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Neonazista é preso na Alemanha 30 anos após cometer crime

4 de abril de 2022

Homem de 49 anos foi acusado de atear fogo em um abrigo de refugiados em setembro de 1991, matando uma pessoa e ferindo duas. Caso avançou após promotores federais assumirem a investigação em 2020.

Manifestante seguram uma faixa pedindo justiça
Manifestantes pedem justiça por Yeboah, em um protesto no ano passoFoto: BeckerBredel/IMAGO

Após mais de três décadas de investigações, promotores federais da Alemanha anunciaram nesta segunda-feira (04/04) a prisão de um extremista de direita acusado de provocar intencionalmente um incêndio em um lar de refugiados no oeste do país. 

O ato resultou na morte de uma pessoa e feriu outras duas em setembro de 1991, durante uma onda de violência neonazista contra imigrantes após a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha.

O suspeito foi identificado apenas como Peter S., seguindo as leis de privacidade alemãs. Ele foi acusado de homicídio, tentativa de homicídio e incêndio criminoso.

Em janeiro deste ano, investigadores alemães anunciaram que haviam descoberto novas pistas no caso após mais de 30 anos.

O que se sabe sobre o crime

De acordo com os promotores, Peter S., agora com 49 anos, passou a noite de 18 de setembro de 1991 com outros membros da cena de extrema-direita em um bar na pequena cidade de Saarlouis, no estado do Sarre. 

Samuel Yeboah tinha 27 anos quando morreu devido ao incêndio criminosoFoto: Landespolizeipräsidium Saarland

O grupo conversou sobre uma série de ataques racistas e xenófobos que estavam ocorrendo na cidade de Hoyerswerda, no leste da Alemanha. Na ocasião, neonazistas atacaram camelôs estrangeiros e lançaram coquetéis molotov contra um prédio que abrigava refugiados. Segundo os promotores, membros do grupo de Saarlouis discutiram apoio se algo semelhante ocorresse na cidade do oeste alemão.

Ainda de acordo com os promotores, após o fechamento do bar, o suspeito foi a uma residência para requerentes de asilo em Saarlouis, derramou gasolina na escada e ateou fogo no prédio.

As chamas se espalharam rapidamente. Dos os 21 residentes, 18 escaparam ilesos. Dois moradores sofreram fraturas ao pular de janelas para escapar das chamas. Samuel Yeboah, de 27 anos, natural de Gana, que estava dormindo no momento do incêndio, sofreu queimaduras graves e inalação de fumaça e morreu no hospital algumas horas depois.

Segundo a revista Der Spiegel, Peter S. nasceu em Saarlouis, perto da fronteira francesa, e era uma figura de destaque na cena neonazista local. Ele teria participado de uma manifestação de extrema-direita em 1996, com dois membros da célula terrorista neonazista NSU, que esteve por trás de uma série de assassinatos entre 2000 e 2011.

Peter S. deve agora comparecer perante um juiz, que determinará se ele será mantido sob custódia.

Imagens da polícia mostram como ficou o abrigo após o ataqueFoto: Landespolizeipräsidium Saarland

Novas investigações

Os promotores federais assumiram a investigação em abril de 2020 com base em "novas descobertas". De acordo com um comunicado divulgado nesta segunda-feira, havia "sérios indícios" de uma motivação extremista de direita e racista no ataque, que foram confirmados no decorrer da investigação.

Nesta segunda-feira, o chefe de polícia do estado do Sarre disse estar aliviado que o caso aparentemente tenha sido resolvido. No entanto, a polícia ainda tem a missão de determinar as falhas na investigação na época do crime.

"Peço desculpas em nome da polícia estadual pelo fato de que as deficiências no trabalho da polícia na época evidentemente ajudaram a encerrar as investigações", disse Norbert Rupp, em um comunicado.

Crime político

Nos quase 31 anos que transcorreram da morte de Yeboah, ativistas de esquerda pediram repetidamente que o ataque fosse reconhecido como crime político e que promotores federais assumissem a investigação.

Uma nova onda de violência de extremistas de direita após o afluxo de refugiados em 2015 aumentou a pressão sobre as autoridades alemãs para que adotassem uma postura mais dura em relação aos crimes contra estrangeiros.

A Alemanha já tinha passado por algo semelhante nos anos 1990.

Em setembro de 1991, por quase uma semana, a cidade de Hoyerswerda foi palco de ataques a refugiados e trabalhadores estrangeiros, incluindo o ataque com coquetéis molotov a um bloco de apartamentos que abrigava refugiados. Mais de 30 pessoas ficaram feridas durante os tumultos.

No ano seguinte, em Rostock, no norte da Alemanha, centenas de extremistas de direita atiraram pedras e coquetéis molotov contra um prédio que abrigava requerentes de asilo.

Em novembro de 1992, na cidade de Mölln, também no norte, dois militantes de extrema direita lançaram ataques incendiários contra casas de duas famílias turcas. Uma mulher e duas meninas morreram.

Em 1993, skinheads de extrema direita incendiaram a casa de uma família turca na cidade de Solingen, matando três meninas e duas mulheres.

Justiça após 30 anos

A prisão de um suspeito depois de tanto tempo é um sinal importante, especialmente para os sobreviventes, disse Ursula Quack, do Conselho de Refugiados do Sarre.

"É bom que agora esteja claro que foi um ataque racista incendiário no qual uma pessoa, Samuel Yeboah, morreu", destacou.

Segundo ela, os sobreviventes passaram por eventos traumáticos durante o ataque e não foram reconhecidos por décadas como vítimas de violência racista.

O conselho de refugiados está em contato com alguns sobreviventes, três dos quais vivem no Sarre. De acordo com Quack, se o suspeito for condenado, pode se tornar mais viável que as vítimas recebam indenização pelo ataque extremista.

le (AFP, AP, EPD, KNA)