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Nicarágua vive fim de semana de violentos protestos

14 de maio de 2018

Após duas mortes no fim de semana, número de vítimas de onda de manifestações iniciada há quase um mês chega a ao menos 51. Mesmo após revogação de reforma da previdência, manifestantes exigem renúncia do presidente.

Manifestantes erguem barricadas na cidade nicaraguense de Masaya
Manifestantes ergueram barricadas na cidade nicaraguense de MasayaFoto: picture-alliance/AP Photo/A. Zuniga

A onda de violentos protestos antigoverno na Nicarágua continuou neste fim de semana, com manifestações ocorrendo em dez cidades do país. Duas pessoas morreram no último sábado (12/05) na cidade de Masaya durante confrontos entre as forças de segurança e manifestantes, elevando o total de mortos para 51. Grupos de direitos humanos afirmam que seriam mais de 60 vítimas fatais.

Leia também: Opinião: Ninguém mais acredita em Daniel Ortega

As manifestações antigoverno começaram no dia 17 de abril, quando estudantes foram às ruas para rejeitar as reformas na previdência social propostas pelo governo, que resultariam em aumentos de impostos e redução dos benefícios.

A reação popular levou o presidente Daniel Ortega a revogar a reforma no dia 22 de abril, mas os manifestantes permaneceram nas ruas para denunciar a violência das autoridades, que deixou centenas de feridos, e exigir a renúncia de Ortega.

No último sábado, em meio aos confrontos violentos em Masaya, Ortega pediu em pronunciamento em rede nacional que os manifestantes que pusessem um fim "às mortes e à destruição" geradas pelos protestos e que parassem de "derramar sangue" nas ruas.

Uma das duas mortes ocorridas nas quase 24 horas de protestos em Masaya, a 25 quilômetros da capital Manágua, resultou de um tiro na cabeça. Além da polícia, os manifestantes antigoverno entraram em confronto também com grupos de apoiadores de Ortega. Dezenas de pessoas ficaram feridas.

Trégua negociada

A violência cessou após a negociação de uma trégua mediada por líderes religiosos, organizações de direitos humanos e autoridades, na madrugada deste domingo.

O país viveu, então, horas de uma tensa calmaria, enquanto se aproxima o prazo dado pela Conferência dos Bispos do país para que o governo dê "sinais críveis" de que estaria disposto iniciar o diálogo para pôr fim aos conflitos.

Ortega ainda não confirmou a participação do governo nas conversações mediada pela Conferência dos Bispos. Os manifestantes exigem que as mortes sejam investigadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), demanda que foi rejeitada pelo presidente.

O bispo nicaraguense Silvio Baez reiterou que a presença da CIDH no país foi a primeira reivindicação feita pela Conferência dos Bispos ao iniciar a mediação entre os dois lados do conflito.

A trégua no domingo serviu para que os feridos pudessem ser tratados, danos contabilizados e para que as medidas de segurança fossem reforçadas, além da realização de homenagens às vítimas.

"Foi um ataque brutal contra a população civil, que se defendeu com pedras contra armas de guerra", disse o presidente da Associação Nicaraguense para a Proteção dos Direitos Humanos, Alvaro Leiva, sobre os confrontos em Masaya.

"O diálogo é a única resposta"

As manifestações se espalharam por ao menos oito estados. Edifícios e casas foram incendiados nas áreas de conflito. A imprensa oficial culpou "vândalos direitistas", que estariam tentando perpetrar um golpe de Estado contra Ortega.

Em resposta à violência do fim de semana, o Exército do país divulgou um comunicado pedindo o fim dos confrontos, num aparente distanciamento do governo de Ortega.

"O diálogo é a única resposta", dizia a nota, alertando que as "campanhas que promovem o ódio" estavam "semeando a discórdia entre a família nicaraguense". Um porta-voz da instituição disse que os militares não têm a intenção de agir para reprimir os protestos.

RC/efe/ap/rtr/afp

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