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Netflix tenta repetir o sucesso de "Roma" com novo Scorsese

Jochen Kürten ca
27 de setembro de 2019

"O irlandês" estreia no Festival de Nova York, mas exibição terá circuito restrito nos EUA até chegar à Netflix em novembro. Novo filme de diretor premiado se torna evento midiático, também graças ao elenco.

Al Pacino e Robert De Niro em "O irlandês"
Al Pacino e Robert De Niro em "O irlandês": dupla dos sonhos do cinema americanoFoto: Imago Images/Netflix/STX Entertainment

Mais hype impossível. Apesar de outros grandes nomes como Steven Spielberg, Francis Ford Coppola ou Quentin Tarantino, Martin Scorsese é visto por muitos especialistas como o melhor diretor americano em atividade.

E claro que isso permanece uma questão de gosto e uma avaliação subjetiva. Mas considerar Scorsese o mais importante cineasta americano na recente história do cinema do país encontraria, provavelmente, pouca resistência.

Um filme de Scorsese é sempre um evento. Desde que o diretor deixou sua marca na história do cinema com filmes como Taxi driver, Touro indomável e Gangues de Nova York, o público e os críticos passaram a adorá-lo. E, diferentemente de seus colegas cineastas do cinema da Nova Hollywood dos anos 1960 a 1980, Scorsese, nascido em Nova York em 1942, continua ativo como diretor.

E é também na metrópole americana que seu novo filme – O irlandês – produzido pela Netflix celebra, nesta sexta-feira (27/09), sua estreia mundial no Festival de Cinema de Nova York.

Jodie Foster e Robert De Niro em "Taxi driver", sucesso de Scorsese de 1976Foto: picture-alliance/United Archives/IFTN

No final da década de 1960 e na década seguinte, Arthur Penn, Mike Nichols, Robert Altman e outros tiraram o cinema americano do atoleiro, com novos temas e uma nova estética. Filmes como A primeira noite de um homem, Bonnie e Clyde e Easy rider foram só um começo.

Nos anos seguintes, Scorsese tornou-se um dos diretores mais importantes dessa reinvenção cinematográfica. E o americano com raízes italianas permaneceu fiel à sua origem artística até hoje. Sucessos de bilheteria e filmes de super-heróis nunca o interessaram.

Sua especialidade, no entanto, foram filmes da máfia. Nova York permaneceu sua locação predileta. Obras como Os bons companheiros, Cassino ou Os infiltrados redefiniram completamente o gênero de filmes policiais. Com O irlandês, o diretor continua essa tradição. É provável que o elenco de seu novo filme tenha contribuído para o hype em torno do "novo Scorsese" mesmo antes da estreia.

Dupla dos sonhos em "O irlandês"

O diretor já rodou oito filmes com Robert De Niro, que é considerado seu ator predileto. E também aqui, nos últimos anos, os especialistas gostam de recorrer a superlativos: De Niro tem sido descrito muitas vezes como "o melhor ator de sua geração".

Scorsese/De Niro são considerados uma dupla dos sonhos do novo cinema americano, mas não trabalham juntos há mais de 20 anos. Além de Robert De Niro, o fato de Al Pacino assumir um papel importante no filme confere ao elenco de O irlandês um peso adicional de estrelas. Também Joe Pesci, ator costumado a trabalhar com Scorsese, retorna às telas após quase 20 anos de abstinência cinematográfica.

No filme, Scorsese conta a história de Frank "o irlandês" Sheeran, assassino de aluguel lendário por várias décadas na história criminal dos Estados Unidos. O diretor se baseou numa biografia publicada em 2004 pelo autor americano Charles Brandt. Sheeran, interpretado por De Niro, serviu como soldado na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.

No início, ainda eram aliados: Hoffa (Al Pacino) e Sheeran (De Niro)Foto: Imago Images/Zuma Press/Netflix/STX Entertainment

Carreira de um assassino de aluguel

Após a guerra, ele exerceu diferentes profissões até entrar em contato com círculos da máfia. Ali, ele se tornou um assassino implacável da Cosa Nostra. Consta que Sheeran esteve envolvido, entre outros, no assassinato do poderoso chefe sindical americano Jimmy Hoffa (no filme: Al Pacino), em 1975.

Várias fontes o apontam como principal culpado. O assassinato de Hoffa, até hoje não esclarecido completamente, é considerado nos EUA como um dos crimes mais discutidos da história criminal. Especialmente porque o corpo de Hoffa nunca foi encontrado. Somente sete anos após o desaparecimento do poderoso sindicalista, que tinha numerosos contatos com a máfia, ele foi declarado oficialmente morto.

Esse crime é o foco do filme. Scorsese mostra em longos flashbacks – as memórias de Frank Sheeran – a vida de um assassino contratado pela máfia. Aparentemente, isso também devorou grande parte dos custos de produção: todos os atores tiveram que passar por um enorme processo de rejuvenescimento, um desafio para o departamento de efeitos especiais, que foi dirigido, entre outros, pela Industrial Light & Magic (Guerra nas estrelas).

Custos altos

O irlandês se tornou o filme mais caro de Scorsese. Como resultado, o produtor e o estúdio realizador (Paramount) abandonaram o projeto, e o serviço de streaming Netflix assumiu a produção. Isso levou, por sua vez, a especulações sobre a estreia da nova obra de Scorsese, que se tornou um assunto muito discutido no setor.

Um filme muito caro (fala-se em cerca de 200 milhões de dólares em custos de produção e de 100 milhões em direitos de venda para a Netflix) desse diretor e amante incondicional do cinema, para ser visto apenas numa tela pequena para uso doméstico?

O novo filme de um homem que se engaja há anos pelo cinema em grandes telas e financia com muito dinheiro o restauro de tesouros da história cinematográfica num provedor de streaming? Para muitos fãs de Scorsese e amantes de cinema, na verdade, é um absurdo.

Cenário também devorou boa parte do orçamento de "O irlandês"Foto: Imago Images/Netflix/STX Entertainment

Depois de "Roma", golpe de mestre com "O irlandês"

Recentemente, a Netflix conseguiu dar um golpe de mestre ao produzir o filme Roma, essa também uma realização cinematográfica que só mudou para o streaming durante o processo de produção.

No entanto, como apenas filmes que foram anteriormente exibidos pelo menos uma semana nos cinemas em Los Angeles têm chance no Oscar, Roma apareceu brevemente no cinema. O filme do diretor mexicano Alfonso Cuarón acabou sendo uma ótima propaganda para a Netflix. Ele foi convidado para o Festival de Veneza, onde ganhou o Leão de Ouro – e depois vários Oscars.

O mesmo jogo pode se repetir agora no caso de O irlandês. Após a estreia mundial no Festival de Cinema de Nova York, ele será exibido em mostras nos EUA, Europa e Ásia.

Nos cinemas americanos, o trabalho mais recente de Scorsese vai estar em circuito restrito em 1° de novembro – também no Reino Unido, ele poderá ser visto somente em alguns cinemas a partir de 8 de novembro. Assim, as chances de Oscar estão garantidas. O lançamento na Netflix está programado para 27 de novembro.

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