Na pandemia, aprendizado de crianças pobres caiu pela metade
Gabrielle Bittelbrun
16 de setembro de 2022
Entre famílias mais ricas, efeitos do ensino remoto e déficit de aprendizado foram bem menores, aponta estudo realizado com alunos da pré-escola no Rio de Janeiro.
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A pandemia e a necessidade de ensino remoto foram um duro golpe para a educação de crianças brasileiras. Para crianças de baixa renda na pré-escola, os efeitos foram avassaladores, aponta um estudo publicado nesta sexta-feira (16/09). Em comparação com o período anterior à pandemia, o aprendizado de alunos mais pobres da educação infantil caiu pela metade, diz a pesquisa, realizada por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Durham University, do Reino Unido.
Entre as crianças com perfil socioeconômico melhor, o déficit também é significativo, mas bem menor: elas aprenderam 75% do que tinham aprendido em 2019.
"O fator mais perverso de toda essa crise é a evidência sobre a ampliação das desigualdades de aprendizagem", afirma Tiago Bartholo, um dos coordenadores da pesquisa e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Colégio de Aplicação da UFRJ.
A pesquisa foi aplicada em 671 crianças entre cinco e seis anos do ensino infantil em 21 escolas da rede conveniada e privada da cidade do Rio de Janeiro. A análise estabeleceu uma comparação entre os registros feitos em grupos de crianças em 2019 e em 2020, ano de início da pandemia. Além de perfil socioeconômico, a amostragem considerou distribuição geográfica, nas Zonas Sul, Oeste e Norte. O método avaliou competências de linguagem, como vocabulário, consciência fonológica e leitura, e matemática, como contagem e aritmética informal, em testes individuais, além de questionário com os educadores.
De maneira geral, aquelas que vivenciaram o segundo ano da pré-escola em 2020, a maior parte do tempo no formato remoto, aprenderam 66% em linguagem e 64% em matemática em comparação com o aprendizado das crianças em 2019.
Quanto mais nova é a criança, mais a aprendizagem é baseada em interações e na intermediação do adulto, aspectos que foram limitados durante o ensino remoto, explica a professora da UFRJ e também coordenadora da pesquisa Mariane Koslinski.
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Pandemia intensifica desigualdades no ensino
Entre crianças de famílias com perfil socioeconômico melhor, além dos melhores ambientes de aprendizagem, atividades com pais que geralmente têm maior escolaridade e mais chances de acompanhar os filhos na rotina de ensino possibilitaram uma maior apreensão dos conteúdos. Entre as famílias mais pobres, o ensino fica a cargo majoritariamente das atividades presenciais nas escolas.
"Para além da pandemia, a pesquisa mostra como é importante uma educação infantil de qualidade. Quando tira essa educação, as crianças se desenvolvem de forma mais lenta e desigual", expõe Mariane.
Em uma nova etapa, os pesquisadores pretendem avaliar como será a recuperação dessas crianças no pós-pandemia, em 2022.
A pesquisa foi financiada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e tem, entre os objetivos, apoiar a formulação de um diagnóstico que deve servir de base para a elaboração de um plano nacional de recuperação da educação.
De acordo com a Unesco, mais de 190 países suspenderam o ensino presencial nas escolas durante a pandemia. No Brasil, a maior parte das escolas públicas permaneceu fechada durante quase todo o ano letivo de 2020 e reabriu lentamente em 2021.
As promessas não cumpridas para a infância
Em muitos países os direitos mais fundamentais das crianças não são respeitados e elas estão sujeitas à pobreza, ao trabalho infantil, à prostituição, ao tráfico de pessoas e à escravidão.
Foto: Mustafiz Mamun
Cotidiano de trabalho infantil
Como este menino, mais de 4,5 milhões de crianças precisam trabalhar em Bangladesh – muitas vezes em empregos perigosos e recebendo baixos salários. A separação de lixo ou de trapos é muitas vezes vista como um trabalho razoavelmente bom.
