Negociações sobre programa nuclear no Irã prorrogadas até meados de 2015
24 de novembro de 2014
Teerã e as potências mundiais do G5+1 não chegaram a acordo sobre programa nuclear. País asiático continuará acessando cerca de 700 milhões de dólares por mês em alívios de sanções. Futuro acordo é visto com ceticismo.
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O Irã e as seis potências mundiais do G5+1 não chegaram a um acordo sobre a questão nuclear até o prazo estipulado para esta segunda-feira (24/11) e decidiram estender as negociações por mais sete meses. É a segunda vez neste ano que as negociações entre Teerã e as potências ocidentais não chegam a um desfecho.
"Tivemos que concluir que não é possível chegar a um acordo no prazo que fora estipulado e, portanto, vamos estender o JPOA até 30 de junho de 2015", disse o secretário britânico do Exterior, Philip Hammond, após seis dias de conversações em Viena.
Hammond se referiu ao chamado Plano de Ação Conjunta (JPOA, em inglês), um acordo provisório acertado entre Irã e as seis potências em novembro de 2013, em Genebra. Na época, Teerã concordou em interromper o enriquecimento de urânio acima de 5% em troca da flexibilização de alguma sanções econômicas, incluindo o acesso a receitas de petróleo congeladas no exterior.
O secretário britânico adicionou que não está claro aonde serão realizadas as conversações nos próximos meses. Ele confirmou, porém, que neste período adicional, o Irã continuará tendo acesso a cerca de 700 milhões de dólares por mês em alívios de sanções. Uma fonte que acompanhou as negociações em Viena e não quis ser identificada, disse que as conversações devem continuar em Omã.
Em discurso na televisão estatal, o presidente iraniano, Hassan Rohani, disse que nas conversações em Viena "muitas lacunas foram estreitadas nossas posições com o outro lado se aproximaram".
Já o secretário de Estado americano, John Kerry, fez uma avaliação mais sombria das negociações, segundo a qual "progressos reais e substanciais foram feitos", mas "alguns pontos importantes de desacordo se mantiveram". "Estas negociações não vão ficar mais fáceis apenas porque as adiamos. Elas são duras. Elas têm sido duras. E elas vão seguir sendo duras ", afirmou à imprensa.
Ceticismo em relação a futuro acordo
Autoridades ocidentais disseram que estavam tentando garantir um acordo final até março, mas que seria necessário mais tempo para atingir consenso em todos os detalhes técnicos importantes.
A atual rodada de discussões também parece não ter apresentado progresso substancial. Um diplomata, sob condição de anonimato, expressou pessimismo sobre as perspectivas de um acordo em sete meses. "Há 10 anos propostas e ideias são apresentadas. Não falta nada. É essencialmente um questão de escolha. Os iranianos não estão se mexendo. É uma escolha política", afirmou. "Estou não acredito que vamos conseguir chegar a um acordo, mesmo com a extensão do prazo para negociações."
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.