Navalny aparece magro e abatido após greve de fome
30 de abril de 2021
Líder oposicionista russo, preso desde janeiro, apareceu em público pela primeira vez depois de ficar mais de três semanas sem comer. Equipe de Navalny está fechando escritórios regionais devido a ameaças.
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O líder oposicionista russo Alexei Navalny, preso desde janeiro, compareceu nesta quinta-feira (29/04) a uma audiência legal por meio de um link de vídeo, na primeira aparição pública desde o anúncio do fim de uma greve de fome, na sexta-feira passada.
Navalny, um dos maiores críticos do presidente Vladimir Putin, passou 24 dias sem comer para protestar contra a recusa das autoridades em permitir que ele fosse examinado por um médico particular. Ele reclamava de fortes dores nas costas e dormência nas mãos e nas pernas.
Nos vídeos, foi possível ver Navalny bastante abatido, magro e com a cabeça raspada. A audiência está ligada a uma sentença de difamação que Navalny recebeu em fevereiro por insultar um veterano da Segunda Guerra Mundial.
"Fui levado a uma casa de banho ontem [quarta-feira]. Havia um espelho lá. Eu me olhei: sou apenas um esqueleto horrível", disse Navalny ao tribunal, de acordo com uma gravação de áudio divulgada pelo canal de televisão independente Dozhd.
Na audiência, Navalny voltou a criticar Putin. "Eu gostaria de dizer, minha querida Corte, que o seu imperador está nu. E não é apenas um garotinho gritando isso, que o imperador está nu", disse ele.
"Há uma coroa que escorrega nas orelhas. Há toneladas de mentiras na televisão. E há, é claro, uma enorme riqueza pessoal", acrescentou Navalny.
O tribunal manteve a decisão contra o líder oposicionista, ordenando-o a pagar multas no total de 850 mil rublos, o equivalente a cerca de R$ 60 mil.
A equipe jurídica de Navalny disse que levará o caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
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Fechamentos de escritórios
Na segunda-feira, autoridades russas ordenaram a suspensão das atividades de uma organização ligada a Navalny. Uma audiência no tribunal, supostamente marcada para 17 de maio, analisará um pedido dos promotores para classificar a organização de Navalny como extremista, assim como o Estado Islâmico e as Testemunhas de Jeová.
No começo desta quinta-feira, a equipe de Navalny disse que estava oficialmente desativando seus escritórios de campanha em todo o país.
Enquanto fazia campanha para concorrer contra Putin nas eleições presidenciais de 2018, Navalny montou uma rede de escritórios em dezenas de regiões para promover sua causa. Embora ele tenha sido impedido de concorrer, os escritórios permaneceram e continuaram investigando suborno por autoridades locais, entre outras coisas.
Para críticos, os procedimentos legais contra a fundação são um esforço do regime de Putin para eliminar uma grande ameaça ao poder do presidente.
Ivan Zhdanov, chefe da Fundação para o Combate à Corrupção, disse, em uma transmissão no YouTube nesta quinta-feira, que as atividades da organização não vão cessar, mesmo se o tribunal decidir que o grupo é extremista.
Leonid Volkov, o chefe dos escritórios regionais da fundação, afirmou que a rede seria dissolvida, alegando que o trabalho nas condições atuais é "impossível". Por outro lado, ele disse que as atividades da fundação poderiam ser retomadas, com o apoio de várias organizações políticas independentes.
Por que Navalny está na prisão?
Navalny foi preso em janeiro em Moscou ao retornar da Alemanha, onde passou cinco meses se recuperando de um envenenamento por um agente nervoso desenvolvido na época da União Soviética. Ele acusa o Kremlin de tentar matá-lo. O governo russo nega.
No começo de fevereiro, um tribunal da Rússia sentenciou Navalny a dois anos e meio de prisão. A Justiça alegou que o ativista, em sua estadia na Alemanha, violou as condições de sua liberdade condicional relacionada a uma sentença proferida em 2014, ao não se apresentar regularmente para as autoridades.
A sentença original envolve um suposto caso de fraude, num processo que foi considerado politicamente motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
A nova prisão de Navalny foi o estopim para protestos contra o Kremlin. Milhares de pessoas saíram às ruas em dezenas de cidades para exigir a libertação do ativista e demonstrar insatisfação com o governo autoritário do presidente Putin. A reação das autoridades foi dura, e mais de 10 mil pessoas foram detidas.
le (reuters, ap, afp)
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.