Narcotraficante mais procurado da Colômbia é preso
24 de outubro de 2021
Presidente colombiano, Iván Duque, disse que a prisão de Dairo Antonio Úsuga David, o Otoniel, é o maior golpe no narcotráfico colombiano desde a queda de Pablo Escobar, em 1993.
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O traficante de drogas mais procurado da Colômbia, Dairo Antonio Úsuga David, conhecido como Otoniel, foi preso neste sábado (23/10) em uma operação conjunta da polícia e das Forças Armadas no noroeste do país.
O presidente da Colômbia, Iván Duque, disse que a prisão de Otoniel é o maior golpe no narcotráfico colombiano desde a queda de Pablo Escobar, em 1993.
"Este é o golpe mais duro dado ao narcotráfico neste século em nosso país e só se compara à queda de Pablo Escobar", afirmou Duque, em declaração dada na base militar de Tolemaida, na região central do país.
O presidente afirmou que Otoniel, líder máximo do Clã do Golfo, era "o traficante de droga mais temido do mundo" e "assassino de policiais, militares, lideranças sociais, além de recrutador de menores" e abusador. Ele tem mais de 100 processos abertos na Justiça colombiana e estava na lista vermelha da Interpol.
Otoniel era procurado desde 2015 na região de Urabá por milhares de policiais e militares em operações que levaram à prisão ou morte de dezenas de homens sob seu comando, além da apreensão de toneladas de cocaína.
Fim do Clã do Golfo
Para Duque, a prisão de Otoniel também representa "o fim do Clã do Golfo".
"A todos aqueles que pertenceram a esta estrutura criminosa, a mensagem que lhes envio é clara e contundente: ou se submetam imediatamente à Justiça ou o peso da lei será aplicado sobre eles da mesma forma", ameaçou o presidente.
O Clã do Golfo surgiu da desmobilização das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) e, segundo o governo colombiano, é responsável pelo envio de toneladas de cocaína aos Estados Unidos, além de montar uma rede criminosa dedicada à extorsão de empresários e comerciantes na região de Urabá, na fronteira com o Panamá, e principalmente na costa atlântica.
O governo colombiano havia oferecido uma recompensa de até 3 bilhões de pesos (cerca de R$ 4,5 milhões) por informações sobre o paradeiro de Otoniel. Os Estados Unidos o consideram um dos mais perigosos narcotraficantes e lavadores de dinheiro do mundo e ofereciam uma recompensa de 5 milhões de dólares por informações que levassem a sua captura.
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Meses sitiado
Otoniel esteve durante meses cercado e sitiado pelo Exército e pela polícia em Urabá, no noroeste do país, e foi capturado em uma área remota, perto do Nudo de Paramillo, entre dois morros, de acordo com informações da polícia.
Ele aparece em imagens veiculadas por diversos meios de comunicação, sorrindo, vestido de calça e camisa pretas e com as mãos amarradas nas costas, sendo conduzido por soldados armados com rifles após descer de um helicóptero militar.
Em setembro de 2017, após a assinatura do acordo de paz com as FARC e a abertura de diálogos com os guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN), Otoniel anunciou em um vídeo postado nas redes sociais sua intenção de se entregar à Justiça, o que fez os colombianos pensarem na possibilidade de alcançar a paz após mais de meio século de conflito armado em várias frentes internas.
A notícia da captura do líder do Clã do Golfo foi recebida com alívio por políticos, como o candidato liberal à presidência Juan Fernando Cristo, que a qualificou como "um golpe importante" das "Forças Militares contra o crime organizado" e apelou à "persistência na perseguição de grupos violentos".
Em fevereiro, o Exército colombiano matou o número 2 do Clã do Golfo, Nelson Hurtado, conhecido como Marihuano, o que na época foi considerado "o golpe mais duro para a estrutura' do grupo.
le (efe, ots)
Colômbia: 5 anos após acordo com Farc, paz segue distante
Em 26 de setembro de 2016, Bogotá assinou tratado de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Ao longo de sua existência, o grupo passou de esquerda idealista a sequestradores e, por fim, partido político.
Foto: picture-alliance/dpa
De rebelião de farrapos a potência militar
Em meados do século 20, a Colômbia foi palco de uma batalha acirrada entre campos políticos rivais. Grupos rebeldes de esquerda fundaram repúblicas independentes em zonas remotas, gradualmente tomadas pelas forças governamentais. Mas dois dos líderes da República de Marquetalia escaparam. Em 1966 Manuel Marulanda e Jacobo Arenas (esq.) fundaram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Foto: ALATPRESS/AFP
Vida dedicada à luta armada
Na quase inacessível região amazônica, agricultores que conheciam bem o terreno eram taticamente superiores ao menos flexível exército colombiano. As Farc adotaram estratégias de outros grupos de guerrilha latino-americanos e passaram a recrutar estudantes e moradores de favelas das cidades, alegadamente totalizando 18 mil menores. As mulheres que aderiam eram estritamente proibidas de ter filhos.
