Potências que buscam acordo definitivo sobre controverso programa nuclear do país falham novamente "deadline", mas afirmam que progressos foram feitos em todas as áreas.
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As potências mundiais que tentam chegar a um acordo com o Irã sobre o controverso programa nuclear do país voltaram a estender as negociações nesta terça-feira (07/07), com todos os lados prometendo continuar discutindo até o fim desta semana.
"Vamos continuar negociando nos próximos dias", declarou a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, durante uma pausa nas negociações em Viena, na Áustria.
Os EUA afirmaram que os termos de um acordo interino de novembro de 2013 serão estendidos até esta sexta-feira, o que significa que esse é o novo deadline para as negociações. O acordo firmado há pouco mais de um ano e meio previa que o Irã reduzisse seu estoque de urânio enriquecido em troca de alívio das sanções internacionais.
"Fizemos progressos significativos em todas as áreas, mas este trabalho é altamente técnico e de grande importância para todos os países envolvidos. Estamos mais preocupados com a qualidade do acordo do que com o relógio", disse Marie Harf, porta-voz da delegação dos EUA em Viena. O acordo definitivo evitaria que Teerã desenvolvesse armas nucleares e, em troca, acabaria com o isolamento do país no cenário internacional.
Depois de conversas que se estenderam até tarde da noite nesta segunda-feira, os ministros do Exterior do chamado grupo 5+1 – formado por China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha – reuniram-se duas vezes nesta terça-feira com representantes iranianos.
Esta foi a quinta vez desde 2013 e a segunda nesta rodada de negociações, desde 2 de julho, em que o grupo 5+1 não conseguiu cumprir o prazo estipulado por ele mesmo para chegar a um acordo definitivo sobre o programa nuclear.
Mogherini admitiu que os sete países na mesa de negociações estavam "interpretando de maneira flexível o deadline, o que significa que estamos tomando o tempo, os dias de que ainda precisamos, para finalizar o acordo". Ela afirmou que ainda é possível superar as diferenças restantes e pôr um fim ao impasse com o Irã, que já dura 13 anos.
Segundo o ministro francês do Exterior, Laurent Fabius, ainda há três principais pontos de discórdia, incluindo as sanções e as exigências de Teerã de dar continuidade à pesquisa sobre centrífugas atômicas.
"No caso da França, estamos insistindo especialmente nas limitações necessárias ao desenvolvimento e à pesquisa nucleares, sanções e seu restabelecimento, e as possíveis dimensões militares", disse Fabius. O Irã afirma que não pretende desenvolver armas nucleares.
LPF/afp/dpa/rtr
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.