Navalny é sentenciado a mais 19 anos de prisão na Rússia
4 de agosto de 2023
Preso desde 2021, opositor do Kremlin já cumpre pena de 12 anos após sobreviver a tentativa de envenenamento. Críticos apontam "farsa" em nova condenação por liderança de organização terrorista e banalização do nazismo.
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Preso desde 2021 na Rússia, Alexei Navalny, mais famoso nome da oposição ao regime de Vladimir Putin, foi sentenciado nesta sexta-feira (04/08), em um julgamento a portas fechadas, a mais 19 anos de prisão, desta vez por supostamente fundar e financiar uma organização terrorista e banalizar o nazismo.
O julgamento foi realizado na colônia penal de Melekhovo, presídio de segurança máxima a 260 quilômetros de Moscou, onde o ex-advogado está detido. A imprensa só pôde acompanhar a sessão pelo circuito interno de câmeras em uma sala separada.
O processo foi motivado pelo papel que Navalny desempenhou à frente do hoje extinto movimento político criado por ele na Rússia. Autoridades alegam que ele tentou desestabilizar organizações sociais e políticas a fim de provocar uma revolução. A procuradoria havia pedido sentença de 20 anos de reclusão.
Além de Navalny, um de seus ex-funcionários, Daniel Kholodny, de 25 anos, que atuava como técnico do canal de YouTube do ativista, também foi condenado a oito anos de prisão sob a acusação de atuar em uma organização extremista.
Apoiadores de Navalny veem na condenação uma farsa do Kremlin para mantê-lo longe da política – o governo russo nega e insiste que o assunto diz respeito apenas ao Judiciário.
UE e ONU criticam julgamento e falam em assédio a opositores
A União Europeia (UE) apontou motivação política na condenação e exigiu a libertação imediata de Navalny. Na Alemanha, a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, referiu-se à decisão como "pura injustiça". O ministério francês das Relações Exteriores também criticou o veredito "nos termos mais duros".
"As condições desiguais, fundamentos arbitrários e resultado indefensável desse julgamento são prova da perseguição judicial que o senhor Navalny sofreu, e da falta de respeito das autoridades russas pelo devido processo e pela legalidade", declarou uma porta-voz da pasta.
As críticas foram endossadas pelo Alto Comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos, Volker Türk, que se disse preocupado com o "assédio jurídico e instrumentalização da Justiça para fins políticos na Rússia".
Navalny disse que esperava sentença "stalinista"
No dia anterior ao julgamento, Navalny alertou apoiadores nas redes sociais de que enfrentaria uma sentença "stalinista".
Antes de tornar-se alvo das autoridades, o ativista ganhou fama nas redes sociais surfando na irritação de cidadãos russos com o Kremlin. Ele publicou investigações de corrupção que constrangeram Putin e outros altos funcionários do governo, fez campanha como candidato à Presidência e arrastou multidões às ruas do país.
O ex-advogado agora só é visto em vídeos de baixa resolução durante audiências judiciais realizadas na prisão de segurança máxima, mas continua criticando o Kremlin, agora pela invasão da Ucrânia.
A Rússia apertou o cerco sobre dissidentes desde a invasão em larga escala do território ucraniano, em fevereiro de 2022.
Apoiadores de Navalny relatam que ele tem sofrido perseguição na prisão e foi posto diversas vezes em solitária. Guardas teriam ainda sujeitado ele e outros presos a "tortura" ao forçá-los a ouvir discursos do presidente Putin.
ra/le (DW, Reuters)
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.