado e o aumento mundial de consumo de carne são críticos também devido à crescente demanda de soja para ração animal. Esse cultivo ocasiona o desmatamento de florestas tropicais.
Foto: Getty Images/J. Sullivan
Comprar alimentos orgânicos
O óxido nitroso é particularmente prejudicial ao clima. Sua contribuição para o efeito estufa global gira em torno de 6%. Ele é produzido em usinas de energia e motores, mas principalmente também através do uso de fertilizantes artificiais no agronegócio. Esse tipo de fertilizante é proibido na agricultura ecológica e, por isso, emite-se menos óxido nitroso, o que ajuda a proteger o clima.
Foto: imago/R. Lueger
Sustentabilidade na construção e no consumo
Na produção de aço e cimento emite-se muito CO2, em contrapartida, ele é retirado da atmosfera no processo de crescimento das plantas. A escolha consciente de materiais de construção ajuda o clima. O mesmo vale para o consumo em geral. Para uma massagem, não se precisa de combustível fóssil, mas para copos plásticos, que todo dia acabam no lixo, necessita-se uma grande quantidade dele.
Foto: Oliver Ristau
Assumir responsabilidades
Como evitar gases estufa, para que, em todo mundo, as crianças e os filhos que elas virão a ter possam viver bem sem uma catástrofe do clima? Esses estudantes estão fascinados com a energia mais limpa e veem uma chance para o seu futuro. Todos podem ajudar para que isso possa acontecer.