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"Nasci pela segunda vez"

gh4 de janeiro de 2005

Para dezenas de milhares de turistas ocidentais, entre eles cerca de 10 mil alemães, as férias no Sudeste Asiático transformaram-se em pesadelo. Alemães contam como sobreviveram à catástrofe.

Sobreviventes desembarcam no aeroporto de MuniqueFoto: AP

Pouco mais de uma semana após a catástrofe no Sudeste Asiático, a maioria dos estrangeiros já retornou a seus países de origem. Porém muitos deles ainda estão hospitalizados ou em estado de choque pela perda de familiares.

Enquanto isso, os balneários turísticos da Ásia tentam voltar à normalidade. Os trabalhos de limpeza e reconstrução correm a todo vapor e alguns bares e discotecas já reabriram suas portas.

Medo

Turista alemão no hospital em Takua, na TailândiaFoto: dpa

Para muitos turistas, como o alemão Reinhard Janisch, de Oberhausen, as férias na península de Phuket, na Tailândia, foram uma luta entre a vida e a morte.

"A onda veio de trás e eu nem tive tempo de me virar. Pensei que estava sendo atropelado por um carro. Fui arrastado por centenas de metros e fiquei pendurado entre pavilhões. De alguma forma, encontrei forças para me livrar. E daí fui empurrado adiante, por meio de cadeiras de praia e destroços flutuantes e sofri vários cortes no corpo. Os médicos admiraram-se como nós escapamos sem quebrar os ossos. Na água não se sente nada. Pode-se cortar um braço e não se sente nada", conta.

"Pode-se dizer que eu nasci pela segunda vez" – continua Janisch. "Primeiro, comecei a chorar. Eu tinha medo, não sei de que. Estou acabado".

Ninguém é culpado

Parentes abraçam sobrevivente que desembarcou no aeroporto de FrankfurtFoto: AP

Monika Sommerfeld, de Neuendorf, na Saxônia-Anhalt, perdeu sua família nas enchentes e só a reencontrou dias mais tarde. O filho Bastian fora arrastado pelas águas.

"Vi a muralha de água chegar em questão de segundos. Eu estava com água até o pescoço. Desprendi-me e choquei-me contra móveis. Daí vi estava que colada a uma vidraça. A água continuou subindo e fui empurrado através da vidraça", conta.

Enquanto Bastian e sua mãe escaparam com o susto, o pai saiu gravemente ferido. "Ele foi arrastado pelas águas e não teve como se segurar. Foi gravemente ferido por detritos e pedras, perdeu a metade de um braço e sofreu fraturas graves nos joelhos. O médico daqui o autorizou a voltar para a Alemanha, no avião-hospital da Bundeswehr (Forças Armadas)", conta Monika Sommerfeld.

Ela acrescenta que ainda tem uma sensação estranha: "Às vezes, acordo de madrugada e começo a chorar, porque tenho aquelas imagens dramáticas diante dos olhos. Mas ninguém tem culpa pelo que aconteceu. Não posso condenar ninguém nem dizer que não volto mais para lá. Primeiro, preciso relaxar, e nós podemos nos alegrar pelo fato de estarmos vivos. Há coisas piores, pessoas que perderam seus familiares. Nós realmente podemos dizer que nascemos de novo".

Reconstrução

Elefantes ajudam a reconstruir a infra-estrutura em Khao Lak, na TailândiaFoto: AP

Os sobreviventes que retornaram à Alemanha mostram-se profundamente agradecidos pelos primeiros socorros prestados pelos tailandeses. Alguns turistas, que só sofreram ferimentos leves, decidiram permanecer na Tailândia até o fim das férias planejadas. Um deles é Reinhard Seelig, de Mainz.

"Agora queremos voltar para casa, mas não tão rápido. Não tem sentido ficar três ou quatro dias sentados no aeroporto. Aqui temos um belo quarto. Por isso, prefiro esperar mais uma semana ou 14 dias. Uma coisa me irrita um pouco: ontem à noite saímos para jantar, mas a gente sabe que, a poucos metros do restaurante, ainda há cadáveres não identificados. Enquanto isso, alguns já festejam de novo e enchem a cara. Isso me lembra a canção de Freddy Mercury The show must go on".

Heinz e Hannelore, da Baviera, estão hospedados num hotel em Phuket que não foi atingido, e já voltaram à praia. "O que adianta voltar para casa. Os tailandeses dependem do dinheiro dos turistas", dizem. A operadora TUI anunciou que voltará a oferecer pacotes turísticos para o Sri Lanka e a Tailândia em fevereiro.

Tanto os guias turísticos quanto os moradores locais querem a reconstrução dos balneários destruídos pelo maremoto. Na praia de Patong, na Tailândia, os trabalhos nesse sentido já começaram. Quanto tempo isso vai levar – meses ou anos – ninguém arrisca dizer.

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