Chega ao júri a polêmica sobre a participação do serviço de streaming no festival francês, gerando embate entre o cineasta Pedro Almodóvar e o ator Will Smith. Duas produções da Netflix disputam a Palma de Ouro.
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A 70ª edição do Festival de Cannes teve início nesta quarta-feira (17/05), e um debate acalorado sobre salas de cinema versus serviços de streaming, como a Netflix, que traz filmes à competição, centrou a entrevista de abertura com o júri do festival, presidido pelo cineasta Pedro Almodóvar.
"Eu não posso conceber que a Palma de Ouro, assim como qualquer outro prêmio, seja concedida a um filme que não será exibido depois numa sala de cinema", declarou o espanhol à imprensa.
"Isso não quer dizer que não estou aberto ou que não respeito novas tecnologias e as possibilidades que elas oferecem. Reconheço-as, mas enquanto eu estiver vivo, lutarei por algo que acredito que a nova geração não compreende: a capacidade de hipnose da tela grande", acrescentou Almodóvar.
Em contraponto, o ator Will Smith, que também faz parte do júri do festival francês neste ano, saiu em defesa da plataforma de streaming, afirmando que a Netflix aumentou a "compreensão cinematográfica global" de seus três filhos, que têm 16, 18 e 24 anos de idade.
Smith, que estrela o filme Bright, em fase de pós-produção pela Netflix, disse ainda que os filhos, apesar de usuários assíduos do serviço de streaming, frequentam as salas de cinema regularmente.
"Na minha casa, a Netflix não afetou o hábito dos meus filhos de ir ao cinema. Eles vão para serem impactados por certas imagens e ficam em casa para outros filmes. Na minha casa, a Netflix só foi benéfica, eles assistem a coisas que jamais veriam", disparou o ator durante a coletiva em Cannes.
Duas produções da Netflix entraram na disputa pela Palma de Ouro neste ano: Okja, de Bong Joon Ho, e The Meyerowitz Stories, de Noah Baumbach. Os filmes serão lançados na plataforma de exibição pela internet, ficando disponíveis apenas aos assinantes, e não devem chegar às telonas.
A polêmica sobre a participação da Netflix na competição, que ocorre pela primeira vez, não é de hoje. Na semana passada, a organização do festival anunciou mudanças nas regras, decidindo que, a partir do ano que vem, todo filme que concorrer à Palma de Ouro deve ser lançado nos cinemas franceses.
EK/afp/ap/dpa/lusa/rtr
O cinema entre a Alemanha e o Brasil
A DW selecionou alguns filmes que abordam a interseção cultural entre Brasil e Alemanha.
Foto: João Ricardo
A outra pátria
Dirigido por Edgar Reitz (2013), "A outra pátria" fala da onda de emigração de alemães da região do Hunsrück para o Brasil entre os anos de 1842 e 1845, em fuga da pobreza e da fome. O longa-metragem é uma espécie de prólogo da conhecida série "Heimat" (palavra alemã para pátria ou lugar de origem), série dirigida por Reitz com mais de 15 horas de duração sobre a história alemã.
Filme dirigido por Maria Schrader, "Vor der Morgenröte" (Antes da aurora, 2016) retrata os últimos anos de vida de Stefan Zweig. Dividido em seis episódios, o longa reconstrói o exílio do escritor austríaco no Brasil, após sua fuga do nazismo na Europa. Zweig, que acabou se suicidando em Petrópolis, em 1942, oscilava entre a gratidão pela acolhida no Brasil e a nostalgia de um tempo passado.
Foto: X Verleih AG
Muito romântico
Melissa Dullius e Gustavo Jahn atravessam o Oceano Atlântico, em um navio de carga rumo a Berlim, na busca de novas experiências. Na transição lenta, o casal passa o tempo lendo e fotografando. "Muito romântico" (2016) mistura lembranças e encenações, tendo Berlim, cidade em constante transformação, como centro da narrativa construída a partir da perspectiva romântica e singular dos cineastas.
Foto: Distruktur
Outro Sertão
Documentário de 2013 sobre João Guimarães Rosa como diplomata na Alemanha sob o regime nazista. O filme, dirigido por Soraia Vilela e Adriana Jacobsen, resgata a estada do então diplomata em Hamburgo (1938-1942) e traz depoimentos de judeus que deixaram a Alemanha e emigraram para o Brasil naquele momento. Destaque é uma entrevista inédita de Guimarães Rosa à TV alemã, concedida em 1962.
Foto: Outro Sertão
Walachai
O documentário (2011) parte da experiência pessoal da diretora Rejane Zilles em um vilarejo de descendentes de imigrantes alemães, que resistem às mudanças do tempo, mantendo as raízes culturais e o dialeto do Hunsrück, região do oeste alemão. A diretora volta ao povoado e reúne mais de 40 horas de depoimentos entre os moradores, selecionados em quase uma hora e meia de documentário.
Foto: João Ricardo
Praia do futuro
Dirigido por Karim Aïnouz, diretor brasileiro que vive em Berlim, o filme foi rodado em Berlim, Fortaleza e na costa alemã do Mar do Norte. Lançado em 2014, o longa-metragem conta a história de amor entre o salva-vidas Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clemens Schick).
Foto: Alexandre Ermel
Menino 23
O documentário "Menino 23", de Belisário Franca, tem como ponto de partida as investigações do historiador Sidney Aguilar Filho sobre tijolos marcados com a suástica nazista, encontrados no interior do Brasil, que revelam a história de meninos órfãos e negros, vítimas de um projeto criminoso de eugenia. Aloizio Silva, o "menino 23", sobreviveu até os 93 anos.
Foto: Globo Filmes/Menino23
Cinema, aspirinas e urubus
Com direção de Marcelo Gomes, o filme de 2005 narra a história de um alemão que, em fuga da Segunda Guerra Mundial, vai trabalhar como vendedor de aspirinas no sertão nordestino. As aspirinas são, porém, uma forma de viabilizar a exibição de filmes promocionais nos vilarejos. No caminho, o protagonista encontra um nordestino que tenta seguir para o Rio de Janeiro e o encontro muda a vida de ambos.
Foto: Divulgação/Presse
Ilha dos esquecidos
Longa-metragem de 1999, dirigido por Thomas Keller e Andreas Weiser, é um filme sobre o presídio que existiu na Ilha Grande (Rio de Janeiro) até o ano de 1994. O documentário resgata a história dos moradores do lugar, que eram obrigados a aceitar as limitações constantes da ilha que servia de sede a uma penitenciária, para logo depois terem que aprender a lidar com a nova liberdade.
Foto: Andreas Weiser
Os Mucker
"Os Mucker" (1978), de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer, recria os acontecimentos da revolta na gaúcha Ferrabraz, no século 19, quando um movimento de caráter religioso, formado por imigrantes alemães e liderado por Jacobina Mentz Maurer, foi combatido por tropas do Exército Imperial. O filme, primeira coprodução entre Brasil e Alemanha, relembra esse episódio negado pela historiografia oficial.