Na ONU, Brasil se abstém de condenar referendos na Ucrânia
1 de outubro de 2022
Ao lado de China, Índia e Gabão, representante brasileiro preferiu neutralidade. Rússia, que é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, vetou a resolução apresentada por EUA e Albânia.
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Como já era esperado, a Rússia vetou nesta sexta-feira (30/09) uma resolução no Conselho de Segurança da ONU que condenava os "referendos" ilegais de anexação realizados por Moscou em territórios ucranianos.
A resolução, apresentada pelos Estados Unidos e pela Albânia, recebeu 10 votos a favor e um contra - o da Rússia, que é membro permanente do órgão e, portanto, tem poder de veto.
O Brasil se absteve, assim como China, Índia e Gabão. De acordo com a justificativa do Brasil, a ressalva é quanto à linguagem utilizada na resolução, que, na sua visão, não facilitaria o processo de negociação de paz.
O projeto de resolução condenava as consultas organizadas e realizadas ilegalmente pela Rússia de 23 a 27 de setembro em quatro regiões ucranianas parcial ou totalmente ocupadas por Moscou - Kherson, Zaporíjia, Lugansk e Donetsk - e declarava que os "referendos" não têm validade e não podem constituir a base para a anexação dessas regiões pelo Kremlin.
"Realmente esperam que a Rússia aprove esta resolução?", ironizou o representante permanente da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzia, antes de vetar o projeto, alegando que a população dessas regiões não deseja pertencer à Ucrânia.
Antes da votação, numa mensagem de apelo ao voto a favor da resolução, a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, reforçou que os EUA jamais reconhecerão a anexação.
Para o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya, o fato de a Rússia ter sido o único país a vetar a resolução mostra que o governo de Moscou está isolado.
A China se absteve da resolução, mas manifestou preocupação com "uma crise prolongada e ampliada" na Ucrânia.
O país tem tentado manter uma posição de neutalidade em relação ao conflito, criticando as sanções ocidentais contra a Rússia, mas deixando de endossar ou ajudar na campanha militar, apesar das duas nações terem declarado uma parceria estratégica "sem limites" em fevereiro.
O embaixador de Pequim na ONU, Zhang Jun, argumentou que, embora "a soberania e a integridade territorial de todos os países devam ser salvaguardadas", as "legítimas preocupações de segurança" dos países também devem ser levadas a sério.
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Votação na Assembleia-Geral
Como a resolução foi vetada pela Rússia, o projeto deverá agora ser levado por Washington para votação da Assembleia-Geral da ONU, onde a esmagadora maioria dos países tem condenado a invasão russa da Ucrânia e onde nenhum Estado pode bloquear uma decisão sozinho, mas cujas resoluções têm menos peso.
O objetivo, segundo Linda Thomas-Greenfield, é enviar a Moscou uma "mensagem inequívoca" de que "o mundo ainda está do lado da defesa da soberania e da proteção da integridade territorial".
"As Nações Unidas foram construídas sobre a ideia de que um país nunca mais poderá tomar o território de outro pela força", sublinhou a diplomata americana, ressaltando que os resultados destes "referendos fraudulentos estavam predeterminados por Moscou e todo o mundo sabe".
Na quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou a Rússia que a anexação de territórios ucranianos "não terá valor jurídico e merece ser condenada", frisando que "não pode ser conciliada com o quadro jurídico internacional".
Nesta sexta-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou, em uma cerimônia no Kremlin, tratados para anexar as quatro regiões ucranianas. A medida – ilegal e duramente condenada pela comunidade internacional – marca uma escalada no conflito e dá início a uma fase imprevisível, sete meses após a invasão da Ucrânia por Moscou.
Mostra "O novo anormal", no Museu Deichtorhallen de Hamburgo, registra horrores da guerra, mas também a resistência dos ucranianos, em trabalhos de 12 fotógrafos do país sob invasão russa.
Foto: Oksana Parafeniuk
Civis treinam com armas de madeira
Nesta imagem feita perto de Kiev em 6 de fevereiro de 2022, menos de duas semanas antes da invasão russa, a fotógrafa Oksana Parafeniuk capturou a determinação de seus compatriotas de resistir. Embora os países ocidentais não esperassem que a Rússia atacasse a capital a Ucrânia, os civis de lá já estavam treinando com armas de madeira, para caso de emergência.
