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Nada de novo na CPI da Pandemia

Thomas Milz
Thomas Milz
13 de maio de 2021

Comissão ocupa muito espaço na mídia, mas dificilmente trará novidades. A tragédia, afinal, desenrolou-se a olhos vistos durante os últimos 14 meses. E é de se temer que, em 2022, já estará esquecida.

Jair Bolsonaro ignora medidas de distanciamento ao cumprimentar apoiadores no Piauí, em julho de 2020Foto: Agencia Brasil/PR/A. Santos

Para mim, o espanto mais recente veio no dia 2 de maio, quando o deputado e filho presidencial Eduardo Bolsonaro comentou em tom elogioso um tuíte do presidente de El Salvador, Nayib Bukele.

"Presidente de El Salvador Nayib Bukele tem maioria dos parlamentares em seu apoio. Agora, o Congresso destituiu todos os ministros da suprema corte por interferirem no Executivo, tudo constitucional. Juízes julgam casos, se quiserem ditar políticas que saiam às ruas para se elegerem", escreveu.

Por um curto momento eu realmente pensei que o filho 03 do presidente estava elogiando a mão de ferro de Bukele no combate ao novo coronavírus. Bukele havia ordenado que pessoas que não respeitassem as medidas e infringissem o lockdown seriam postas em centros de quarentena.

"Então isso agrada a alguém da família Bolsonaro?", pensei.

Mas logo ficou claro que Eduardo apenas queria bater nos juízes de uma Suprema Corte, não importando o que estes defendiam. A mensagem: quem tem uma maioria no Congresso não precisa respeitar regras – muito menos quando elas vêm da Suprema Corte.

A ironia é que a Suprema Corte de El Salvador se posicionou a favor do direito de ir e vir e contra as duras medidas de isolamento de Bukele. Na verdade, Eduardo deveria estar do lado dos juízes, e não de Bukele.

Mas dois anos de governo Bolsonaro já deixaram claro que a lógica pouco importa. O que importa é um curto estímulo que produza uma sensação rápida entre os apoiadores – um condicionamento, como no cão de Pavlov.

Mas qual será o resultado da CPI que o Senado criou há alguns dias? A política do governo Jair Bolsonaro para o novo coronavírus nunca foi um segredo, afinal tudo ocorreu às claras. O que então essa CPI vai descobrir de novo?

Quem foi que ordenou aos militares que produzissem e distribuíssem cloroquina?, perguntam os senadores. Como se não existissem os vídeos do ano passado no qual o próprio presidente dá a resposta.

E que a médica Nise Yamaguchi o aconselhou no combate à pandemia e sobre a cloroquina também não é novidade. Yamaguchi foi até mesmo cotada para ser ministra da Saúde.

Todos também sabemos que Bolsonaro tentou dar uma rasteira em João Doria e na "vacina chinesa". E que o presidente não é fã de vacinas, isso ele mesmo conta dia sim, dia não. E que ele ignorou medidas de higiene e regras de distanciamento é notório desde o início da pandemia.

Fica assim a pergunta: o que, afinal, a oposição espera da CPI? É claro que o governo não faz boa figura, e em especial a oitiva do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello pode virar um evento vexatório.

Já está claro, aliás, que o general será sacrificado para proteger Bolsonaro. Talvez tenha sido esse mesmo o motivo para lhe dar o cargo, afinal o desastre já se anunciava em maio do ano passado, quando Pazuello assumiu no lugar de Nelson Teich. Numa hora como aquela é sempre bom já ir separando alguém para o sacrifício.

E os resultados da CPI definirão o resultado da campanha eleitoral de 2022? Pouco provável. Quem aprova Bolsonaro não se deixa convencer por uma CPI no Congresso, pouco importando que vexames ela produza.

A única coisa decisiva para a eleição de 2022 será a situação econômica do Brasil – em outras palavras, como o Brasil estará depois da crise do coronavírus. É possível que o país esteja vacinado até o fim do ano, e a recuperação econômica automática que virá em seguida poderá chegar bem na hora de elevar a popularidade de Bolsonaro – e apagar a lembrança de mais de meio milhão de mortos.

É de se temer que aí ninguém mais se lembre da CPI da Pandemia.

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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

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Realpolitik

Depois de uma década em São Paulo, Thomas Milz mudou-se para o Rio de Janeiro, de onde escreve sobre a política brasileira sob a perspectiva de um alemão especializado em Ciências Políticas e História da América Latina.