Médico alemão que viajou ao país asiático como voluntário diz que situação na região do terremoto é devastadora. Em entrevista à DW, ele ressalta que, a cada hora, as chances de encontrar sobreviventes diminuem.
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Segundo dados oficiais, o terremoto no Nepal já deixou mais de 5 mil mortos, 8 mil feridos e afetou mais de 8 milhões de pessoas em todo o país. Médicos estrangeiros viajam até a região como voluntários para tratar os feridos.
Um deles é o cirurgião e alpinista alemão Matthias Baumann, que espera fazer sua primeira cirurgia nesta quarta-feira (29/04). Em entrevista à DW, ele fala sobre as dificuldades na região da catástrofe.
DW: Quando começou seu trabalho no Nepal? Qual é a situação no local?
Matthias Baumann: Eu cheguei em Katmandu já na noite de segunda-feira. A chegada atrasou porque ficamos voando em círculos sobre a capital por três horas até recebermos autorização para pousar. Outros tiveram menos sorte e precisaram voltar para Déli, na Índia. A nossa aeronave pôde pousar porque havia uma equipe de ajuda humanitária a bordo. E já na chegada, pude observar que muitas pessoas estavam dormindo em tendas do lado de fora de seus prédios,por causa da réplica do terremoto. Efoi o que também fiz. Agora estou tentando conseguir uma licença do Ministério da Saúde para poder realizar operações no Nepal. A previsão é de que eu comece a atuar como cirurgião nesta quarta-feira.
Existem clínicas intactas onde você pode trabalhar?
Sim, existem. Já visitei duas, onde médicos indianos já estão atuando. Vou trabalhar num hospital distrital um pouco afastado de Katmandu. Esse hospital também não foi destruído.
Qual é a dimensão da destruição?
Em Katmandu, cerca de mil pessoas foram afetadas. O terremoto atingiu com maior força a região às margens do rio. A torre considerada Patrimônio Mundial da Unesco também foi destruída. Lá morreram 200 pessoas. Em Katmandu, os danos se concentram em algumas partes da cidade. Em outras regiões, não há nenhum sinal do terremoto. Fora da cidade, em direção ao epicentro do tremor, as imagens são mais devastadoras. O hospital onde vou trabalhar fica mais próximo do epicentro.
Na sua experiência, por quanto tempo, após o sismo, ainda há esperança de resgatar feridos e soterrados?
Já houve casos de terremotos em que sobreviventes foram encontrados sete dias após o desastre. Mas a cada hora as chances diminuem. Aqui, a chegada das equipes de resgate já foi difícil, porque o aeroporto estava fechado. Antes eu estava numa área de desastre onde uma força de resgate chinesa buscava por sobreviventes. Na casa devia haver umas 20 pessoas, e não há como saber se elas estão vivas ou mortas.
Você foi enviado em nome de alguma organização ou decidiu ir por conta própria?
Vim por conta própria, para chegar o mais rápido possível. Tenho muitos contatos no Nepal e conheço muitos médicos aqui. Com uma organização, talvez as coisas demorassem mais, e eu não queria esperar.
O alpinismo e o turismo cultural são fontes de renda muito importantes para o país. Quanto tempo você acha que ainda vai demorar até o turismo se restabelecer?
Depois do que aconteceu no Everest [o terremoto desencadeou uma avalanche que matou ao menos 19 alpinistas], tudo está em questão. Por aqui, a opinião é de que, com o terremoto, o Nepal regrediu 20 anos em desenvolvimento.
O alpinismo no Himalaia é uma atividade muito cara. O que se ouve é que os turistas ocidentais estão sendo transportados de helicóptero, algo com que o nepalês comum só pode sonhar. Isso não é questionável?
Pessoalmente também acho isso muito questionável. À região onde existe um número absurdo de vítimas não chegou nenhum helicóptero. Aos meus olhos, o trabalho é desproporcional.
Patrimônio Mundial destruído no Nepal
Terremoto devastador matou e feriu milhares de pessoas. Tremor também foi duro golpe contra a rica herança cultural do país asiático.