Foto: Mustafiz Mamun
Trabalhar em vez de brincar
Enquanto milhões de crianças frequentam a escola e têm tempo para brincar, outras, como esta menina em Bangladesh, podem apenas sonhar com isso. Em vez de brincar, ela tem que carregar pedras todos os dias, sofrendo com todas as consequências negativas para sua saúde e seu desenvolvimento.
Foto: Mustafiz Mamun
Trabalhar, comemorar – ou lutar?
O objetivo do Dia Mundial da Criança é conscientizar o público sobre questões como a proteção e direitos das crianças. Alguns países lembram a data em 1º de junho, e a Alemanha, em 20 de setembro. Já a ONU celebra em 20 de novembro, o dia que, no ano de 1989, a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças foi adotada.
Foto: Mustafiz Mamun
Sob a ameaça de uma máquina
Nem mesmo no Dia Mundial da Criança há tempo para jogos e brincadeiras: esta criança de 11 anos opera uma máquina numa fábrica de telas contra mosquitos no sul da Índia. Muitas vezes, em tais fábricas, as medidas de segurança são insuficientes, gerando riscos consideráveis para a integridades física e também para a vida.
Foto: picture-alliance/imageBROKER
Comovente
Anil, de 27 anos e que trabalhava em canais de drenagem, morreu após um acidente em Déli, deixando um filho. O repórter Shiv Sunny publicou a foto do menino, de 11 anos, chorando junto ao corpo do pai. A imagem levou muitos a lágrimas e doações, que chegaram ao equivalente a 37.500 euros.
Foto: Twitter/Shiv Sunny
Crianças-soldados
O recrutamento de crianças-soldados é considerado uma das formas mais brutais de exploração de menores de idade. Este jovem combatente da milícia somali Al Shabaab mostra que teve ferimentos em uma das mãos. Não melhor do que ele estão outras milhares de crianças que têm que trabalhar como prostitutas, traficantes de drogas ou escravas.
Foto: Getty Images/AFP/M. Dahir
Muros e fronteiras
Mas não apenas o trabalho infantil é um problema: o então presidente dos EUA, Donald Trump, mostrou mais uma vez sua insensibilidade ao mandar separar crianças de pais que cruzassem a fronteira dos EUA ilegalmente. Foi necessário um clamor internacional para que ele mudasse de ideia.
Foto: Reuters/J. Luis Gonzalez
Em busca de um recomeço
Longe dos pais, dois jovens buscam um recomeço na Alemanha. Eles preparam suas refeições na cozinha de um lar para refugiados no mosteiro Lehnin, no estado de Brandemburgo. Os refugiados menores de idade, em especial os desacompanhados, dependem de ajuda para recomeçar suas vidas.
Foto: picture alliance/dpa/B. Settnik
Depósito de lixo? Não, moradia
Este menino vive e trabalha num aterro de lixo localizado nas proximidades do rio Bhagmati, em Kathmandu, capital do Nepal. Sem qualquer proteção, ele procura por objetos que possam ser úteis.
Foto: picture-alliance/imageBROKER
Índios "chineses"
Estes jovens chineses celebram o Dia Mundial da Criança num jardim de infância em Yiyuan. "Crianças precisam de espaços livres", que é o lema do Dia Mundial da Criança de 2018, parece ter sido ao menos parcialmente implantado aqui.
Foto: picture-alliance/dpa/Xinhua/Z. Dongshan
"Eu tenho um sonho!"
Esta menina em Bangladesh mostra um desenho que fez para o Dia Internacional da Criança: nele, jovens brincam despreocupadas num dia de sol.
Foto: p-cture alliance/Pacific Press/M. Hasan
Liberdade limitada
Três meninas paquistanesas se divertem num passeio de carruagem, uma brincadeira que muitas crianças, sejam ricas ou pobres, também gostariam de fazer. Mas será que elas terão essa liberdade por muito mais tempo numa sociedade patriarcal?