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LiteraturaAlemanha

"Nada de novo no front", uma advertência tristemente atual

Aygül Cizmecioglu
22 de junho de 2023

Nascido há 125 anos, Erich Maria Remarque tornou-se internacionalmente famoso com seu romance antibélico. Mais recente versão cinematográfica do livro conquistou quatro Oscars.

Autor alemão Erich Maria Remarque
Erich Maria Remarque nasceu em 22 de junho de 1898 em OsnabrückFoto: picture-alliance/Everett Collection

Publicado em 1929, Nada de novo no front é o romance antibélico por excelência. Nele, o alemão Erich Maria Remarque traça o retrato de uma geração que, recém-saída dos bancos escolares, partiu eufórica para o front para acabar sendo massacrada por uma máquina de guerra assassina.

"Nada de novo no front": a guerra não conhece heróis

13:49

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A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi praticamente a realização do desejo de muitos homens da época. Os tempos eram de grandes rupturas e incertezas. O progresso tecnológico ditava o compasso: fábricas, automóveis, descobertas científicas. A sociedade patriarcal apresentava fissuras, as mulheres se rebelavam contra os papéis predeterminados, exigiam em alta voz mais direitos.

O antigo se despedia, o novo se precipitava sobre os europeus, sobrecarregando sua capacidade de compreensão e processamento, sobretudo no universo masculino. A guerra, esperavam eles, poderia ser a "força purificadora" que conteria a transformação. Eles aclamaram a eclosão do conflito, no verão de 1914, e acreditavam firmemente que estariam em casa para o Natal.

Mas a realidade era outra: "Aprendemos que um botão bem polido era mais importante do que quatro volumes de Schopenhauer. De início perplexos, depois amargos, e por fim indiferentes, reconhecemos que a coisa decisiva aparentemente não era o intelecto, mas [...] o treinamento."

Cena do filme de 2022 de Edward BergerFoto: Reiner Bajo/dpa/Netflix/picture alliance

Horror cotidiano nas trincheiras

A carnificina nas trincheiras, a noite sob a chuva de granadas, o tédio entre as batalhas: o narrador na primeira pessoa de Remarque, um jovem recruta, vivencia tudo isso à flor da pele. De colegial sensível, ele se torna uma meia criatura brutalizada.

"Um sargento [...] arrasta os joelhos destroçados atrás de si, um outro se dirige à estação de ataduras, e os intestinos transbordam sobre suas mãos que os estão segurando. [...] O horror é suportável enquanto a pessoa simplesmente se esquiva, mas mata quando se reflete a respeito."

Por mais drásticas que sejam as suas descrições, o próprio autor só teve que lutar no front por pouco tempo. Recrutado compulsoriamente aos 16 anos, ainda colegial, foi ferido pouco mais tarde e transferido para um hospital de campanha.

Lá, escutava as histórias dos feridos graves e tomava notas, que iriam resultar em seu romance. Para fins de marketing, porém, Remarque afirmou ter vivenciado tudo pessoalmente. Nada de novo no front só foi publicado em 1929, tornando-se de um dia para o outro um dos maiores sucessos da literatura alemã. Críticos de todo o mundo o celebraram como uma denúncia pacifista contra a guerra.

"Nada de novo no front" conquistou quatro Oscars, inclusive de Melhor Filme InternacionalFoto: Patrick T. Fallon/AFP/Getty Images

Condenado pelos nazistas

Os meios de direita da Alemanha, por outro lado, consideraram o romance uma ofensa à memória de seus soldados. Em 1933, após a tomada de poder pelos nacional-socialistas, ele foi queimado publicamente e banido. Seu autor já havia emigrado para a Suíça.

Remarque seguiu se beneficiando de sua imagem de pacifista e do sucesso precoce, sem conseguir repeti-lo, apesar de seguir escrevendo. Apenas anos mais tarde ele confessou ter sempre sido um cidadão apolítico.

Desde o lançamento, seu romance já foi levado às telas três vezes: logo em 1930 por Hollywood; em versão para a TV americana em 1979; e em 2022 na produção alemã dirigida por Edward Berger e várias vezes premiada, inclusive com os Oscars de Melhor Filme Internacional, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora.

Filho de imigrantes franceses, Erich Maria Remarque nasceu em 22 de junho de 1898 em Osnabrück, no noroeste da Alemanha. A partir de 1933, viveu alternadamente na Suíça e nos Estados Unidos, até morrer em 1970 na localidade suíça de Locarno.