Mediadas pela ONU, conversas têm início sem oposição que confirma participação apenas no fim do dia. Apesar de aceitar enviar representantes ao encontro, grupo ressalta que não irá negociar inicialmente.
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O principal grupo da oposição síria concordou em ir para Genebra, onde começaram nesta sexta-feira (29/01) as negociações de paz que visam acabar com a guerra civil na Síria. O grupo ressaltou, porém, que não participará das conversas até resolver questões humanitárias.
O Comitê de Altas Negociações (HNC) – coalizão que reúne políticos e grupos armados de oposição sírios formada em dezembro na Arábia Saudita, visando à negociação em Genebra – se recusou a comparecer ao encontro, insistindo que as conversas só poderiam ter início após o fim dos ataques aéreos e do cerco às cidades.
O comitê, no entanto, voltou atrás na noite de sexta-feira e disse que, após receber garantias de suas demandas, irá a Genebra. O grupo ressaltou, porém, que sua participação no processo inicialmente será limitada.
"O HCN irá amanhã para Genebra para discutir questões humanitárias que irão pavimentar o processo político de negociações", afirmou o porta-voz Salim al-Muslat. O comitê disse ainda que elaborou uma lista com o nome de 3 mil mulheres e crianças sírias que devem ser libertadas de prisões do governo.
O enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, convidou o governo sírio e a oposição para participar de conversas de aproximação. No primeiro momento, a ONU se reunirá separadamente com representantes dos envolvidos no conflito.
Encontro com governo
De Mistura abriu a rodada negociações de paz nesta sexta-feira, em um encontro com a delegação do governo sírio. O representante da ONU disse que ainda não recebeu a confirmação formal da participação do HNC, mas espera se reunir com o grupo no domingo.
"Eles levantaram um ponto importante de sua preocupação, ver um gesto das autoridades sírias de melhorias para o povo da Síria durante as conversas", disse De Mistura, acrescentando que a melhor maneira para alcançar esse objetivo seria começar a negociar em Genebra.
A delegação do governo do presidente Bashar al-Assad chegou em Genebra na sexta-feira à tarde. O grupo é chefiado pelo embaixador sírio na ONU, Bashar al-Jaafari. Opositores que não fazem parte do HNC também estão na cidade suíça.
Já os curdos, que controlam parte do nordeste da Síria , foram excluído das negociações, por exigência da Turquia que os considera um grupo terrorista. Os curdos disseram que sua ausência significa que as conversas estão fadadas ao fracasso.
A guerra civil na Síria, que começou em março de 2011 e já fez mais de 260 mil mortos e deixou milhões de deslocados, originou duas séries de negociações em Genebra, denominadas Genebra 1 e Genebra 2, que não obtiveram resultados.
CN/rtr/ap/lusa
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.