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Netanyahu promete anexar parte da Cisjordânia se reeleito

10 de setembro de 2019

Premiê israelense está de olho no Vale do Jordão, onde vivem dois milhões de palestinos. ONU fala em ameaça à solução de dois Estados, e autoridades palestinas dizem que medida destruiria todas as chances de paz.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu
Adversários acusam Netanyahu de uma jogada cínica para atrair votos de nacionalistas de direita a uma semana da eleiçãoFoto: Reuters/R. Zvulun

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu nesta terça-feira (10/09) que, caso seja reeleito na próxima semana, pretende anexar parte da Cisjordânia ocupada, uma medida que ameaça inflamar o conflito entre israelenses e palestinos ao reduzir as esperanças de uma solução de dois Estados.

"Hoje anuncio minha intenção, após o estabelecimento de um novo governo, de aplicar a soberania israelense no Vale do Jordão e no norte do mar Morto", afirmou Netanyahu num discurso exibido na televisão israelense. Mostrando um mapa, ele chamou a área de "fronteira oriental de Israel".

O premiê adiantou que pretende anexar também outros assentamentos israelenses na Cisjordânia, mas somente após consultar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. "Estou esperando para fazer isso em máxima coordenação com Trump", declarou.

Netanyahu afirmou ainda que o plano de paz para o conflito entre israelenses e palestinos, que vem sendo preparado junto com Washington, será apresentado depois das eleições, e pediu apoio da população, com o voto, para que ele lidere as negociações.

A anexação prometida por Netanyahu pode vir a tomar permanentemente um terço da Cisjordânia, deixando os palestinos com pouco mais do que isolados enclaves.

Ele não deixou claro o que pretende fazer com os dois milhões de palestinos que vivem hoje no Vale do Jordão, considerado celeiro do almejado Estado da Palestina.

O anúncio foi visto como uma tentativa de última hora de Netanyahu de angariar votos de seus apoiadores antes das eleições gerais em Israel em 17 de setembro. Espera-se uma disputa acirrada entre o partido do primeiro-ministro, o direitista Likud, e a aliança centrista e liberal Azul e Branco, liderada pelo ex-chefe militar Benny Gantz.

O pleito foi convocado após Netanyahu ter fracassado em formar um governo de coalizão em maio, criando uma situação sem precedentes no país: a realização de uma segunda eleição geral em um mesmo ano, além da dissolução do parlamento apenas um mês depois de ter tomado posse.

Se Netanyahu for reeleito e cumprir a controversa promessa de anexar parte da Cisjordânia, a medida acabaria com a possibilidade de uma solução de dois Estados para o conflito, que há muito tempo tem sido foco da diplomacia internacional.

Reações indignadas

Os palestinos reagiram imediatamente ao anúncio do líder israelense, afirmando que ele destrói qualquer esperança de paz entre os dois povos, enquanto adversários eleitorais acusam Netanyahu de aplicar uma jogada cínica a fim de atrair votos de nacionalistas de direita a uma semana das eleições.

Uma alta autoridade palestina afirmou que a promessa coloca em risco o processo de paz na região. "Ele não está apenas destruindo a solução de dois Estados, mas também todas as chances de paz", afirmou Hanan Ashrawi à agência de notícias AFP. "É um completo divisor de águas."

Antes do anúncio, o líder da Autoridade Nacional Palestina, Mohammad Shtayyeh, já havia alertado contra essa medida, afirmando que "o território palestino não faz parte da campanha eleitoral de Netanyahu".

As Nações Unidas também se pronunciaram nesta terça-feira, dizendo que qualquer decisão israelense de "impor suas leis, jurisdições e administração na Cisjordânia ocupada" não teria "efeito legal internacional".

"A posição do secretário-geral [António Guterres] sempre foi clara: ações unilaterais não são úteis ao processo de paz", afirmou o porta-voz da ONU Stéphane Dujarric. A anexação do Vale do Jordão "seria devastadora para o potencial de reavivar as negociações, a paz regional e a própria essência de uma solução de dois Estados", acrescentou.

Por sua vez, o ministro do Exterior da Jordânia, Ayman Safadi, afirmou que o passo "levaria toda a região para a violência". "As medidas unilaterais que ele [Netanyahu] propõe arriscam matar todo o processo de paz e representam uma ameaça à paz e à segurança na região."

A Jordânia, que é guardiã dos locais sagrados muçulmanos em Jerusalém oriental, anexada por Israel, tem um tratado de paz com o Estado judaico, firmado em 1994.

Chanceleres árabes também condenaram os planos de Netanyahu, afirmou Ahmed Aboul Gheit, secretário-geral da Liga Árabe, após um encontro no Cairo entre os ministros do Exterior dos países que compõem a organização. Segundo ele, uma anexação minaria qualquer chance de progresso no processo de paz entre israelenses e palestinos.

O Vale do Jordão compreende cerca de um terço da Cisjordânia e contém numerosos assentamentos israelenses, considerados ilegais sob a lei internacional pela maioria dos países do mundo.

Trata-se de um território de 2.400 quilômetros quadrados que se estende do mar Morto, no sul, à cidade israelense de Beit Shean, no norte. Os palestinos desejam que o Vale do Jordão sirva como perímetro oriental de seu próprio Estado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

EK/afp/ap/efe/rtr

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