O papel dos alemães no bloco europeu é difícil de definir, e está em mudanças constante. Vacilando de modesta potência a hegemonia autoritária, ele também varia em relação à força dos países vizinhos.
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Passados 25 anos desde que se reunificou, a Alemanha continua sendo uma "hesitante potência dominante à revelia", como define Sasha de Wijs, funcionário do think tank Crisis Action, sediado em Bruxelas. Segundo ele, o país é assim tão forte por os seus vizinhos serem tão fracos.
Já em 2013, a revista britânica The Economist afirmava que a Alemanha era uma hegemonia relutante que precisava liderar mais. Já Eric Bonse, correspondente do jornal TAZ em Bruxelas, queixava-se: "A Europa é alemã", chamando a atenção para a influência excessiva dos alemães em instituições europeias como a Comissão Europeia, o Conselho de Ministros e o Parlamento.
Por outro lado, a ex-ministra francesa de Assuntos Europeus Noëlle Lenoir não percebe uma "supremacia alemã" na Europa. "A chanceler federal Angela Merkel é talvez a chefe de governo mais pró-europeia que existe atualmente na Europa. Acima de tudo, ela sabe entrar em acordos e tem consideração pela França", declarou recentemente a política à emissora de TV France24.
Dupla Berlim-Paris enfraquecida
Tradicionalmente, a dupla franco-alemã tem sido o núcleo da unidade europeia e o motor para novos desdobramentos. Segundo o deputado europeu Elmar Brok, nessa dupla no momento a Alemanha é quem está ao volante. Porém isso não acontece desejo incondicional do país, mas sim porque a França é economicamente mais fraca e está ocupada com reformas internas.
Brok, que hoje integra a Comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu, já era deputado em Estrasburgo durante a Reunificação. "Não acredito que gostemos tanto assim de liderar sozinhos. Por isso torcemos muito para que a França volte a aderir em plena forma. Psicologicamente costuma ser mais fácil quando se age a dois – como muitas vezes foi o caso no passado."
"Acho que, nesse ponto, o desenvolvimento econômico francês precisa ser positivo, para que possamos assumir esse papel de dupla liderança." Além disso, explicou o experiente político democrata-cristão em entrevista à DW, é importante também integrar a Polônia no grupo de líderes, como terceira parceira.
UE como brinde para cidadãos da RDA
Em Bruxelas, os receios iniciais de alguns Estados-membros como a França e o Reino Unido quanto à Reunificação alemã hoje não passam de uma vaga lembrança. No dia a dia político, esse detalhe não tem mais qualquer significação.
Para os cidadãos da comunista Alemanha Oriental (RDA), a filiação à União Europeia praticamente caiu dos céus, de um dia para o outro, quando o país comunista foi assimilado pela República Federal da Alemanha, em 1990.
Como lembra o ex-funcionário da Comissão Europeia Carlo Trojan, não foram necessárias nem negociações de ingresso nem processos tortuosos. Em 1990 ele participou das negociações entre Bonn e Berlim sobre o Acordo de Unificação.
Clichê do alemão ditatorial
Em junho daquele mesmo ano, o bloco aprovou o ingresso do povo da RDA na então ainda denominada Comunidade Europeia. Ao mesmo tempo, na cúpula de Dublin de 1990, deu-se a partida para a criação de uma comunidade monetária e de uma união política. Costuma-se dizer que o euro foi a retribuição dos alemães em troca da unificação nacional.
Nas atuais crises em torno do euro, da Grécia, da Ucrânia e, por último, do afluxo de refugiados, a Alemanha via de regra dita o tom. Em especial sua predominância na política econômica e fiscal traz de volta o clichê do alemão ditador. Testemunho disso são os cartazes na Grécia ou Itália mostrando Merkel em uniforme nazista ou como Hitler.
Com sua política de austeridade, diz o deputado europeu Brok, a Alemanha cria um cisma na Europa: "Precisamos só prestar atenção para não evocar essa imagem repetidamente, pois a consequência será a desconfiança dos menores. Não devemos estar sempre lhes dando lições – é preciso nunca perder isso de vista."
Falta uma visão futura da Europa
Como exemplo da opinião de um representante de um país menor, o ex-primeiro-ministro belga e atual líder da bancada liberal no Parlamento Europeu, Guy Verhofstadt, declarou à DW que a Alemanha pode tranquilamente ser mais ambiciosa e proceder de forma mais enérgica.
