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Na UE, uma Alemanha em transformação permanente

Bernd Riegert (av)29 de setembro de 2015

O papel dos alemães no bloco europeu é difícil de definir, e está em mudanças constante. Vacilando de modesta potência a hegemonia autoritária, ele também varia em relação à força dos países vizinhos.

Symbolbild Deutschland Europa Flagge
Foto: picture-alliance/dpa

Passados 25 anos desde que se reunificou, a Alemanha continua sendo uma "hesitante potência dominante à revelia", como define Sasha de Wijs, funcionário do think tank Crisis Action, sediado em Bruxelas. Segundo ele, o país é assim tão forte por os seus vizinhos serem tão fracos.

Já em 2013, a revista britânica The Economist afirmava que a Alemanha era uma hegemonia relutante que precisava liderar mais. Já Eric Bonse, correspondente do jornal TAZ em Bruxelas, queixava-se: "A Europa é alemã", chamando a atenção para a influência excessiva dos alemães em instituições europeias como a Comissão Europeia, o Conselho de Ministros e o Parlamento.

Por outro lado, a ex-ministra francesa de Assuntos Europeus Noëlle Lenoir não percebe uma "supremacia alemã" na Europa. "A chanceler federal Angela Merkel é talvez a chefe de governo mais pró-europeia que existe atualmente na Europa. Acima de tudo, ela sabe entrar em acordos e tem consideração pela França", declarou recentemente a política à emissora de TV France24.

Dupla Berlim-Paris enfraquecida

Tradicionalmente, a dupla franco-alemã tem sido o núcleo da unidade europeia e o motor para novos desdobramentos. Segundo o deputado europeu Elmar Brok, nessa dupla no momento a Alemanha é quem está ao volante. Porém isso não acontece desejo incondicional do país, mas sim porque a França é economicamente mais fraca e está ocupada com reformas internas.

Brok, que hoje integra a Comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu, já era deputado em Estrasburgo durante a Reunificação. "Não acredito que gostemos tanto assim de liderar sozinhos. Por isso torcemos muito para que a França volte a aderir em plena forma. Psicologicamente costuma ser mais fácil quando se age a dois – como muitas vezes foi o caso no passado."

"Acho que, nesse ponto, o desenvolvimento econômico francês precisa ser positivo, para que possamos assumir esse papel de dupla liderança." Além disso, explicou o experiente político democrata-cristão em entrevista à DW, é importante também integrar a Polônia no grupo de líderes, como terceira parceira.

UE como brinde para cidadãos da RDA

Em Bruxelas, os receios iniciais de alguns Estados-membros como a França e o Reino Unido quanto à Reunificação alemã hoje não passam de uma vaga lembrança. No dia a dia político, esse detalhe não tem mais qualquer significação.

Para os cidadãos da comunista Alemanha Oriental (RDA), a filiação à União Europeia praticamente caiu dos céus, de um dia para o outro, quando o país comunista foi assimilado pela República Federal da Alemanha, em 1990.

Como lembra o ex-funcionário da Comissão Europeia Carlo Trojan, não foram necessárias nem negociações de ingresso nem processos tortuosos. Em 1990 ele participou das negociações entre Bonn e Berlim sobre o Acordo de Unificação.

Merkel e o presidente francês François Hollande: dupla franco-alemã tem sido o núcleo da unidade europeiaFoto: Getty Images/B. Guay

Clichê do alemão ditatorial

Em junho daquele mesmo ano, o bloco aprovou o ingresso do povo da RDA na então ainda denominada Comunidade Europeia. Ao mesmo tempo, na cúpula de Dublin de 1990, deu-se a partida para a criação de uma comunidade monetária e de uma união política. Costuma-se dizer que o euro foi a retribuição dos alemães em troca da unificação nacional.

Nas atuais crises em torno do euro, da Grécia, da Ucrânia e, por último, do afluxo de refugiados, a Alemanha via de regra dita o tom. Em especial sua predominância na política econômica e fiscal traz de volta o clichê do alemão ditador. Testemunho disso são os cartazes na Grécia ou Itália mostrando Merkel em uniforme nazista ou como Hitler.

Com sua política de austeridade, diz o deputado europeu Brok, a Alemanha cria um cisma na Europa: "Precisamos só prestar atenção para não evocar essa imagem repetidamente, pois a consequência será a desconfiança dos menores. Não devemos estar sempre lhes dando lições – é preciso nunca perder isso de vista."

Falta uma visão futura da Europa

Como exemplo da opinião de um representante de um país menor, o ex-primeiro-ministro belga e atual líder da bancada liberal no Parlamento Europeu, Guy Verhofstadt, declarou à DW que a Alemanha pode tranquilamente ser mais ambiciosa e proceder de forma mais enérgica.

"Talvez tenhamos perdido um pouco essa dinâmica desde a Reunificação. Na época, a Alemanha assumiu a liderança e disse. 'É preciso levar adiante a integração do continente europeu.' Essa foi sempre a tarefa histórica da Alemanha no fim do século 20. Espero que ela a leve adiante. Precisamos de figuras de liderança alemãs."

O especialista em assuntos externos conservador Elmar Brok detecta déficits no papel da Alemanha na Europa, especialmente na ação conjunta do país e a França, na política externa.

"Acho que precisamos de uma melhor harmonização das estratégias. Os franceses são muito interessados na África, e muito mais ainda no Mediterrâneo. Nós, alemães, estamos antes dispostos e aptos a assumir a liderança militar. Precisamos discutir isso juntos, a fim de desenvolvermos uma estratégia comum no contexto da Europa."

No tocante à crise da Ucrânia, contudo, a cooperação funcionou bem, ressalva Noëlle Lenoir. "Merkel e o chefe de Estado francês, François Hollande, trabalham bem juntos." Entretanto falta à dupla franco-alemã uma meta clara sobre a futura direção do projeto Europa, afirma a analista política francesa.

O ex-premiê belga Verhofstadt partilha essa opinião. Ele lamenta a ausência de uma visão alemã de mais longo prazo para a Europa. "Só avançamos um passo atrás do outro. Mas passo a passo é pouco demais, quando se tem que lidar com a crise do euro ou a migratória. Estamos sempre mancando atrás dos fatos. Às vezes, na vida, é preciso ousar um grande salto adiante. Isso vale tanto para a vida particular quanto para organizações supranacionais como a Europa."