Foto: ALATPRESS/AFP
Mercenários, traficantes, gângsters
Para se financiar, os guerrilheiros entraram para o narcotráfico, primeiro trabalhando como mercenários para os cartéis da cocaína, e mais tarde participando do cultivo. Embora o Exército colombiano tenha destruído plantações e laboratórios de drogas, os rebeldes acumularam grandes somas. Em certa época, controlavam uma área do tamanho da Suíça, onde também coletavam um "imposto revolucionário".
Foto: Guillermo Legaria/AFP
Sequestros, negócio lucrativo
Calcula-se que as Farc ganhavam centenas de milhões de dólares por ano, em parte graças a um outro modelo de negócios lucrativo: segundo estimativas, o grupo participou de quase 10 mil sequestros entre 1970 e 2010. A vítima mais famosa foi a candidata presidencial Ingrid Betancourt, em 2002. Só seis anos mais tarde o exército nacional conseguiu libertá-la, juntamente com 14 outros reféns.
Foto: Remi Ochlik/MAXPPP/picture alliance/dpa
Lutando pela paz
Já na década de 1980, as Farc negociaram um frágil armistício inicial com o governo. Alguns de seus membros tentaram influenciar as tomadas de decisões a partir de siglas políticas, e nos anos 1990 apresentaram um programa político de dez pontos. Em 2001, o líder rebelde Manuel Marulanda (dir.) encontrou-se com o presidente Andrés Pastrana para novas negociações de paz, mas sem muito sucesso.
As Farc e Bogotá não alcançaram um acordo, em parte por os rebeldes ampliarem sua campanha de terror durante as conversações, investindo contra postos militares e delegacias policiais com artefatos explosivos e ataques de surpresa. Eles não mostravam consideração por vítimas civis, como neste atentado com um carro-bomba em Medellín, que deixou 30 feridos e seis mortos, inclusive uma criança.
Foto: Vergara/AFP/picture alliance/dpa
Terror de esquerda e direita
Até hoje não está esclarecido quem esteve por trás do massacre de 119 civis nesta igreja, em maio de 2002. Além da Farc, suspeitas recaíram sobre grupos paramilitares de extrema direita. A maioria dos 250 mil mortos no conflito continuado foi de civis apanhados entre os dois fronts, opositores políticos e seus familiares ou suspeitos de colaboração com o governo.
Foto: picture-alliance/dpa
Guerrilha debilitada
Eleito em 2002, o presidente Álvaro Uribe intensificou a luta contra os rebeldes: até o fim de seu mandato, seis anos mais tarde, o contingente das Farc caíra dos 20 mil, nos anos 90, para apenas 8 mil. Em 1º de março de 2008, soldados mataram o vice-líder da Farc Raúl Reyes. Pouco depois, morreu Manuel Marulanda. Seu sucessor foi igualmente morto numa escaramuça em 2011. Muitos também desertaram.
Foto: MAURICIO DUENAS/AFP/Getty Images
Acordo de paz controverso
Debilitadas por tantas perdas, as Farc iniciaram negociações de paz em Cuba com o novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos (esq.). Em 26 de setembro de 2016, ele e o líder rebelde Timoleón Jiménez (dir.) assinaram o tratado de paz. Apenas uma semana mais tarde, contudo, uma maioria apertada do colombianos votou contra, num referendo não vinculativo.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Castaneda
Desarmando os rebeldes
Ao assinar o tratado, as Farc concordaram em se desarmar. Embora umas poucas centenas de rebeldes tenham se recusado, os demais 7 mil se prontificaram a reintegrar-se na vida civil. Apenas aqueles sob suspeita de ter violado os direitos humanos foram julgados por um tribunal especial. No começo de 2021, pela primeira vez foram também indiciados membros da liderança, inclusive Timoleón Jiménez.
Foto: Fernando Vergara/AP Photo/picture alliance
Reconciliação entre rebeldes e vítimas
Alguns antigos guerrilheiros das Farc trabalham ativamente pela reconciliação com o povo colombiano, em especial com as vítimas do conflito. Na foto, os ex-rebelde Rodrigo Granda se encontra com a irmã de duas vítimas de sequestro para pedir desculpas. Antigos reféns também têm se engajado em projetos de reintegração.
Foto: Fernando Vergara/AP Photo/picture-alliance
Paz duradoura ainda fora de vista
As Farc agora se transformaram num partido político. No entanto, muitos de seus membros sustentam que a paz foi violada por o governo não ter cumprido compromissos centrais. Alguns rebeldes retornaram à resistência armada, entre os quais, os dois principais negociadores do acordo de paz, Iván Márquez e Jesús Santrich. Em 2019, ambos anunciaram em vídeo que a "segunda Marquetalia" começara.