Foto: Oksana Parafeniuk
Resistindo com o país
Em 24 de fevereiro, o fotógrafo Mykhaylo Palinchak acordou em Kiev com o som de sirenes, pouco depois ouviu uma explosão. "Desde então, estamos vivendo num novo mundo", afirma. Suas fotografias mostram granadas, casas destruídas e como seus compatriotas defendem a nação, mais do que nunca. A mulher da foto exibe o pulso esquerdo tatuado com o mapa da Ucrânia.
Foto: Mykhaylo Palinchak
Começou às 5 da manhã
"A guerra é a pior das opções da humanidade. Nenhum filme, nenhum livro, nenhuma foto pode transmitir este horror", diz a fotógrafa Lisa Bukreieva. "Com a invasão dos russos, meu sentido de tempo mudou. É apenas um horror de longa
duração." Esta fotografia capta o momento em que a guerra começou para ela.
Foto: Lisa Bukreieva
Cidadãos de Kiev - parte 1
Depois da invasão da Ucrânia pelo exército russo, Kiev se transformou em outra cidade, relata Alexander Chekmenev, de 52 anos. Muitos fugiram, ele próprio enviou a família para a segurança no exterior, mas ficou no país para documentar com sua Pentax a vida dos cidadãos de Kiev em tempos de guerra. Como esta ucraniana em uniforme de combate.
Foto: Alexander Chekmenev
Cidadãos de Kiev - parte 2
Abrigos antiaéreos e centros de primeiros-socorros espalharam-se pela capital ucraniana. Lá, Chekmenev fotografou gente comum, que nunca esteve sob os holofotes: "Eu queria mostrar a dignidade deles. Este país pertence ao seu povo, e eu quero mostrar o meu respeito por cada um deles", diz o fotógrafo de renome internacional.
Foto: Alexander Chekmenev
Traços do presente
Em sua série de fotografias, Pavlo Dorohoi capturou a vida em tempos de guerra em sua cidade natal, Kharkiv. Muitos cidadãos se esconderam em estações do metrô para escapar das bombas, transformando os locais em lares temporários, com "tapetes, cobertores e outros objetos pessoais", relata Dorohoi.
Foto: Pavlo Dorohoi
Bucha: o local do horror
O arquiteto e fotógrafo de Kiev Nazar Furyk fotografou lugares devastados pelas tropas russas, entres os quais a cidade de Bucha, que se tornou símbolo de muitas atrocidades. O fotógrafo se pergunta: como é possível continuar vivendo num lugar assim? Como se lida com essa experiência, gravada profundamente na memória coletiva da população ucraniana?
Foto: Nazar Furyk
Diário de Kiev - parte 1
A fotógrafa e videoartista Mila Teshaieva mantém um diário online desde o início da guerra, onde registrou tudo: desde os primeiros dias, antes dos mísseis, até os crimes contra a humanidade revelados desde então. Seus registros também incluem fotos, como esta.
Foto: Mila Teshaieva
Diário de Kiev - parte 2
Mila Teshaieva relata o desespero que a guerra provoca, mas também registra a união dos ucranianos e sua enorme vontade de resistir. Em sua cidade natal, Kiev, os moradores estão tentando proteger não só a si, mas também seus monumentos, símbolos da identidade nacional.
Foto: Mila Teshaieva
Documentação da guerra
Vladyslav Krasnoshchok é dentista, mas há anos se dedica à arte. Agora viaja por sua pátria devastada e fotografa carros queimados, pontes e tanques destruídos. "Eu tiro fotos, ouço tiros e corro de volta para o carro. Adrenalina pura!", escreve. Ele sempre revela os filmes imediatamente. Afinal, não se sabe se haverá oportunidade de tirar mais fotos.
Foto: Vladyslav Krasnoshchok
Mutilado
"Vivendo com o medo de ser ferido" é o nome da série de fotos do designer Sasha Kurmaz. A violência tem feito parte da história humana desde o início, afirma, e não está otimista se isso vá mudar em breve. Ainda assim, não desiste de sua luta pessoal por um mundo melhor.
Foto: Sasha Kurmaz
Porto seguro?
Uma cadeira, copos com bebidas: para Elena Subach esta foto tirada na cidade de Uzhgorod, no oeste da Ucrânia, simboliza a segurança de quem foge rumo a outros países. "Quase todo homem tirou uma foto da esposa e dos filhos antes de lhes dizer adeus. Eu nunca vi tanto amor e tanta dor ao mesmo tempo."