Foto: P. Mathema/AFP/Getty Images
Vale de Katmandu
O terremoto no Nepal danificou bastante o coração cultural e espiritual do país. No vale de Katmandu, no sopé do Himalaia, há sete monumentos considerados Patrimônio Mundial da Unesco ao longo de poucos quilômetros. Na foto, tirada antes do terremoto, vê-se um deles: os mosteiros de Swayambhunath.
Foto: Imago
As estupas budistas de Swayambhunath
As estupas e os mosteiros budistas de Swayambhunath (foto) formam um centro espiritual no Nepal. A estupa de Bodhnath, as praças Durbar das três cidades reais e os templos hindus de Pashupatinath e Changu Narayan, fora de Katmandu, também estão na lista de Patrimônios Mundiais.
Antigamente, famílias reais viviam nos palácios da praça Durbar de Bhaktapur (foto), da praça Durbar em Katmandu e da praça Durbar de Patan. Foi somente no final de 2007 que o Nepal aboliu a monarquia e proclamou a república no ano seguinte.
Foto: picture alliance / ZUMAPRESS/P. Gordon
Praça Durbar de Bhaktapur, após o terremoto
Nas cidades reais de Bhaktapur (foto), Patan e no centro de Katmandu, vários templos e estátuas dos séculos 12 até o 18 foram danificados ou completamente destruídos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/N. Shrestha
Praça Durbar de Katmandu, antes do terremoto
Na Praça Durbar de Katmandu, capital do Nepal, havia vários pagodes característicos do país, com dois ou três andares.
Foto: P. Mathema/AFP/Getty Images
Praça Durbar de Katmandu, após o terremoto
O terremoto destruiu os pagodes. O especialista P. D. Balaji, da Universidade de Madras, na Índia, questiona se os prédios poderão ser totalmente reconstruídos. "É uma perda irreparável para o Nepal e para o resto do mundo."
Foto: P. Mathema/AFP/Getty Images
Torre Dharahara, antes do terremoto
Entre as atrações de Katmandu estava esta torre de nove andares e 62 metros de altura. Ela também desabou durante o terremoto, no último sábado (25/04) à tarde.
Foto: imago
Torre Dharahara ,após o terremoto
Da torre, que tinha uma escada em espiral de 200 degraus, só restou a base. Equipes de socorro tentaram resgatar cerca de 50 pessoas que ficaram sob os escombros, noticiou uma emissora de televisão. O forte terremoto de 1934 já havia destruído a torre de doze andares, construída em 1826 e que, mais tarde, foi reconstruída.
Foto: P. Mathema/AFP/Getty Images
Templos de Changu Narayan
Os quatro templos e três palácios, reconhecidos pela Unesco em 2006 como Patrimônio Mundial, são testemunhos da história política e religiosa do Nepal.
Foto: imago
Templo de Pashupatinath
O templo hindu é um dos mais importantes do gênero no Nepal. Hinduísmo e budismo se disseminaram ao longo dos séculos no Nepal e levaram à construção de templos magníficos, a partir do século 5.
Foto: picture alliance/ANN/The Star
Local de nascimento de Buda
No total, há no Nepal, além do vale de Katmandu, três outros locais com Patrimônios Mundiais: Lumbini (foto), o parque nacional de Chitwan e o parque nacional de Sagarmatha . A Unesco busca informações sobre a situação de Lumbini. A cidade, cerca de 280 quilômetros a oeste de Katmandu, é considerada o local onde Buda nasceu.
Foto: AFP/Getty Images/K. Knight
Um dos países mais pobres da região
O epicentro do terremoto no último sábado fica cerca de 80 quilômetros a oeste da capital Katmandu. O terremoto, com 7,8 de magnitude, ocorreu a uma baixa profundidade, tendo consequências mais graves. O Nepal é um dos países mais pobres do sul da Ásia. O país tem 28 milhões de habitantes, e a economia é quase totalmente dependente do turismo.