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Negociações sobre crise grega em suspenso até referendo

1 de julho de 2015

Tsipras acusa instituições europeias de conduta antidemocrática e, embora faça concessões, mantém tom de confronto. Merkel diz que porta do diálogo está aberta, mas conversas só devem avançar após votação de domingo.

Foto: Reuters/Y. Behrakis

No dia seguinte a oficialização do "calote técnico" dado pela Grécia ao Fundo Monetário Internacional (FMI), as negociações sobre um acordo entre Atenas e seus credores internacionais continuaram nesta quarta-feira (01/07). Declarações de autoridades políticas dão a entender que, apesar de o premiê grego, Alexis Tsipras, ter dado concessões, as chances de um entendimento antes do referendo de domingo são mínimas.

Com isso, a Grécia seguirá sem poder quitar sua dívida de 1,6 bilhão com o FMI, pois precisa chegar a um entendimento com as instituições europeias – Banco Central Europeu e Comissão Europeia – e com os outros 18 países-membros da zona do euro para desbloquear os 7,2 bilhões de euros da última parcela do pacote de resgate financeiro.

Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro grego enviou outra carta às instituições europeias, na qual afirma que Atenas aceita as reformas propostas pela Comissão Europeia, sob condição de que sejam feitas algumas "alterações, adições ou esclarecimentos".

Segundo o texto, ao qual o jornal Financial Times teve acesso, as propostas adicionais incluem a manutenção de um imposto de valor agregado às ilhas gregas, o adiamento por vários meses de reformas que afetam a idade mínima para aposentadoria, além da manutenção de uma "bolsa solidariedade" aos pensionistas pobres por um prazo maior do que havia sido especificado na proposta feita pelos credores.

"Eles querem sufocar nossos bancos"

Se no início do dia Tsipras ainda se mostrou receptivo, à tarde o premiê grego não deu sinais de flexibilidade diante das câmeras de televisão em Atenas. Ele acusou os colegas europeus de negociação de comportamento antidemocrático e chegou a afirmar que a Grécia estava sendo "chantageada".

Após enviar carta às instiuições europeias aceitando as reformas propostas, Tsipras acusa os doadores internacionais de contuda antidemocráticaFoto: Getty Images/Greek Prime Minister's Office

"Eles querem nos sufocar. Eles querem sufocar nossos bancos", disse o chefe de governo da Grécia. "É uma vergonha estarmos passando por essas cenas humilhantes. Eles querem fechar nossos bancos, porque queremos uma votação", completou Tsipras, citando o referendo, marcado para o domingo (05/07), em que os gregos decidirão se aceitam ou não as medidas sugeridas pelos credores em troca de um novo pacote de resgate.

Ele também estava se referindo às longas filas de pensionistas que estavam tentando retirar suas aposentadorias de alguns bancos nesta quarta-feira. A Grécia teve de fechar os bancos por ao menos uma semana, pois, depois do fracasso das negociações com os credores, o fluxo de capital precisou ser controlado.

No fim de seu discurso, o chefe de governo esquerdista disse querer que a Grécia permaneça na zona do euro, mas apelou aos seus compatriotas que votem "não para chantagem e austeridade" no referendo de domingo. Com este resultado, Tsipras esperar obter uma posição mais forte na mesa de negociações.

A votação – que o governo grego propôs suspender numa tentativa de última hora de conseguir o importante acordo na última terça-feira – tem se mostrado como uma barreira para um progresso nas conversações.

Merkel: "Porta ao diálogo aberta"

Em discurso no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), a chanceler federal alemã, Angela Merkel, rejeitou liberar novos recursos à Grécia antes do resultado da votação popular. "Vamos aguardar o resultado do referendo. Antes disso, não seremos capazes de discutir quaisquer pacotes de ajuda", disse Merkel, acrescentando que a Europa segue forte, até mais forte do que ela era "cinco anos atrás, quando começou a crise na Grécia".

Merkel: "Vamos aguardar o resultado do referendo. Antes disso, não seremos capazes de discutir quaisquer ajuda"Foto: picture-alliance/dpa/R. Jensen

A chanceler federal reiterou que o povo grego deve ser estar no centro das atenções durante todas as futuras negociações.

"Temos alguns dias turbulentos atrás de nós, mas ainda há muitos outros dias turbulentos pela frente para a Grécia", disse Merkel. "Temos de lembrar do povo grego. Eles são um povo orgulhoso e terão de superar muitos dias difíceis. Mas a porta para o diálogo com a Grécia continua aberta. Devemos isso ao povo grego."

Eurogrupo suspende negociações

Também em reação ao discurso televisionado de Tsipras, o chefe do Eurogrupo, o ministro das Finanças da Holanda, Jeron Dijsselbloem, afirmou que os ministros das Finanças da zona do euro discutirão novas propostas enviadas por Atenas, mas que vê "pouca chance" de avanço após os comentários do premiê grego.

"Vamos falar sobre as propostas, mas com este último discurso [de Tsipras] vejo pouca perspectiva de progresso", afirmou Dijsselbloem a jornalistas.

Em conferência telefônica, os ministros das Finanças concordaram em não manter mais conversações sobre a ajuda financeira à Grécia antes do resultado do referendo grego. "Eurogrupo unido na decisão de esperar pelo resultado do referendo na Grécia antes de quaisquer novas negociações", escreveu o ministro eslovaco Peter Kazimir. "Não devemos colocar a carroça na frente dos bois".

PV/afp/ap/rtr/dpa/efe/dw

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