Navalny relata lenta recuperação após envenenamento
19 de setembro de 2020
Oposicionista russo internado em hospital de Berlim divulga foto caminhando e diz que recupera gradualmente suas forças após estar apenas "tecnicamente vivo" durante semanas. Moscou volta a negar envolvimento no caso.
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O oposicionista russo Alexei Navalny divulgou neste sábado (19/09) uma imagem em seu perfil no Instagram onde aparece caminhando nas escadarias do hospital em Berlim, no qual está internado há quase um mês após ter sido envenenado em seu país.
No texto que acompanha a imagem, ele agradece a equipe médica do Hospital Universitário Charité, na capital alemã. "Vocês me transformaram de uma pessoa 'tecnicamente viva' em alguém que tem todas as chances de se tornar novamente uma forma de vida altiva na sociedade moderna", além de estar apto a "deslizar os dedos pelo Instagram e dar curtidas sem pensar", disse Navalny.
"Agora, sou uma dessas pessoas cujas pernas tremem enquanto caminha pelas escadas", afirmou ao comentar sobre a fotografia em que aparece se apoiando em um corrimão, usando luvas cirúrgicas.
Ele conta que, até recentemente, não conseguia reconhecer as pessoas e tampouco se expressar através da fala. "Isso me levou ao desespero, porque eu basicamente entendia o que o médico queria, mas não sabia de onde tirar as palavras", relatou.
O agente nervoso Novichok, que, segundo análises, foi utilizado para envenenar o oposicionista, interrompe a comunicação entre o cérebro e os principais órgãos e músculos, enquanto é gradualmente eliminado pelo organismo, afirmam os médicos.
O ativista observou que ainda tem um longo caminho a percorrer em sua recuperação, além de muitos problemas a resolver. Segundo escreveu, o telefone pesa como uma pedra em suas mãos. "Me servir de água é um verdadeiro show", disse. O tom sarcástico utilizado na mensagem é uma característica do oposicionista russo de 44 anos.
Navalny é considerado um dos maiores críticos do presidente da Rússia, Vladimir Putin. O ativista está em tratamento em Berlim desde 22 de agosto. Ele chegou à capital alemã dois dias após dar entrada num hospital em Omsk, na Sibéria, depois de passar mal durante um voo doméstico na Rússia em 20 de agosto.
Análises toxicológicas realizadas num laboratório militar alemão constataram que ele foi envenenado com um agente nervoso do grupo Novichok, a mesma classe de agente da era soviética que o Reino Unido afirma ter sido usado no envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha em Salisbury, em 2018.
Na segunda-feira, o governo alemão disse que testes independentes feitos por laboratórios na França e na Suécia confirmaram a análise toxicológica realizada na Alemanha. O governo russo nega envolvimento no caso e solicitou evidências de Berlim para o envenenamento.
O Kremlin também rejeitou as acusações feitas pelos apoiadores de Navalny na Rússia, de que ele teria sido envenenado em um hotel na cidade de Tomsk, na Sibéria. Segundo os ativistas, análises em uma garrafa de água coletada em um hotel teriam sido analisadas por um laboratório militar alemão, que encontrou rastros do agente Novichok.
O governo russo culpa os apoiadores de Navalny de comprometerem as investigações oficiais sobre o caso com a remoção das evidências. "O que poderia ser prova de envenenamento foi, infelizmente, removido", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
A Alemanha e vários governos ocidentais cobram explicações da Rússia sobre como o oposicionista teria sido envenenado. A equipe de Navalny afirmou que, depois de recuperado, ele planeja retorna ao seu país.
RC/afp/dpa/rtr
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.