"Talvez tenhamos perdido um pouco essa dinâmica desde a Reunificação. Na época, a Alemanha assumiu a liderança e disse. 'É preciso levar adiante a integração do continente europeu.' Essa foi sempre a tarefa histórica da Alemanha no fim do século 20. Espero que ela a leve adiante. Precisamos de figuras de liderança alemãs."
O especialista em assuntos externos conservador Elmar Brok detecta déficits no papel da Alemanha na Europa, especialmente na ação conjunta do país e a França, na política externa.
"Acho que precisamos de uma melhor harmonização das estratégias. Os franceses são muito interessados na África, e muito mais ainda no Mediterrâneo. Nós, alemães, estamos antes dispostos e aptos a assumir a liderança militar. Precisamos discutir isso juntos, a fim de desenvolvermos uma estratégia comum no contexto da Europa."
No tocante à crise da Ucrânia, contudo, a cooperação funcionou bem, ressalva Noëlle Lenoir. "Merkel e o chefe de Estado francês, François Hollande, trabalham bem juntos." Entretanto falta à dupla franco-alemã uma meta clara sobre a futura direção do projeto Europa, afirma a analista política francesa.
O ex-premiê belga Verhofstadt partilha essa opinião. Ele lamenta a ausência de uma visão alemã de mais longo prazo para a Europa. "Só avançamos um passo atrás do outro. Mas passo a passo é pouco demais, quando se tem que lidar com a crise do euro ou a migratória. Estamos sempre mancando atrás dos fatos. Às vezes, na vida, é preciso ousar um grande salto adiante. Isso vale tanto para a vida particular quanto para organizações supranacionais como a Europa."
A trajetória política de Helmut Kohl
Ele governou a Alemanha ao longo de 16 anos, mais do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl, que completa 85 anos.
Foto: picture-alliance/dpa
O pai da Reunificação
Ele governou a Alemanha de 1982 a 1998, mais tempo do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl.
Foto: dapd
Nos passos de Adenauer
Kohl entrou para a União Democrata Cristã (CDU) em 1946, quando era um estudante secundarista de 16 anos. Foi eleito deputado estadual da Renânia-Palatinado em 1959, aos 29 anos, e virou líder da bancada aos 33. Em 1966, tornou-se presidente estadual da CDU. A foto de 5 de janeiro de 1967 mostra Kohl e o primeiro chanceler federal do pós-Guerra, Konrad Adenauer, na festa de seus 91 anos, em Bonn.
Foto: picture alliance / dpa
Governador aos 39 anos
Em 1969, com a renúncia do então governador da Renânia-Palatinado, Peter Altmeier, Kohl foi eleito seu sucessor. Ele comandaria o estado até dezembro de 1976, e o cargo não seria o auge de sua carreira política. A foto é de 1971, ano em que a CDU obteve a maioria absoluta no parlamento regional.
Foto: Imago
Em família
A família foi muito importante para a formação da imagem pública de Kohl. Ele costumava passar suas férias de verão com a esposa e os filhos sempre no mesmo lugar, no lago Wolfgangsee, na Áustria. Esta foto é de 1974, e mostra Kohl ao lado da esposa Hannelore e dos filhos Peter (d) e Walter (e) na residência da família, em Oggersheim.
Foto: imago/Sven Simon
Kohl na chancelaria federal
Em 1973, Kohl se tornaria presidente nacional da CDU. Mas ele ainda não tinha atingido sua grande meta: a chancelaria federal. Foi só em 1982, quando divergências entre social-democratas e liberais levaram ao fim da coalizão que sustentava o então chanceler federal Helmut Schmidt, que Kohl finalmente conseguiu alcançar seu objetivo. Na foto, de 1º de outubro de 1982, Schmidt parabeniza o sucessor.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler federal por 16 anos
Kohl foi três vezes reeleito para a chancelaria federal, ocupando o cargo ao longo de 16 anos, de 1982 a 1998. Ele permaneceu na presidência da CDU, para a qual havia sido eleito em 1973, até 1998. A partir de 2000, passou a ser o presidente de honra do partido. A foto é de 11 de setembro de 1989, quando Kohl foi reeleito para a presidência da CDU.
