Nacionalistas da Escócia: nova chance de independência
18 de março de 2017"Mal posso esperar para ter outro referendo", comenta Kevin Gibney à margem do rio Clyde, em Glasgow. Na consulta popular de 2014, o escocês de 46 anos ficou do lado dos perdedores. Mas ele espera que a independência vença da próxima vez – se o governo da Escócia realmente obtiver o mandato para um segundo voto sobre sua saída do Reino Unido.
"Tudo depende de se Westminster vai fincar pé e não permitir que aconteça", diz Gibney à DW. Ele dirige a companhia Independence Live, especializada em live streaming de eventos nacionalistas.
Por enquanto, contudo, muitos nacionalistas escoceses estão simplesmente contentes por a questão de um segundo referendo sobre a independência ter voltado à pauta do dia.
Espera-se que, em seu discurso de abertura da convenção do Partido Nacional Escocês (SNP) em Aberdeen, neste sábado (18/03), a primeira-ministra Nicola Sturgeon vá concretizar os detalhes do referendo que ela propõe. O tema está no ar desde 23 de junho de 2016, quando o eleitorado britânico optou pela saída da União Europeia, embora a maioria dos escoceses tenha votado contra.
Jogo do pró e contra
A decisão sobre a consulta, no entanto, não cabe à premiê. Embora há uma década seu SNP domine a política em Edimburgo, o governo escocês não pode fazer um segundo referendo sem a aquiescência do Parlamento britânico, sediado em Westminster, Londres.
Na próxima semana, Sturgeon pedirá permissão formal ao Parlamento escocês, onde há maioria pró-independência, para iniciar o processo de uma nova consulta popular. Os nacionalistas gostariam que o referendo transcorresse depois de estarem concluídas as negociações sobre o Artigo 50 do Tratado da União Europeia, mas antes de o Reino Unido abandonar formalmente o bloco europeu.
"No fim desse processo, ou o povo da Escócia optará pelo pacote do Brexit do governo do Reino Unido, ou escolherá a independência", declarou há poucos dias o ministro escocês para o Brexit, Michael Russell.
"É exatamente o contrário de 2014, quando o campo do 'sim' queria que a campanha durasse o máximo possível, e os unionistas, que acabasse logo", analisa Peter Lynch, docente de política na Universidade Stirling e autor de uma história do SNP. "Desta vez, os unionistas vão tentar protelar o quanto puderem."
Em 2014, os escoceses decidiram contra a independência por uma margem de dez pontos porcentuais. Sturgeon aposta que a perspectiva de sair da UE, e de um "Brexit duro", com a retirada do mercado comum, dê maior força ao apelo nacionalista. Até o momento, contudo, as sondagens não registraram um aumento significativo do apoio à independência.
Repercussões na União Europeia
Ainda assim, o lado pró-independência tem chances numa segunda rodada. Durante a campanha anterior, o "sim" era decididamente a opção pela incerteza, com pontos de interrogação que iam desde a futura moeda até a filiação à UE.
Algumas dessas questões permanecem sem resposta, mas uma Escócia independente tem agora bem melhor probabilidade de contar com a boa vontade de Bruxelas – mesmo descontando-se as apreensões quanto a abrir um precedente para os secessionistas espanhóis.
O tom da próxima campanha de referendo também poderá ser bem diferente. Em 2014, o vitorioso movimento unionista Better Together era principalmente composto por ativistas do Partido Trabalhista. Entretanto a legenda que dominou por tanto tempo a política na Escócia está hoje em baixa.
Neste ínterim, os conservadores escoceses emergiram como paladinos pró-união. Sua temperamental líder, Ruth Davidson, é popular, mas a fama do partido continua sendo tóxica na maior parte da Escócia pós-industrial.
"Como os conservadores se saíram tão bem em 2015? Caça online de eleitores. Como os partidários da saída da UE ganharam em 2016? Caça online de eleitores. Pode ser que da próxima vez vejamos isso aqui", antecipa Lynch.
May entre pressões externas e partidárias
Para Andy Maciver, ex-diretor de comunicação do Partido Conservador escocês, a melhor estratégia para a primeira-ministra britânica, Theresa May, seria fazer um acordo com sua homóloga Sturgeon sobre um segundo referendo e se empenhar para manter a união de três séculos entre Escócia e Inglaterra.
May provavelmente insistirá para que qualquer referendo seja pós-Brexit, prevê Maciver. "Cabe ver em que isso vai resultar, mas será o debate central na primeira parte da campanha."
A consulta poderá ser inteiramente evitada se Londres e Edimburgo conseguirem um consenso em relação ao Brexit. Segundo Angus Robertson, líder da bancada do SNP em Westminster, o governo britânico poderia oferecer um meio-termo "que proteja o lugar da Escócia na Europa".
No entanto, tal arranjo pode se provar politicamente difícil devido ao comprometimento de May com a saída de todo o Reino Unido da UE, nos mesmos termos, e às pressões dentro de seu partido para que assuma uma postura dura contra o nacionalismo escocês. Esta semana, ela disse que a convocação de um segundo referendo é um processo "divisório" e que "causaria uma enorme incerteza no pior momento".
Diversos adeptos da independência, por sua vez, não aceitarão outra solução além de uma segunda consulta popular. "Existe um mandato para um segundo referendo", afirma Gibney, da Independence Live. "Vai ser novamente muito apertado, imagino, mas acho que podemos ganhar."