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Nobel da Paz é entregue sem a presença da laureada

10 de dezembro de 2023

Ativista Narges Mohammadi está presa em Teerã. Representada pelos filhos adolescentes, ela disse, em carta escrita da prisão, que "a juventude do Irã transformou as ruas em um cenário de resistência civil generalizada".

Quatro pessoas sentadas no palco, com uma cadeira vazia no meio. Pendurada, uma foto de Mohammadi
Cadeira vazia foi deixada no palco da cerimônia, marcando o lugar de MohammadiFoto: Fredrik Varfjell/AP Photo/picture alliance

Em 2023, pela segunda vez consecutiva, o Prêmio Nobel da Paz não pôde ser entregue pessoalmente. Em uma cerimônia em Oslo neste domingo (10/12), a vencedora deste ano, Narges Mohammadi, foi representada por seus filhos gêmeos de 17 anos, Kiana e Ali Rahmani. Uma cadeira vazia foi colocada simbolicamente no palco.

Mohammadi é uma ativista pelos direitos das mulheres e está presa no Irã. A pedido dela, Kiana e Ali, que vivem exilados com o pai na França há vários anos, leram uma carta escrita pela mãe na prisão. 

O Comitê norueguês do Nobel anunciou no início de outubro que premiaria Mohammadi "pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e para promover os direitos humanos e a liberdade para todos".

Na carta lida pelos filhos, Mohammadi destacou que ela era uma entre milhões de mulheres iranianas orgulhosas e resilientes que se levantaram contra a opressão, a discriminação e a tirania.

"Hoje, a juventude do Irã transformou as ruas e os espaços públicos em um cenário de resistência civil generalizada. A resistência está viva e a luta perdura", disse Mohammadi.

A ativista destacou que o movimento "Mulher, Vida, Liberdade", nascido no ano passado após a morte de Mahsa Amini, detida por supostamente violar o código de vestimenta, é uma continuação de lutas históricas.

"Este movimento contribuiu significativamente para expandir a resistência civil no Irã, abrangendo movimentos de mulheres, jovens, estudantes, professores, ativistas e outros. Em essência, é um movimento para uma mudança fundamental", disse na carta.

Kiana e Ali Rahmani, filhos de Mohammadi, a representaram na cerimônia em OsloFoto: Javad Parsa/NTB/REUTERS

Ela destacou, porém, que o regime iraniano bloqueou qualquer mudança, reduzindo a participação política a "zero", respondendo com "detenções, prisões e balas" às exigências de democracia. Mohammadi acusou Teerã de discriminação religiosa, de gênero e étnica, bem como de promover a injustiça e a corrupção.

Críticas ao Ocidente

Mohammadi assegurou que o movimento continua "vivo e dinâmico" apesar de tudo e, embora tenha agradecido o apoio de organizações e meios de comunicação globais, criticou o Ocidente pela falta de "atenção séria, coerência prática e abordagem proativa".

"As políticas e estratégias dos governos ocidentais têm sido ineficazes para empoderar o povo iraniano para atingir seus objetivos", lamentou Mohammadi.

A ativista, que lembrou sua compatriota Shirin Ebadi (Prêmio Nobel da Paz em 2003 e presente na cerimônia deste domingo), defendeu que o uso do hijab não é uma obrigação religiosa ou uma tradição cultural, mas um meio de manter a autoridade e a submissão.

Defensora da resistência e da não violência, Mohammadi mostrou-se confiante no impacto "inegável" do Nobel para o movimento de oposição no Irã, o que lhe dá "esperança" e "inspiração".

Antes da cerimônia, a página de Mohammadi no Instagram, mantida por amigos estrangeiros, publicou que a ativista começaria uma greve de fome de três dias neste domingo, para mostrar solidariedade com a perseguição da minoria religiosa bahá'í em seu país.

Prêmio de R$ 5,18 milhões

Durante a cerimônia, a presidente do Comitê do Nobel da Paz, Berit Reiss-Andersen, ressaltou que a honraria deste ano "reconhece todas as mulheres corajosas no Irã, e em todo o mundo, que lutam pelos direitos humanos básicos e pelo fim da discriminação e da segregação das mulheres". 

Reiss-Andersen comparou a luta de Mohammadi à de outros vencedores do Nobel da Paz, como Martin Luther King, Desmond Tutu e Nelson Mandela.

Mohammadi começou seu compromisso com os direitos das mulheres na década de 1990, quando ainda estava na universidade, trabalhando como colunista de vários jornais reformistas e, mais tarde, no Centro de Defensores dos Direitos Humanos em Teerã, dirigido por Shirin Ebadi, sua "estimada mentora".

A ativista, que cumpre uma pena de 10 anos de prisão por "difusão de propaganda contra o Estado" e há anos entra e sai das prisões iranianas, receberá 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 5,18 milhões).

O Nobel da Paz é o único dos seis prêmios que é atribuído e entregue fora da Suécia, em Oslo, por vontade expressa do seu criador, Alfred Nobel, uma vez que na época de sua criação, há mais de 100 anos, a Noruega fazia parte do reino sueco.

Os demais prêmios – Medicina, Física, Química, Literatura e Economia – também foram entregues neste domingo, em outro evento, em Estocolmo, na Suécia. 

No ano passado, um dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz, o belarusso Ales Bialiatski, também não pôde estar presente em Oslo. O advogado de direitos humanos, preso em Belarus, foi laureado em 2022 junto com a organização russa de direitos humanos Memorial e o Centro de Liberdades Civis da Ucrânia. 

Bialiatski foi representado na cerimônia por sua esposa, Natalya Pinchuk. Os presidentes das duas organizações, Jan Rachinsky (Memorial) e Oleksandra Matwijtschu (Centro de Liberdades Civis), compareceram à premiação.

le (EFE, ots)