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Negociações entre governo sírio e oposição avançam com cautela

26 de janeiro de 2014

Ajuda humanitária foi tema de primeiras conversações em Genebra. Intuito foi criar uma base para discussão de assuntos mais polêmicos nos próximos dias, como a troca de prisioneiros e o governo de transição.

Foto: cc-by-nc-nd/UN Photo/Jean-Marc Ferré

A necessidade de garantir a entrega da ajuda humanitária na Síria e a troca de prisioneiros estavam no topo da agenda das negociações de paz entre os representantes do presidente Bashar al-Assad e da oposição, neste domingo (26/01), na conferência Genebra II. No entanto, só o primeiro tema foi abordado.

Lakhdar Brahimi, enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, comentou à imprensa que as conversações têm sido "altamente complicadas". Assim, decidiu tratar primeiramente dos temas de interesse comum a ambas as partes, antes de abordar questões as mais espinhosas.

Na série de encontros na sede da ONU em Genebra, a meta ideal, porém altamente improvável de ser alcançada, é o fim da guerra civil na Síria, que já dura três anos e custou mais de 130 mil vidas. Numa primeira vitória, graças aos esforços diplomáticos de Brahimi, neste sábado os representantes do presidente Bashar al-Assad e os da oposição no exílio, a Coalizão Nacional Síria, sentaram-se frente a frente pela primeira vez.

Oposição impaciente

Após uma reunião preliminar, em que apenas o enviado da ONU se pronunciara, o primeiro tema da tarde de sábado foi a ajuda humanitária à combalida cidade de Homs, dominada pelos rebeldes e há 18 meses sitiada pelas forças de Assad.

Mediador da ONU, Lakhdar BrahimiFoto: cc-by-nc-nd/UN Photo/Jean-Marc Ferré

Segundo Monzer Akbik, da delegação oposicionista, o governo prometera responder ao pedido de liberação da entrada de ajuda humanitária em Homs. Segundo a oposição, 500 famílias necessitam urgentemente de alimentos e medicamentos.

"Os membros do regime afirmaram que terão que retornar a Damasco para tomar uma decisão final a esse respeito, e que darão uma resposta ainda hoje", relatou Akbik, acrescentando ser essa uma estratégia para ganhar tempo. "Percebemos a falta de seriedade por parte do regime", lamentou. Alguns observadores confirmaram a impressão de tratar-se de uma tentativa de procrastinação.

Governo não honra garantias

Por outro lado, o ministro sírio da Informação, Omran al-Soabi, acenou com incentivos à ajuda humanitária. "Temos que lidar, primeiramente, com os assuntos humanitários de um modo abrangente", declarou. Os esforços para minorar o sofrimento da população síria têm sido prejudicados por ambos os lados do conflito, que com frequência bloqueiam o acesso às áreas dominadas por seus oponentes.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês) relatou dificuldades de realizar entregas de alimentos e outros recursos em Yarmouk – distrito da capital Damasco habitado por sírios e palestinos que vivem na pobreza – apesar das garantias do governo.

O porta-voz da UNRWA, Chris Guiness, afirmou que a entidade está "extremamente decepcionada que as garantias dadas pelas autoridades, de permitir a entrada rápida em Yarmouk, não foram respaldadas por ações".

Impasse na formação do governo de transição

A discussão sobre a troca de prisioneiros, um tema ainda mais polêmico, foi adiada para a segunda-feira. Até o momento, o governo sírio soltou apenas seus presos políticos, enquanto os rebeldes puseram em liberdade reféns estrangeiros do Irã e do Líbano.

Representantes da oposição disseram ter apresentado uma lista de 47 mil presos a serem libertados, além de 2.500 mulheres e crianças, que consideram prioridade. No que toca aos rebeldes sírios, por outro lado, a questão central é a libertação dos soldados e civis próximos ao regime de Assad em seu poder.

Também na segunda-feira, Lakhdar Brahimi planeja lidar com o que considera o cerne de Genebra II: o estabelecimento de um governo de transição em consenso mútuo, como foi estipulado na conferência de paz de 2012. Como declarou repetidas vezes à imprensa, o mediador da ONU insiste que as deliberações dessa primeira conferência sejam a base para as discussões atuais.

Destino de Assad é um dos entraves para formação de governo de transiçãoFoto: AFP/Getty Images

Antecipando a segunda rodada de negociações em Genebra, a Coalizão Nacional Síria havia declarado que as conversações seriam um "balão de testes" para a disposição do governo de negociar. Enquanto os oposicionistas insistem na formação de um governo de transição, os representantes do regime Assad rejeitam terminantemente a proposta – apesar de a terem acatado formalmente em 2012.

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