Na ONU, Obama pede apoio na luta contra o extremismo
24 de setembro de 2014
Na Assembleia Geral, presidente convoca países a se juntarem aos EUA para destruir o "Estado Islâmico", o "câncer do mundo muçulmano". Conselho de Segurança aprova resolução para conter fluxo de terroristas estrangeiros.
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Em seu discurso na 69ª Assembleia Geral da ONU, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta quarta-feira (24/09) que o mundo está numa "encruzilhada entre guerra e paz" e precisa se unir contra os principais desafios globais, entre eles o terrorismo.
"Podemos renovar o sistema internacional que permitiu tanto progresso, ou nos permitir sermos puxados para trás por uma onda de instabilidades", disse Obama diante de representantes dos 193 países-membros da ONU. "Podemos reafirmar nossa responsabilidade coletiva para confrontar problemas mundiais ou nos deixar tomar por mais e mais focos de instabilidade."
O presidente usou a palavra "câncer" para se referir ao "violento extremismo que vem devastando muitas partes do mundo muçulmano". "Os Estados Unidos vão trabalhar com uma ampla coalizão para desmantelar esta rede da morte. A única linguagem compreendida por assassinos como esses é a linguagem da força", afirmou. "Hoje peço ao mundo para se juntar a nós nesta missão."
Obama prometeu manter a pressão militar sobre os militantes do "Estado Islâmico" (EI) e pediu para aqueles que se juntaram aos extremistas no Iraque a na Síria que deixem o campo de batalha enquanto ainda podem. Ele reforçou sua mensagem de discursos anteriores afirmando que o EI precisa ser destruído e que os terroristas não terão refúgio seguro.
O presidente reiterou também que os EUA não estão em guerra contra o Islã, porque o Islã propaga a paz e pediu às comunidades muçulmanas que rejeitem a ideologia violenta da Al-Qaeda e do "Estado Islâmico".
Resolução antiterrorismo
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
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Ainda nesta quarta-feira, Obama presidiu uma reunião especial do Conselho de Segurança da ONU em que foi aprovada uma resolução para conter o fluxo de jihadistas estrangeiros para o Iraque e a Síria.
A resolução, adotada por unanimidade, determina que todos os 193 países-membros da ONU apliquem leis que considerem a adesão de seus cidadãos a grupos jihadistas, como o EI, um crime grave. O objetivo é "prevenir e suprimir" o recrutamento e a viagem de militantes para conflitos no exterior.
Obama chamou a resolução de "histórica" e disse que ela é apenas um primeiro passo. "Promessas no papel não garantirão a nossa segurança. Retórica grandiloquente e boas intenções não impedirão nem um ataque terrorista sequer. As palavras ditas aqui hoje precisam ser traduzidas em ações."
Rússia desafia ordem mundial
Em seu discurso na Assemblei Geral da ONU, Obama voltou adotar um tom incisivo ao falar da Rússia. O presidente americano classificou os atos russos na Crimeia e no leste ucraniano como agressões à Europa, que desafiam a ordem mundial.
"A agressão da Rússia remete aos dias em que grandes nações pisoteavam as pequenas em busca de território", criticou. "Esta é uma visão de mundo em que as fronteiras de uma nação podem ser redesenhadas por outra e pessoas civilizadas não estão autorizadas a recuperar os restos mortais de seus entes queridos por causa da verdade que pode ser revelada", disse, em referência às vítimas do voo MH17.
O presidente acrescentou ainda que o recente acordo de cessar-fogo no leste da Ucrânia abriu caminho em direção à diplomacia e à paz. "Se a Rússia seguir este caminho – um caminho que, após a Guerra Fria, resultou em prosperidade para o povo russo –, então, vamos aliviar as sanções e saudar o papel da Rússia na resolução de desafios globais", prometeu Obama.
Combate ao ebola
Obama também pediu a outros países que adotem um compromisso concreto na luta contra o vírus do ebola, que está devastando a África Ocidental. Os EUA já enviaram centenas de médicos e cientistas para conter o surto, apoiados por um contingente militar.
"Precisamos de um esforço mais amplo para conter esta doença que pode matar centenas de milhares de pessoas, desestabilizar economias e se mover rapidamente através das fronteiras", alertou.