Após campanha que denunciou monumento como "símbolo de opressão", estátua foi retirada de seu pedestal na capital da Namíbia, Windhoek, e levada para um museu.
Anúncio
Autoridades de Windhoek, capital da Namíbia, removeram nesta quarta-feira (23/11) a estátua de um governador colonial alemão após uma campanha para sua remoção.
O porta-voz da cidade, Harold Akwenya, disse à agência de notícias alemã DPA que a estátua de Curt von François – considerado por muitos como o fundador da cidade – seria transferida para o Museu da Independência por segurança.
Descendente de François critica remoção de estátua
A estátua de von François estava de pé desde 1965. No entanto, uma petição para removê-la — por tudo que ela representa para muitos namibianos — foi iniciada em 2020 pela ativista Hildegard Titus.
Para o ex-prefeito de Windhoek, Job Amupanda, a remoção da estátua de von François foi "o início de um processo para descolonizar Windhoek".
No entanto, nem todos os namibianos estão felizes com a remoção. À publicação local The Namibian, o bisneto de von François, Ruprecht von François, disse que a mudança era um desrespeito ao legado de seu bisavô e equivalia a uma discriminação contra a história dos câmaras.
O bisneto de Von François conta que seu ancestral era casado com sua bisavó — Amalia ǃGawaxas, que era uma princesa damara — e que, como fundador de Windhoek, ele "fez muito por este país”.
O passado colonial da Alemanha e seus efeitos no presente
07:13
Quem foi von François?
Von François era um alto oficial das forças coloniais alemãs e, de acordo com a história colonial, fundou Windhoek em 1890.
Em 1893, houve escaramuças entre soldados alemães enviados para proteger os colonos alemães e os clãs locais, incluindo os hereros e namas. Von François ordenou um ataque ao chefe Nama Hendrik Witbooi e à aldeia de Hornkranz durante o qual mulheres, crianças e idosos foram massacrados.
As forças coloniais alemãs, como outras no continente africano, reprimiram brutalmente qualquer tentativa de insurreição. De 1904 a 1907, ocorreram assassinatos em massa e este período da história é agora amplamente aceito como o primeiro genocídio do século 20.
Essa ajuda não incluiu reparações oficiais. Líderes herero e nama ridicularizaram os pagamentos como "inaceitáveis".
Berlim rejeitou as exigências de novas negociações e insiste na implementação do acordo controverso.
kb/dj (dpa, KNA)
Dez fatos sobre a Alemanha colonialista
Os dolorosos legados do passado colonial alemão.
Foto: Jürgen Bätz/dpa/picture alliance
"Nosso futuro está na água"
Sob o chanceler Otto von Bismarck, o Império Alemão estabeleceu colônias nos atuais territórios da Namíbia, Camarões, Togo, partes da Tanzânia e do Quênia. O imperador Guilherme 2°, coroado em 1888, procurou expandir ainda mais as possessões coloniais através da criação de novas frotas de navios. O império queria seu "lugar ao Sol", declarou Bernhard von Bülow, um chanceler posterior, em 1897.
Foto: picture alliance/dpa/K-D.Gabbert
Colônias alemãs
Foram adquiridos territórios no Pacífico (Nova Guiné do Norte, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Ilhas Salomão, Samoa) e na China (Qingdao). Em 1890, uma conferência em Bruxelas determinou que o Império Alemão obtivesse os reinos de Ruanda e Burundi, unindo-os à África Oriental Alemã. Até o final do século 19, as conquistas coloniais da Alemanha estavam praticamente concluídas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdade
Nas colônias, a população branca formava uma minoria pequena e altamente privilegiada – raramente mais de 1% da população. Em 1914, por volta de 25 mil alemães moravam nas colônias. Desses, pouco menos da metade vivia no Sudeste Africano Alemão. Os 13 milhões de nativos nas colônias germânicas eram vistos como subordinados, sem acesso a nenhum recurso da lei.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século 20
O genocídio praticado contra os hereros e os namas no Sudeste Africano Alemão, hoje Namíbia, foi o crime mais grave da história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes hereros fugiu para o deserto, com as tropas alemãs bloqueando sistematicamente seu acesso à água. Estima-se que mais de 60 mil hereros morreram na ocasião.
Foto: public domain
Crime alemão
Somente 16 mil hereros sobreviveram à campanha de extermínio. Eles foram aprisionados em campos de concentração, onde muitos morreram. O número exato de vítimas nunca foi constatado e continua a ser um ponto de controvérsia. Quanto tempo esses hereros debilitados sobreviveram no deserto? De qualquer forma, eles perderam todos os seus bens, seu estilo de vida e suas perspectivas futuras.
Foto: public domain
Guerra colonial de longo alcance
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos se rebelou contra o domínio colonialista na África Oriental Alemã. Por volta de 100 mil locais morreram na revolta de Maji-Maji. Embora tenha sido, posteriormente, um tema pouco discutido na Alemanha, este capítulo permanece importante na história da Tanzânia.
Foto: Downluke
Reformas em 1907
Na sequência das guerras coloniais, a administração nos territórios alemães foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida ali. Bernhard Dernburg, um empresário bem-sucedido (na foto sendo carregado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado para Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas do Império Alemão para seus protetorados.
Foto: picture alliance/akg-images
Ciência e as colônias
Junto às reformas de Dernburg, foram estabelecidas instituições técnicas e científicas para lidar com questões coloniais, criando-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África para investigar a transmissão da doença do sono. Na foto, veem-se espécimes microscópicas colhidas ali.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Colônias perdidas
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, em 1919, a Alemanha assinou o tratado de paz em Versalhes, especificando que o país renunciaria à soberania sobre suas colônias. Cartazes como o da foto ilustram o medo dos alemães de perder seu poder econômico, como também o temor da pobreza e miséria no país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições do Terceiro Reich
Aspirações coloniais ressurgiram sob Hitler – e não somente aquelas definidas no Plano Geral de Metas para o Leste, que delineou a colonização da Europa Central e Oriental através do genocídio e limpeza étnica. Os nazistas também almejavam recuperar as colônias perdidas na África, como evidencia este mapa escolar de 1938. Elas deveriam fornecer matérias-primas para a Alemanha.