1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Nicarágua quer construir canal ligando o Atlântico ao Pacífico

11 de julho de 2012

A ideia é velha, mas agora o governo Ortega a colocou na ordem do dia: a construção de um canal transoceânico para o transporte de cargas. O problema é: quem vai bancar a obra, orçada em 30 bilhões de dólares?

Foto: AP

Sempre que os governantes da Nicarágua estão com a popularidade em baixa, eles tiram da gaveta uma ideia que já tem quase 200 anos. Trata-se de um projeto gigantesco: a construção de um canal navegável que atravessaria o país, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico.

Se posto em prática, o projeto colocaria a segunda nação mais pobre da América – depois do Haiti – no mapa da economia mundial. Mas o canal nunca deixou de ser uma vaga ideia – até o presidente Daniel Ortega decidir submetê-lo ao Congresso, no início de junho.

Ortega, às voltas com acusações de fraude eleitoral, corrupção e enriquecimento ilícito, enviou aos parlamentares um projeto para a construção do Canal da Nicarágua, e 85 dos 91 representantes do povo nicaraguense aprovaram o plano. Até mesmo oposicionistas se mostraram favoráveis à ideia.

"Somos uma economia pequena, mas nenhuma grande obra teve início sem que primeiro fosse um sonho. Agora podemos tornar esse sonho realidade", afirmou a deputada Xochilt Ocampo, do partido governista Frente Sandinista.

É mais do que questionável se os quase 6 milhões de habitantes da Nicarágua, metade dos quais vivendo na pobreza, de fato sonham com esse projeto. Numa carta ao presidente, publicada por vários diários de Manágua, um engenheiro se queixa dos verdadeiros problemas do país: "Se não há mais medicamentos nos hospitais nem mesas nas escolas, isso significa que não há dinheiro nem mesmo para as coisas básicas", escreveu.

O rio San Juan seria a melor opção para o gigantesco canalFoto: AP

Mina – ou canal – de ouro

Dinheiro é o que o canal deverá trazer para a Nicarágua. Pelos planos do governo, navios deverão transportar 419 milhões de toneladas de cargas por ano pelo canal a partir de 2019. Seis anos depois, quando o canal tiver sido ampliado, o volume deverá subir para 573 milhões de toneladas.

Aos olhos dos nicaraguenses, a prova de que é possível ganhar muito dinheiro com um canal desse tipo está algumas centenas de quilômetros ao sul. O Panamá fatura todos os anos 1 bilhão de dólares com o seu canal. O valor deve aumentar, já que o canal está sendo dragado para poder comportar navios ainda maiores, o que deve gerar ainda mais divisas.

O caminho transoceânico da Nicarágua deverá ser mais fundo e mais largo do que o dos vizinhos panamenses. Com cerca de 200 quilômetros de extensão, será também quase três vezes maior. E o governo da Nicarágua não quer ganhar apenas com o transporte de mercadorias. A construção deverá gerar 600 mil postos de trabalho.

A Nicarágua garante que o seu canal não concorre com o do Panamá, mas o complementa, já que o comércio pelos mares do mundo deverá crescer nos próximos anos.

Em busca de investidores

Mas antes de o primeiro navio cruzar o canal, o país precisa resolver alguns problemas também faraônicos. Um deles é o financiamento do projeto: os custos são calculados em 30 bilhões de dólares, quatro vezes o Produto Interno Bruto do país. A saída é encontrar investidores.

Segundo o vice-chanceler Manuel Coronel Kautz, "velhos amigos" da Nicarágua, como a Rússia, a China, o Brasil, a Venezuela, o Japão e a Coreia do Sul, teriam mostrado interesse em financiar a obra. Mas nenhum deles prometeu nada, nem mesmo a Venezuela, principal parceiro comercial da Nicarágua e que fornece petróleo no valor de 500 milhões de dólares anuais.

Um dos motivos para a relutância dos investidores pode estar na estrutura da empresa que irá administrar o canal: a Nicarágua teria 51% das ações, ao passo que o investidor ficaria com 49%. "Não posso imaginar que vamos encontrar um parceiro que financie 100% da construção do canal e depois se contente com 49% das ações", disse o deputado oposicionista Pedro Joaquin Chamorro.

Também incerta é a rota do canal: há seis opções. A mais apropriada seguiria pelo rio San Juan, que fica na fronteira com a Costa Rica e em torno do qual os dois países vivem trocando farpas diplomáticas. Quanto às indenizações aos proprietários das terras afetadas pelo canal, o governo espera chegar a um acordo nos próximos dez anos. Se, até lá, o projeto não sumir de novo em alguma gaveta.

Autor: Marc Koch (as)
Revisão: Roselaine Wandscheer