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No G7, Biden corteja europeus a fazer contraponto à China

13 de junho de 2021

Em conversas privadas durante cúpula na Inglaterra, presidente americano tratou o avanço econômico chinês e sua crescente influência no Ocidente como o maior desafio do século.

Biden em conversa com Angela Merkel durante a cúpula do G7
Biden em conversa com Angela Merkel durante a cúpula do G7Foto: Guido Bergmann/Bundesregierung/REUTERS

O G7 e a União Europeia tentaram, durante a reunião de cúpula do fim de semana na Inglaterra, aparentar harmonia. A impressão geral é que de que os diplomatas parecem satisfeitos que o novo presidente americano, Joe Biden, esteja tornando a cooperação transatlântica novamente possível.

Enquanto chefes de Estado e de governo se reuniam em pequenos grupos ou passeavam pela praia de Carbis Bay, os EUA faziam o seu melhor para persuadir os países do G7 a adotar uma linha mais dura em relação à China, como disse um diplomata alemão envolvido nas negociações. Segundo ele, Biden classificou, em encontros privados, os esforços da China para se tornar a economia mais forte do mundo como o maior desafio deste século.

Segundo Anthony Gardner, ex-embaixador dos EUA na UE, Biden precisou se firmar na cúpula do G7 para manter sob controle os críticos e apoiadores de seu antecessor Donald Trump. Os europeus, afirmou o diplomata, fariam bem em seguir Biden se quiserem impedir o retorno de Trump à presidência.

Os representantes alemães na cúpula do G7 deram a impressão de que, em grande parte, concordaram sobre seguir uma linha mais firme frente a Pequim. Eles disseram que as violações dos direitos humanos em relação à minoria uigur, por exemplo, o movimento pró-democracia em Hong Kong e dissidentes, precisam ser abordados e condenados.

Entretanto, a postura conjunta da UE em Carbis Bay é de que a China não é apenas um rival sistêmico e econômico, mas um parceiro necessário em muitas áreas. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, disse que não poderia haver progresso real em relação à crise climática sem Pequim.  Afinal, a China é o maior emissor de gases nocivos. Ela pretende ser neutra em carbono apenas até 2060, enquanto a UE estabeleceu 2050 como meta.

Violação dos direitos humanos em pauta


Um diplomata americano disse que Biden criticou especificamente o trabalho forçado na China, particularmente em relação à minoria ugur –  "muito fortemente", segundo a fonte. Ele concordou que muitos europeus também haviam condenado o trabalho forçado, mas que não houve acordo quanto à forma de responder a isso. Um diplomata da UE disse que as sanções deveriam ter um efeito e não apenas ser simbólicas.

Os EUA estão mais preocupados que a UE com as provocações e ameaças militares chinesas no Mar do Sul da China, que estarão na agenda da cúpula da Otan nesta segunda-feira.

Tanto os EUA quanto a UE impuseram sanções à China por causa das violações dos direitos humanos. Entretanto, antes disso, a UE assinou um acordo comercial com Pequim, sob críticas de Washington.

O Acordo Global sobre Investimento (CAI), que ainda não foi ratificado, está atualmente congelado. O Parlamento Europeu se recusa a debatê-lo enquanto Pequim mantiver suas sanções contra legisladores europeus.

Parceria de infraestrutura

O que é novo é que as democracias mais ricas do G7 concordaram em estabelecer uma parceria global de infraestrutura. Biden chegou à Inglaterra com a firme intenção de liderar o Ocidente com seu plano de investimento "Reconstruir melhor". O anfitrião da cúpula, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que prevê um novo vínculo transatlântico entre a América do Norte e a Europa, elogiou a ideia.

Até agora, não está claro como isso realmente funcionará. O que está claro é que será uma espécie de alternativa à iniciativa "Nova Rota da Seda", disseram os diplomatas em Carbis Bay. Desde 2013, a China estabeleceu parcerias econômicas com dezenas de países mais pobres na África, Ásia, América Latina e Europa. Foram mais de 3,4 trilhões de dólares investidos nessa parceria.

Os parceiros foram atraídos com empréstimos baratos e enormes investimentos em infraestrutura, como estradas, ferrovias e portos. Pequim espera construir sua influência política no mundo através da cooperação.

Críticos do projeto dizem que Pequim não leva em consideração boa governança, corrupção e direitos humanos ao alocar fundos. 

A alternativa ocidental ao avanço chinês

O plano de infraestrutura alternativa do G7 deve mobilizar bilhões. Embora ainda não tenha sido esclarecido de onde virá o dinheiro, a Casa Branca indicou que capital privado poderia ser investido em um fundo. Um diplomata europeu de alto nível disse que a ideia também é coordenar e promover melhor os projetos de investimento já existentes.

"Não é como se os Estados do G7 não fossem já um grande investidor no mundo", disse um diplomata. Mas, segundo ele, esta nova iniciativa não será apenas para investir em ferrovias, pontes e estradas, mas também para estabelecer fábricas onde, por exemplo, vacinas podem ser produzidas. Nenhuma decisão foi tomada com relação a quem irá administrar a iniciativa e de onde. "Muitos detalhes ainda não foram discutidos", disse um diplomata da UE familiarizado com o assunto.

Ceticismo alemão

Do ponto de vista de Washington, a Alemanha é vista especialmente como um obstáculo, disse o eurodeputado alemão Reinhard Bütikofer. "O governo de Merkel é um dos obstáculos mais difíceis para o desenvolvimento das relações transatlânticas. No gabinete da chanceler, há muito ceticismo", comentou.

Ele explicou que a chanceler alemã é cético em relação à posição dura de Biden sobre Pequim por causa dos fortes interesses econômicos da Alemanha no mercado chinês.

Merkel e Biden terão em breve uma chance de discutir estas questões, quando a chanceler alemã se tornar a primeira líder europeia de a visitar o novo presidente americano em Washington, no próximo mês.

 

Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.