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No Senado, Moro nega conluio com procuradores

19 de junho de 2019

Ministro afirma que divulgação de mensagens "está repleta de sensacionalismo" e que contato entre juízes e procuradores "é normal no Brasil". "Sempre agi conforme a lei", disse.

Justizminister Sérgio Moro
Moro ainda sugeriu que as conversas podem ter sido "total ou parcialmente alteradas” e que seu celular foi alvo de hackersFoto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

O ministro da Justiça, Sergio Moro, negou nesta quarta-feira (19/06) a senadores que tenha feito parte de um conluio com o Ministério Público durante a condução dos casos da Lava Jato à época em que esteve à frente dos julgamentos da operação.

O ministro também defendeu a operação e contestou a autenticidade de uma série de diálogos em um aplicativo de mensagens divulgados pelo site The Intercept Brasil, que levantaram questionamentos sobre a conduta do ex-juiz e seu relacionamento com os procuradores da Lava Jato. Moro ainda destacou que pode "eventualmente" ter dito "algumas coisas" que foram divulgadas, mas que outras lhe causam "estranheza". 

Por outro lado, Moro também afirmou que os diálogos revelados até agora pelo site The Intercept Brasil não atestam qualquer ilegalidade.

"A divulgação dessas mensagens está repleta de sensacionalismo", disse o ministro. "É normal no Brasil esses contatos entre juiz, advogado e Ministério Público ou policiais", contou Moro, negando que tenha colaborado com procuradores para direcionar casos da operação. "Estou absolutamente tranquilo em relação à conduta que realizei como juiz. Sempre agi conforme a lei."

Ele também relativizou o trecho da conversa com o procurador Deltan Dallagnol que cita o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na conversa, Moro e o procurador comemoram uma aproximação da Lava Jato com o ministro. Ao final do diálogo, Moro ainda afirma "Excelente. In Fux we Trust" (Em Fux nós confiamos).

"Posso ter mandado. Qual o problema de uma mensagem assim? Eu confio no Supremo, confio na instituição", afirmou aos senadores.

As afirmações foram feitas em uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, na qual o ministro compareceu para prestar esclarecimentos sobre as conversas.

Nos diálogos divulgados até agora pelo The Intercept Brasil, Moro aparece cobrando a realização de novas operações em um diálogo com um procurador, oferece uma dica sobre uma testemunha e chega a propor aos procuradores uma ação contra a defesa do ex-presidente Lula. 

Na véspera do comparecimento de Moro ao Senado, o site ainda divulgou um diálogo no qual Moro se posiciona contra o envio de uma ação contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma vez que ela poderia "melindrar alguém cujo apoio é importante".

Desde o início do escândalo, Moro vem adotando diferentes estratégias para lidar com o caso. Ele já classificou os diálogos como "conversa normal" e "descuido" e também se negou a atestar a autenticidade das conversas. Na audiência desta quarta-feira, Moro ainda sugeriu que as conversas podem ter sido "total ou parcialmente alteradas" e que seu celular foi alvo de hackers.

Diante dos senadores, Moro afirmou que, apesar do suposto ataque hacker, as evidências até agora não mostram que o conteúdo do seu aparelho tenha sido acessado. Ele disse ainda que entregou seu celular para a Polícia Federal para realização de perícia e que a ação de hackers tem o objetivo de desestabilizar o combate à corrupção no Brasil.

"Fiquei surpreendido pelo nível de vilania e de baixeza dessas pessoas responsáveis pelo ataque, a ousadia criminosa de invadir ou tentar invadir telefones de procuradores", disse Moro. "Não é um adolescente com espinhas em frente ao computador. É um grupo organizado. É um ataque às instituições."

O ministro ainda criticou o The Intercept Brasil pela publicação das mensagens. "O veículo não me consultou antes da divulgação, violando uma regra básica do jornalismo." Ele também negou ter conspirado para condenar Lula e beneficiar a campanha de Jair Bolsonaro. "Quando proferi essa decisão eu não tinha nenhum contato com o presidente Bolsonaro", disse.

A sessão no Senado começou depois das 9 horas (horário de Brasília) e ainda se estendia por volta de 14 horas. Após uma exposição inicial de 30 minutos, Moro passou a responder a perguntas dos senadores. Vários parlamentares usaram a oportunidade para blindar o ministro de ataques e perguntas mais incisivas. Os questionamentos e julgamentos mais duros partiram de senadores da oposição.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES), por exemplo, relembrou seu passado como delegado e disse que poderia "sair preso" da delegacia caso mantivesse conversas com um advogado de investigado e isso fosse descoberto pelo Ministério Público. O senador Rogério Carvalho (PT-SE), por sua vez, perguntou a Moro se a esposa do ex-juiz, Rosângela, que é advogada, trabalhou para empresas que fecharam acordos de delação premiada. Moro negou a insinuação. "Isso é tudo fantasia", disse.

Diante de uma pergunta do senador Jaques Wagner (PT-BA) sobre a possibilidade de deixar o cargo de ministro para garantir isenção em eventuais investigações, Moro disse que não tem "nenhum apego pelo cargo em si". "Se houver alguma irregularidade da minha parte, eu saio."

"Nunca atuei nestes processos movido por questão ideológica ou político-partidária. O fato de ter emitido sentenças a agentes políticos me trouxe dissabores, me trouxe pesos. Sou constantemente atacado há quatro, cinco anos, por ter cumprido meu dever", dise Moro.

O ministro ainda foi questionado se autorizaria uma possível recuperação de dados em sua conta no Telegram para confrontar o material do seu celular com as conversas divulgadas. O ministro respondeu que isso não é possível porque ele parou de usar o aplicativo e descartou seus antigos aparelhos celulares. "Essas mensagens não ficam nas nuvens. Ao sair do aplicativo, essas mensagens foram excluídas. Se tivesse esse material, o hacker já teria divulgado", disse Moro.

JPS/ots

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