Foto: picture alliance/Martin Athenstädt
Gesto de reconciliação
Esta foto, que mostra Kohl ao lado do primeiro-ministro da França, François Mitterrand, correu mundo. Ela foi tirada em 22 de setembro de 1984, durante um evento para celebrar a reconciliação franco-alemã, perto do cemitério de Verdun, onde estão enterrados soldados que morreram na batalha de 1916. Ao se darem as mãos, os dois líderes criaram uma forte imagem de unidade e reconciliação.
Foto: ullstein bild/Sven Simon
Queda do Muro
Kohl foi literalmente surpreendido pela queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. Ele estava em viagem pela Polônia quando os cidadãos da Alemanha Oriental invadiram a fronteira interna alemã, com a anuência dos guardas do lado oriental. Kohl interrompeu imediatamente sua visita à Polônia. Na foto, de 10 de novembro de 1989, ele é cercado por berlinenses na avenida Kurfürstendamm.
Foto: picture-alliance/dpa
Negociações com a União Soviética
Na foto Kohl (d) aparece junto com Mikhail Gorbatchov (centro), e o ministro alemão do Exterior, Hans-Dietrich Genscher (e), durante uma visita ao Cáucaso, em 15 de julho de 1990, para discutir a reunificação alemã. Durante uma caminhada com Gorbatchov, Kohl obtivera do então chefe do Kremlin a aprovação da reunificação do país e da retirada das tropas soviéticas da Alemanha Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo entre as Alemanhas
Na presença do chanceler da Alemanha Oriental, Lothar de Maizière (esq. atrás) e do chanceler federal Helmut Kohl (centro atrás), os ministros da Finanças da Alemanha Ocidental e Oriental, Theo Waigel (dir.) e Walter Romberg (esq.), assinam, em 18 de maio de 1990, o acordo que abriria caminho para a Reunificação.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler da Reunificação
A Reunificação alemã, em 3 de outubro de 1990, foi o ponto alto da carreira de Helmut Kohl. Ele entraria para a história como o "chanceler da Reunificação". Na foto, Kohl aparece ao lado da esposa Hannelore, do ministro do Exterior Hans-Dietrich Genscher (e) e do presidente Richard von Weizsäcker (d).
Foto: picture-alliance/dpa
Paisagens florescentes
No início dos anos 1990, Kohl é festejado pelos alemães-orientais como promotor da Reunificação. É dessa época a famosa expressão "paisagens florescentes", que ele usou para se referir ao futuro imediato da antiga Alemanha Oriental. A foto mostra o então chanceler cercado por admiradores em Leipzig, durante uma campanha eleitoral, em 14 de março de 1990.
Foto: picture-alliance/dpa
Mentor da primeira chanceler
Sem Kohl, o sucesso da atual chanceler federal alemã, Angela Merkel, é praticamente inconcebível. Foi ele que apoiou a política oriunda da Alemanha Oriental no início da sua carreira nacional, escolhendo-a para ser ministra da Família e, mais tarde, do Meio Ambiente. A foto é de 16 de dezembro de 1991, quando Merkel era ministra da Família.
Foto: picture-alliance/dpa
Fim de uma era
Em setembro de 1998, a CDU perdeu as eleições parlamentares, o que abriu caminho para o primeiro governo de uma coalizão entre social-democratas e verdes. A foto mostra uma cerimônia de despedida para Kohl, em Berlim, com honras militares.
Foto: picture-alliance/dpa
Escândalo de caixa dois
Em 1999, a imagem de Kohl é duramente atingida por um escândalo de doações ilegais para campanhas eleitorais da CDU ao longo dos anos 1990. O partido vira as costas para Kohl, e a primeira a fazê-lo é Merkel, sua protegida. Na foto, de dezembro de 1999, Kohl deixa mais cedo uma entrevista coletiva sobre o caso. Ao fundo, o presidente da CDU, Wolfgang Schäuble, e a secretária-geral Angela Merkel.
Foto: picture-alliance/dpa
Relação rompida
Kohl acabou admitindo que sabia das doações, mas se recusou a dar o nome dos doadores, anônimos até hoje. O processo contra Kohl foi arquivado em troca de uma multa milionária, e ele se afastou da política. Merkel tentou várias vezes se reconciliar com seu antigo mentor, que rejeitou todas as tentativas de aproximação. A foto mostra os dois na festa de 75 anos de Kohl, em Berlim, em 2005.