Teóricos da cultura Aleida e Jan Assmann recebem Prêmio da Paz na Alemanha. Em discurso, frisam que a democracia se faz com argumentos, não com conflitos, e condenam vozes que ameaçam as bases da diversidade de opiniões.
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Os escritores e teóricos da cultura Aleida e Jan Assmann receberam neste domingo (14/10), na Feira do Livro de Frankfurt, o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão. Em discurso, eles clamaram por solidariedade em todo o mundo a favor da democracia e em resposta à ascensão do nacionalismo.
Aleida Assmann, uma acadêmica literária de 71 anos, foi honrada com o prêmio por seus estudos em torno da cultura da lembrança – a interação de um indivíduo ou sociedade com seu passado e história –, enquanto seu marido, de 80 anos, um egiptólogo, foi homenageado por ter iniciado debates internacionais sobre conflitos culturais e religiosos nos tempos atuais.
O prêmio vem em meio à ascensão da extrema direita na Alemanha, com a crescente popularidade do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e com um aumento do sentimento anti-imigração após a chegada de mais de um milhão de refugiados ao país. Protestos tanto contra o refúgio a migrantes como contra a xenofobia têm sido registrados.
Diante de uma plateia de mil pessoas reunidas na igreja Paulskirche, em Frankfurt, o casal vencedor do prêmio enfatizou a importância da diversidade de opiniões dentro de uma sociedade democrática, afirmando que discussões e debates fortalecem a democracia – mas frisou haver limites.
Para os Assmann, "nem toda voz contrária merece respeito". "Aqueles que ameaçam as bases da diversidade de opiniões perdem o respeito", afirmaram, frisando a importância de "convicções inquestionáveis e consensos básicos", como a Constituição, os direitos humanos, a divisão de Poderes e a independência da Justiça e da imprensa.
Os premiados argumentaram ainda que atos violentos – como os supostamente cometidos contra imigrantes durante os protestos convocados por extremistas de direita em Chemnitz, no leste da Alemanha – tendem a paralisar a democracia. "A democracia depende de argumentos, e não de conflitos", disseram.
Eles também defenderam a memória histórica como um elemento crucial na formação da identidade de uma sociedade – e como forma de não repetir os erros cometidos no passado.
"A nação não é um santo graal para nos salvar da profanação, e sim uma união de pessoas que também se lembram de episódios vergonhosos de sua história e assumem a responsabilidade pelos terríveis crimes cometidos em seu nome", disse Aleida Assmann.
A pesquisadora ressaltou que "vergonhosa é apenas a história, e não a memória libertadora que surge dela". "Portanto, a identidade não se forma negando, ignorando ou esquecendo [a história], mas requer uma memória que permita a prestação de contas e a responsabilidade."
O Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão é uma das mais importantes distinções literárias do país, premiando escritores, filósofos e cientistas desde 1950.
O comitê que concedeu a honraria aos Assmann descreveu o trabalho do casal como "de grande significado para os debates contemporâneos e, em particular, para a coexistência pacífica no mundo". Os vencedores adiantaram que pretendem doar o prêmio de 25 mil euros a três iniciativas que trabalham para a integração de migrantes.
Em 2017, quem levou o Prêmio da Paz foi a escritora canadense Margaret Atwood, autora de O conto da aia (1985), livro que inspirou a premiada série de televisão The handmaid's tale.
Entre outras personalidades distinguidas estão Albert Schweitzer (1951), Hermann Hesse (1955), Astrid Lindgren (1978), Siegfried Lenz (1988), Mario Vargas Llosa (1996), Martin Walser (1998), Jürgen Habermas (2001), Orhan Pamuk (2005) e David Grossman (2010).
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
Foto: picture-alliance/dpa
Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.