Navalny é alvo de nova acusação de extremismo na Rússia
29 de setembro de 2021
Investigadores abrem novo caso contra opositor russo e seus colaboradores, acusados de tentarem desestabilizar o país. Se condenado, desafeto do presidente Putin, já preso, poderá ter pena aumentada em até 10 anos.
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O Comitê Investigativo da Rússia, órgão que investiga os principais crimes no país, abriu nesta terça-feira (28/09) um novo inquérito com acusações de extremismo contra o líder oposicionista Alexei Navalny e seus principais colaboradores.
As novas acusações podem aumentar em até dez anos a permanência na prisão do opositor conhecido por ser uma das vozes mais críticas ao presidente russo, Vladimir Putin.
Entidades associadas a Navalny já haviam sido banidas por "extremismo” no início do ano. Em nota, os investigadores afirmam que Navalny, em 2014, "criou e dirigiu uma rede extremista” com o objetivo de "transformar as fundações sistema constitucional da Federação Russa”.
O ativista de 45 anos e seus principais colaboradores, Leonid Volkov e Ivan Zhdanov, são investigados por administrarem a suposta rede e o portal de internet da Fundação Anticorrupção (FBK) "com o objetivo de promover atividades criminosas”. Outros colaboradores, como Lyubov Sobol, são acusados de participarem nessas ações.
"As atividades ilegais da rede extremista tinham como alvo promover o descrédito das autoridades e suas políticas”, além de supostamente tentarem "desestabilizar a situação nas regiões” do país, e "influenciar a opinião pública quanto a necessidade de uma mudança violenta de poder”, disseram os investigadores.
O Comitê afirma que convocações para "atividades extremistas e terroristas” eram comuns nos protestos organizados pelo grupo.
Zhdanov, que liderava a FBK antes do banimento, descreveu o caso que, segundo disse, cobre todas as atividades do passado dos acusados, como uma "completa insanidade”.
Se condenados, Zhdanov, Volkov e Navalny poderão receber penas de seis a dez anos de prisão. Para Sobol e os outros ativistas, a punição poderá ser de dois a seis anos de detenção. "Essa é a resposta da questão, sobre de quem Putin tem medo e considera seu maior inimigo”, escreveu Sobol em seu perfil no Twitter.
A investigação surge pouco depois do partido de Putin conquistar mais cinco anos de controle sobre a câmara baixa do Parlamento russo.
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Tentativa de envenenamento e prisão
Navalny foi preso em janeiro em Moscou ao retornar da Alemanha, onde passou cinco meses se recuperando de um envenenamento por um agente nervoso desenvolvido na época da União Soviética. Ele acusa o Kremlin de tentar matá-lo. O governo russo nega.
Em fevereiro, um tribunal da Rússia sentenciou Navalny a dois anos e meio de prisão. A Justiça alegou que o ativista, em sua estadia na Alemanha, violou as condições de sua liberdade condicional relacionada a uma sentença proferida em 2014, ao não se apresentar regularmente para as autoridades.
A sentença original envolve um suposto caso de fraude, num processo que foi considerado politicamente motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
A prisão de Navalny foi o estopim para protestos contra o Kremlin. Milhares de pessoas saíram às ruas em dezenas de cidades para exigir a libertação do ativista e demonstrar insatisfação com o governo autoritário do presidente Putin. A reação das autoridades foi dura, e mais de 10 mil pessoas foram detidas.
Na prisão, o opositor chegou a fazer uma greve de fome. Ele passou 24 dias sem comer para protestar contra a recusa das autoridades em permitir que ele fosse examinado por um médico particular. Navalny reclamava de fortes dores nas costas e dormência nas mãos e nas pernas.
rc (AFP, AP)
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.