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Nobel Alternativo premia luta contra corrupção na Guatemala

Daniel Heinrich
24 de setembro de 2018

Fundação da Suécia premia guatemalteca Thelma Aldana e colombiano Iván Velásquez por esforços no combate à corrupção no país centro-americano. Ativistas dos direitos humanos na Arábia Saudita também são distinguidos.

Iván Velásquez Gómez e Thelma Aldana durante uma entrevista coletiva
Iván Velásquez Gómez e Thelma Aldana obtiveram grandes avanços no combate à corrupção na GuatemalaFoto: Getty Images/AFP/O. Estrada//J. Ordonez

Um agricultor, um engenheiro agrônomo, dois ativistas contra a corrupção e três ativistas dos direitos humanos foram agraciados com o Prêmio Nobel Alternativo, oficialmente intitulado Right Livelihood Award, de 2018, anunciou nesta segunda-feira (24/09), em Estocolmo, a Fundação Right Livelihood.

Os vencedores dos três prêmios de 1 milhão de coroas suecas (cerca de 460 mil reais) são os ativistas sauditas dos direitos humanos e civis Abdullah al-Hamid, Mohammad Fahad al-Qahtani e Waleed Abu al-Khair (que dividirão o valor), o agricultor burquinense Yacouba Sawadogo e o engenheiro agrônomo australiano Tony Rinaudo.

O júri internacional, que escolheu os vencedores entre 107 nomeações de 50 países, atribuiu ainda o prêmio honorário aos ativistas anticorrupção Thelma Aldana, da Guatemala, e Iván Velásquez, da Colômbia, "pelo seu trabalho inovador na exposição de abusos de poder e perseguição judicial da corrupção, assim reconstruindo a confiança das pessoas nas instituições públicas".

"O trabalho pioneiro dos laureados nos dá uma enorme esperança e merece a maior atenção do mundo. Numa época de declínio ambiental alarmante e de fraca liderança política, eles mostram o caminho em direção a um futuro muito diferente", declarou o diretor-executivo da fundação, Ole von Uexkull. O prêmio é entregue todos os anos, desde 1980.

Abdullah al-Hamid, Mohammad Fahad al-Qahtani e Waleed Abu al-Khair estão entre os mais proeminentes defensores dos direitos humanos na Arábia Saudita. O trio está intimamente associado a uma das poucas organizações de direitos humanos do país, a Associação de Direitos Políticos e Civis Sauditas (Acpra).

Os advogados Abdullah al-Hamid, Mohammad Fahad al-Qahtani e Waleed Abu al-Khair cumprem pena de prisãoFoto: Right Livelihood Award/Ahmed al-Osaimi

Numa sociedade na qual a Casa de Saud exerce um governo totalitário e centralizador, em estreita aliança com o clero ultraconservador wahaabita, os três ativistas têm se esforçado implacavelmente em favor de reformas, com destaque para demandas pacíficas pela observação dos direitos humanos, o estabelecimento de uma monarquia constitucional e a igualdade de direitos para as mulheres.

Essas ações não ficaram sem consequências: os três foram sentenciados a penas entre 10 e 15 anos de prisão, as quais estão cumprindo. Eles receberam o Prêmio Nobel Alternativo "por seus esforços visionários e corajosos, baseados na crença nos direitos humanos universais, para reformar o sistema de governo totalitário da Arábia Saudita", afirmou a Right Livelihood Prize Foundation.

A guatemalteca Thelma Aldana e o colombiano Iván Velásquez Gómez estão entre os mais proeminentes combatentes da corrupção no mundo. Velásquez preside a Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), e Aldana é a procuradora-geral do país centro-americano. Desde 2006, esse órgão independente da ONU tem sido encarregado de ajudar a punir crimes graves na Guatemala.

Num país que ainda sofre as consequências de uma guerra civil que perdurou de 1960 a 1996, Aldana e Velásquez estabeleceram novos padrões de busca pela justiça, afirmou a fundação. Seu trabalho incansável permitiu a descoberta de mais de 60 organizações criminosas. Houve mais de 300 condenações e 34 reformas jurídicas relacionadas ao combate à corrupção.

As prisões do então presidente guatemalteco Otto Pérez Molina e da ex-vice-presidente Roxanna Baldetti, em 2015, mostraram que Aldana e Velásquez também não têm medo de ir atrás de representantes do alto escalão. A suspensão da imunidade política foi um feito inédito na história da Guatemala.

O comitê do Nobel Alternativo homenageou a dupla "por sua abordagem inovadora de expor os abusos de poder e perseguir a corrupção e, com isso, restaurar a confiança das pessoas nas instituições públicas".

O australiano Tony Rinaudo desenvolveu um método de reflorestamento para combater a desertificação no Sahel Foto: Right Livelihood Award/World Vision/Silas Koch

O apelido do australiano Tony Rinaudo já diz tudo: "o criador de florestas". O engenheiro agrônomo viveu ao longo de décadas na África e assumiu a tarefa de combater o desmatamento e a falta de água extrema da região do Sahel.

Ele desenvolveu a técnica que consiste em criar árvores a partir de redes de raízes subterrâneas. O sucesso de seu método é impressionante: somente no Níger foram restaurados aproximadamente 50 mil quilômetros quadrados de terra com mais de 200 milhões de árvores.

O que Rinaudo alcançou ao longo dos anos é muito mais do que apenas tecnologia agrícola. Ele iniciou um movimento de agricultores que querem reflorestar a região do Sahel. O potencial parecer estar longe de estar esgotado: com o seu método seria possível restaurar uma área tão grande como a da Índia.

Rinaudo recebeu o Prêmio Nobel Alternativo "por sua impressionante capacidade de transformar vastas áreas áridas em solos férteis, melhorando assim a qualidade de vida de milhões de pessoas", afirmou o comitê.

O fazendeiro Yacouba Sawadogo, de Burkina Faso, também é chamado de "o homem que parou o deserto"Foto: Right Livelihood Award/Mark Dodd

Yacouba Sawadogo é conhecido como "o homem que parou o deserto". Em 1980, ele começou a transformar quase 40 hectares de terra inóspita em floresta. Hoje em dia, mais de 60 espécies de árvores e arbustos podem ser encontradas no local, que é indiscutivelmente uma das áreas florestais mais diversas da região do Sahel.

O sucesso de Sawadogo é baseado no fato de que ele planta árvores junto com trigo. Na língua local, seu método é chamado de zai. As raízes das árvores mantêm a água da chuva por mais tempo no solo, e o trigo serve de alimento para o gado. Embora tenha enfrentado muita resistência no início, sendo chamado de louco e tendo seus campos incendiados, Sawadogo nunca pensou em desistir.

Atualmente, Sawadogo realiza seminários em Burkina Faso e no Níger e ajuda milhares de agricultores a restaurar suas terras. Além do efeito direto de ajudar os agricultores, o método zai tem o potencial de se tornar uma ferramenta importante para combater as causas da migração e criar uma paz sustentável.

O comitê sueco do Nobel Alternativo elogiou Sawadogo "por ter conseguido transformar terras inóspitas do deserto em florestas e ensinar os agricultores a restaurar seus solos com uma ideia inovadora".

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