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Nobel Alternativo premia ativistas feministas e ambientais

29 de setembro de 2021

Right Livelihood Award de 2021 reconhece luta contra a violência sexual e de gênero em Camarões, defesa dos indígenas no Canadá e ativismo climático na Índia e na Rússia.

Foto de Marthe, em frente a um quadro com muitas palavras em francês.
ONG fundada por Marthe Wandou já beneficiou mais de 50.000 meninas Foto: Right Livelihood

Três ativistas de Camarões, Rússia e Canadá e uma organização da Índia foram anunciados nesta quarta-feira (29/09) como vencedores do Right Livelihood Award de 2021, prêmio conhecido como o "Nobel Alternativo".

Ole von Uexkull, diretor da Right Livelihood, fundação sueca que concede o prêmio, disse que os quatro laureados deste ano "são mobilizadores corajosos que mostram o que os movimentos comunitários podem alcançar".

Os vencedores trabalham com questões relacionadas à violência sexual e de gênero, a direitos indígenas e à proteção climática. São eles Marthe Wandou (Camarões), Vladimir Slivyak (Rússia), Freda Huson (Canadá) e a Iniciativa Jurídica para as Florestas e o Ambiente (Índia).

Cada um receberá cerca de 1 milhão de coroas suecas (o equivalente a cerca de R$ 615.000), em uma cerimônia virtual, em 1º de dezembro, transmitida a partir da capital da Suécia, Estocolmo.

Criada em 1980, a fundação premia anualmente os esforços nas áreas de direitos humanos, direitos civis, meio ambiente e liberdade de imprensa, as quais o fundador do prêmio, o filantropo sueco-alemão Jakob von Uexküll, acreditava estarem sendo ignoradas pelos prêmios Nobel.

Em 2019, o indígena brasileiro Davi Kopenawa foi um dos vencedores, e dividiu o prêmio com Greta Thunberg e outras duas ativistas.

Abaixo, saiba mais sobre os quatro vencedores deste ano.

Marthe Wandou

A ativista pela paz e pela igualdade de gênero Marthe Wandou, de Camarões, venceu o prêmio por ter construído um modelo comunitário para proteger crianças, sobretudo meninas, do terrorismo e da violência sexual e de gênero na região do Lago Chade.

Wandou nasceu em 1963, em uma aldeia no extremo norte do país centro-africano, e viu de perto a dura realidade que as crianças, especialmente as meninas, enfrentam, com pouco acesso à educação, casamentos precoces, heteronomia e violência. Ela foi uma das primeiras meninas de sua aldeia a ir para a universidade na capital, Yaoundé, para estudar Direito.

Em 1998, ela fundou a ONG Ação Local para o Desenvolvimento Participativo e Autogerido (Aldepa, na sigla em francês), que segue uma abordagem holística que inclui educação, prevenção, atenção psicossocial e apoio jurídico, mobilizando comunidades inteiras. A ONG apoia famílias após casos de estupro, sequestro e violência, e vem contribuindo para o declínio gradual da prática do casamento precoce na região.

Mais de 50.000 meninas já se beneficiaram do trabalho da entidade, especialmente na região norte de Camarões – onde o grupo terrorista islâmico Boko Haram também é ativo.

Vladimir Slivyak

Um dos ambientalistas mais dedicados da Rússia, Vladimir Slivyak, de 48 anos, é cofundador da organização ambiental Ecodefense. Há décadas ele lidera importantes campanhas contra práticas prejudiciais ao meio ambiente.

Por diversas vezes questionou – e até mesmo impediu – projetos relacionados à exploração de combustíveis fósseis, o uso de energia nuclear e o transporte de lixo radioativo – uma árdua tarefa na Rússia autoritária, que detém grandes reservas de petróleo, gás e carvão e é um dos maiores exportadores mundiais de combustíveis fósseis.

Apesar da perseguição das autoridades russas nos últimos anos, Slivyak manteve seus projetosFoto: Right Livelihood Awards

Sob a liderança de Slivyak, a Ecodefense foi o primeiro grupo ambientalista na Rússia a iniciar uma campanha anticarvão, em 2013. Uma rede de comunidades locais e a troca de informações levaram a um rápido aumento nos protestos contra a mineração de carvão em diferentes partes do país.

Em 2014, a construção da usina nuclear de Kaliningrado, no enclave russo de mesmo nome, foi interrompida depois que a ONG alertou repetidamente o público e doadores internacionais sobre os perigos.

Apesar do assédio das autoridades russas nos últimos anos, Slivyak manteve seus projetos, encorajado pela crescente influência que tem sobre a geração mais jovem de ativistas climáticos.

Freda Huson

A chefe dos Wet'suwet'em, Freda Huson, de 57 anos, se destaca como defensora dos indígenas canadenses, que se sentem conectados à terra de seus ancestrais e reivindicam mais voz sobre projetos de construção.

Ela vive desde 2010 no território de seu povo na Colúmbia Britânica, onde fundou o Acampamento Unist'ot'en – um local que é, ao mesmo tempo, centro de cuidado para traumas coloniais e campo de protesto. Huson e seus colegas resistem à construção de um gasoduto que transportará gás de xisto e passará pela área indígena.

Quando as autoridades canadenses invadiram um posto de controle no acampamento, no ano passado, a ação gerou protestos em todo o país. Embora Huson tenha conseguido atrasar o projeto do gasoduto, ele ainda está em construção.

Freda Huson, de 57 anos, se destaca como defensora dos indígenas canadensesFoto: Michael Toledano

A abordagem holística dela combina a luta dos povos indígenas pela proteção ambiental e direitos à terra com uma luta mais profunda pela cultura e modo de vida.

Recentemente, foram expostos ao mundo exemplos da crueldade promovida contra os indígenas no Canadá ao longo dos séculos, quando ossadas de crianças foram encontradas enterradas em antigos lares para filhos de indígenas retirados de seus pais à força.

Iniciativa Legal para a Floresta e o Meio Ambiente (LIFE)

A Iniciativa Legal para a Floresta e o Meio Ambiente (LIFE), uma organização com sede na Índia, venceu por seu trabalho em equipar comunidades vulneráveis com as ferramentas legais necessárias para enfrentar poderosos interesses corporativos. Foi fundada em 2005 pelos advogados Ritwick Dutta e Rahul Choudhary. 

A LIFE apoia as comunidades contra ameaças ambientais, como projetos de construção ou desmatamento de florestas. Com a ajuda da entidade, poluidores industriais já foram responsabilizados pelos danos que causam ao meio ambiente e à saúde pública.

Organização indiana capacita comunidades a confrontarem interesses de poderososFoto: Right Livelihood Awards

Um dos primeiros sucessos da LIFE foi um processo contra a mineradora britânica Vedanta, no estado indiano de Odisha, que abriu um precedente. O projeto de mineração de bauxita da empresa foi interrompido em 2010, quando a Suprema Corte da Índia reconheceu que o início de tal projeto exigiria a aprovação da comunidade local.

A organização também desempenhou um papel importante no estabelecimento do Tribunal Verde Nacional pelo governo indiano, em 2010. O tribunal é especializado em reclamações ambientais e lida com casos complexos e multidisciplinares.

A LIFE preenche a lacuna entre o sistema judicial indiano e os defensores dos recursos naturais e da vida selvagem, capacitando comunidades em todo o país a confrontar interesses poderosos que ameaçam o bem-estar das pessoas e da natureza.

le/ek (Lusa, DW)

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