Nasa festeja: astronautas bebem quase 100% da própria urina
2 de julho de 2023
Transformação de 98% dos líquidos residuais em água potável é marco importante rumo a futuras missões espaciais tripuladas em áreas afastadas da Terra, onde não é possível o reabastecimento.
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A bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), os astronautas conseguiram atingir a espantosa taxa de recuperação de água de 98%, o que representa um importante avanço na busca de atender às necessidades básicas dos membros da tripulação em missões espaciais para áreas além da órbita terrestre, especialmente quando não é possível haver missões de reabastecimento a partir da Terra.
O método usado para alcançar esse avanço pode ser chocante para alguns: um avanço foi alcançado na reciclagem de urina, respiração e suor dos astronautas.
Conforme informa o portal Space.com, no caso da ISS, cada tripulante necessita de cerca de meio litro de água por dia para beber, preparar alimentos e para usos higiênicos como escovar os dentes. O objetivo ideal em termos de água tem sido a recuperação de 98% da água inicial que as tripulações levam ao espaço no início de missões mais longas.
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Urina vira água potável
Por trás desse número impressionante está o Sistema de Monitoramento Ambiental e Suporte à Vida (ECLSS, na sigla em inglês) da estação espacial, que pode converter em água potável as águas residuais coletadas, assim como de respiração e suor.
A Unidade de Processamento de Urina (UPA) do sistema, como o nome sugere, pode até recuperar água potável a partir da urina da tripulação.
Ao recuperar a água da "salmoura de urina", o produto destilado da UPA, usando um subsistema chamado Brine Processor Assembly (BPA), os cientistas conseguiram aumentar a eficiência geral de 94% para 98%. "Este é um passo muito importante na evolução dos sistemas de suporte à vida", disse em comunicado Christopher Brown, membro da equipe do Johnson Space Center que gerencia os sistemas de suporte à vida na ISS.
"Antes do BPA, nossa recuperação geral de água estava entre 93 e 94%”, diz Jill Williamson, gerente de subsistemas de água da ECLSS. "Agora mostramos que podemos atingir 98% de recuperação total de água, graças ao processador de salmoura."
Água mais limpa do a que se bebe na Terra
A equipe reconhece que a ideia de beber urina reciclada pode ser desconcertante para algumas pessoas, mas eles argumentam que o resultado final é de maior qualidade em comparação com os sistemas municipais de abastecimento de água.
Segundo Williamson, o processo de tratamento é semelhante ao utilizado em alguns sistemas terrestres de distribuição de água, mas adaptado à microgravidade. A tripulação não consome diretamente a urina, mas a regenera, filtra e purifica para obter uma água mais limpa do que a que se bebe na Terra. Antes disso, são realizados numerosos processos e testes para garantir a produção de água potável de qualidade.
"Quanto menos água e oxigênio tivermos para transportar, mais ciência poderemos adicionar ao veículo de lançamento", disse Williamson. "Sistemas regenerativos confiáveis e robustos significam que a tripulação não precisa se preocupar com isso e pode se concentrar no verdadeiro objetivo de sua missão".
Vinte anos de Estação Espacial Internacional
Em 20 novembro de 1998 foi enviado ao espaço primeiro módulo para a construção da ISS, e três anos mais tarde a primeira tripulação a ocupava. Uma história de sucesso na cooperação e pesquisa internacionais.
Foto: NASA
"Pedra fundamental" de 19 toneladas
A primeira seção da Estação Espacial Internacional (ISS) a ganhar o espaço sideral, em 20 de novembro de 1998, foi o módulo russo de carga e controle Zarya. Ele pesava mais de 19 mil quilos e media 12 metros. Num exemplo precoce de cooperação internacional, foi encomendado e pago pelos Estados Unidos, mas desenvolvido e construído por uma companhia espacial russa.
Foto: NASA
República para seis
Seis astronautas vivem e trabalham simultaneamente na ISS, enquanto ela atravessa o cosmo a mais de 27 mil quilômetros por hora, completando uma órbita terrestre a cada 90 minutos. Depois da Lua, é o objeto mais luminoso no céu noturno, podendo ser vista a olho nu.
Foto: Reuters/NASA
Expedição número um
Esta foi a primeira tripulação da ISS: o astronauta americano William Shepherd (c) e os russos Yuri Gidzenko (e) e Serguei Krikalev chegaram à estação espacial em 2 de novembro de 2000, permanecendo nela por 136 dias.
Foto: NASA
Um longo ano
Em média, as tripulações permanecem cinco meses e meio na ISS. Dois que aguentaram bem mais tempo foram o astronauta Scott Kelly (foto), da Nasa, e o cosmonauta da Roscosmos Mikhail Kornienko, totalizando um ano inteiro na estação.
Foto: picture-alliance/dpa/NASA
Tripulação multinacional
O astronauta canadense Chris Hadfield na ISS, no Natal de 2012. Nos últimos anos, cidadãos de 18 países estiveram a bordo da estação internacional. A maioria veio dos Estados Unidos, seguidos pelos da Rússia. Outros países de origem são Japão, Canadá, Itália, França, Alemanha, Brasil e Reino Unido.
Foto: Reuters/NASA
O único brasileiro
O primeiro – e único – astronauta brasileiro na ISS é Marcos Pontes, que partiu para a estação em 30 de março de 2006 numa nave russa Soyuz e retornou em 8 de abril, numa missão de dez dias no total, sendo oito na ISS. Em 2018, Pontes aceitou convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para ser ministro da Ciência e Tecnologia.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb/Y. Kochetkov
Ônibus na porta de casa
Tripulantes e suprimentos chegam em ônibus espaciais ou naves de carga. Na foto, acopla-se na ISS o Space Shuttle Atlantis, que esteve operante até 2011. Atualmente todos os astronautas chegam em cápsulas Soyuz, de fabricação russa.
Foto: Getty Images/NASA
Um pouco de ar fresco
Até 2018 realizaram-se 210 excursões ao espaço a partir da ISS. No jargão dos astronautas, esses passeios são chamados EVA, ou "extra-vehicular activity". Em 24 de dezembro de 2013 foi a vez de Mike Hopkins ver a ISS pelo lado de fora.
Foto: Reuters/NASA
Equipamento fora do comum
Diversos braços de robô adornam a ISS. O Canadarm2 mede quase 20 metros e ostenta sete articulações motorizadas. Ele é capaz de levantar até 100 toneladas – ou apenas um astronauta, como, na foto, Stephen Robinson.
Foto: Reuters/NASA
Comunidade de pesquisadores
Os membros da tripulação dedicam cerca de 35 horas por semana a suas pesquisas. O astronauta alemão Alexander Gerst, da Agência Espacial Europeia (ESA), esteve na ISS pela primeira vez em 2014, observando e analisando as alterações sofridas pelo corpo humano em gravidade zero. Sua segunda missão começou em junho de 2018, e desde outubro ele é o primeiro comandante alemão da estação.
Foto: Getty Images/ESA/A. Gerst
Retorno estressante
Quando sua temporada na Estação Espacial Internacional se esgota, os astronautas retornam à Terra em cápsulas Soyuz. O último, emocionante trecho é vencido de paraquedas. Bem-vindos à casa!