Economista britânico foi laureado por sua "análise sobre consumo, pobreza e bem estar", anunciou a Real Academia de Ciências da Suécia. Deaton é professor na Universidade de Princeton, nos EUA, desde 1983.
Anúncio
O Prêmio Nobel de Economia de 2015 foi para Angus Deaton, economista britânico e professor na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (12/10) pela Real Academia de Ciências da Suécia. Segundo o júri, Deaton foi premiado por sua "análise sobre consumo, pobreza e bem estar".
"Para desenvolver uma política econômica que promova o bem-estar e reduza a pobreza, devemos primeiro compreender as escolhas individuais de consumo", disse a academia ao anunciar o prêmio. "Mais do que ninguém, Angus Deaton tem aprimorado esse entendimento."
"Ao enfatizar os vínculos entre decisões individuais de consumo e os resultados para toda a economia, seu trabalho tem ajudado a transformar microeconomias, macroeconomias e economias em desenvolvimento", acrescentou a Real Academia.
Deaton foi homenageado por três conquistas: desenvolver, ao lado do colega John Muellbauer, em 1980, um sistema para estimar a demanda por diferentes bens; estudar o vínculo entre consumo e renda nos anos 1990; e desenvolver um trabalho nas últimas décadas a fim de medir o padrão de vida e a pobreza nos países em desenvolvimento, com ajuda de pesquisas em domicílio.
Em conversa por telefone com jornalistas presentes na sede da Real Academia, em Estocolmo, o economista falou sobre sua esperança de que a pobreza continue diminuindo, mas afirmou que seu otimismo não é "cego". Ele disse ainda estar muito feliz por ter sido laureado e, principalmente, pela escolha do comitê do Nobel em premiar um trabalho dedicado às pessoas pobres do mundo.
Nascido na Escócia em 1945, Deaton é também cidadão dos EUA, onde leciona Economia e Assuntos Internacionais na Universidade de Princeton desde 1983. Ele receberá o prêmio em uma cerimônia em Estocolmo, na Suécia, em 10 de dezembro, aniversário de morte do criador da premiação, Alfred Nobel.
O prêmio de Economia é o único Nobel que não remonta ao testamento de Alfred Nobel. Denominado oficialmente Prêmio de Ciências Econômicas do Banco Real da Suécia em Memória de Alfred Nobel, foi criado em 1968 pelo Banco Central sueco para comemorar seu tricentenário e concedido pela primeira vez em 1969. As demais categorias são laureadas desde 1901.
No ano passado, o vencedor foi o francês Jean Tirole por suas pesquisas sobre o poder de mercado e regulação. Na ocasião, o comitê citou o professor da Universidade de Toulouse como "um dos economistas mais influentes de nosso tempo". Foi a primeira vez desde 1999, quando venceu o canadense Robert Mundell, em que o homenageado não foi um americano.
O anúncio desta segunda-feira foi o último dos seis prêmios Nobel laureados anualmente. Na semana passada, uma das homenagens mais aguardadas, o Nobel da Paz, foi para o Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia, por sua contribuição decisiva para criar uma democracia plural no país norte-africano após a Primavera Árabe.
EK/rtr/ap/dpa/afp
Controvérsias no Prêmio Nobel
O Nobel tem, em várias categorias, dividido a opinião pública e gerado debates desde seu lançamento, em 1901. Conheça alguns dos casos mais controversos da história da premiação, de Friedman a Obama.
Foto: AP
O pai da guerra química
Um dos laureados mais contestados de todos os tempos foi o cientista alemão Fritz Haber. Ele ganhou o Nobel de Química em 1918 por descobrir como sintetizar a amônia, algo crucial para produzir fertilizantes que revolucionaram a produção de alimentos. Mas Haber também ficou conhecido como o "pai da guerra química", por ter desenvolvido o gás cloro, utilizado nas trincheiras da Primeira Guerra.
Foto: picture-alliance/akg-images
A bomba atômica
Outro cientista alemão, Otto Hahn (centro da foto), ganhou o Nobel de Química pela descoberta da fissão nuclear. Apesar de nunca ter trabalhado na aplicação militar de sua criação, ela levou diretamente ao desenvolvimento da bomba atômica. O Comitê Nobel queria dar o prêmio a Hahn em 1940, mas ele acabou sendo laureado em 1945, meses após as bombas nucleares terem atingido Hiroshima e Nagasaki.
Foto: picture-alliance/G. Rauchwetter
A descoberta que o mundo baniu
O cientista suíço Paul Müller levou o Nobel de Medicina em 1948 por descobrir que o composto químico DDT era capaz de matar insetos vetores de doenças perigosas, como a malária. O uso do pesticida durante e após a 2ª Guerra Mundial salvou milhões de vidas. Mais tarde, porém, descobriu-se que o pesticida era prejudicial à saúde. Atualmente, o uso agrícola do DDT é proibido mundialmente.
Foto: picture-alliance/dpa/UN
Um prêmio inconveniente
O Nobel da Paz talvez seja o mais controverso entre as categorias da premiação. Em 1935, o jornalista e pacifista alemão Carl von Ossietzky recebeu o prêmio por expor planos secretos para o rearmamento da Alemanha. Dois membros do comitê do Nobel renunciaram após a decisão. Ossietzky foi preso por traição, e Hitler acusou o prêmio de intromissão.
Foto: Bundesarchiv 183-R70579
O Nobel da (quase) paz
A decisão de dar o Nobel da Paz a Henry Kissinger, então Secretário de Estado dos EUA, e a Le Duc Tho, líder do Vietnã do Norte, em 1973, foi duramente criticada. Dois membros do comitê renunciaram em protesto. O Nobel estava reconhecendo os esforços para um cessar-fogo no Vietnã. Tho rejeitou o prêmio, Kissinger enviou um representante para recebê-lo. A guerra se estendeu por mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
O libertário e o ditador
Defensor do livre-mercado, o economista americano Milton Friedman é um dos vencedores mais controversos do Nobel de Economia. O prêmio, dado a ele em 1976, gerou protestos internacionais, por conta de um suposto vínculo com o ditador Augusto Pinochet. Friedman havia visitado o Chile um ano antes, e manifestantes alegaram que suas teorias econômicas inspiraram o regime opressor.
Foto: PD
O Nobel da paz ilusória
O Nobel da Paz de 1994, compartilhado pelo então líder palestino Yasser Arafat, o premiê israelense Yitzhak Rabin e o ministro do Exterior de Israel Shimon Peres, buscava alavancar o processo de paz no Oriente Médio. Mas as negociações falharam, e Rabin foi morto por um nacionalista israelense um ano depois. Um membro do comitê do Nobel renunciou após a decisão e chamou Arafat de "terrorista".
Foto: Jamal Aruri/AFP/Getty Images
Um livro de memórias turvas
Defensora dos direitos indígenas, a guatemalteca Rigoberta Menchú ganhou o Nobel da Paz em 1992 por “seu trabalho a favor da justiça social e da reconciliação étnico-cultural”. Mais tarde, sua autobiografia, publicada em 1982 e grande alavanca de sua popularidade, foi acusada de ter passagens fictícias. Por esse motivo, muitos argumentaram que Menchú não seria merecedora do prêmio.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Fernandez
Prestígio antecipado
Barack Obama ganhou o Nobel da Paz em 2009, e até ele próprio ficou supreso. Em seu primeiro ano como presidente dos Estados Unidos, Obama foi homenageado "por seus esforços extraordinários em fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos". Muitos alegaram que a homenagem foi prematura e que veio antes de ele ter, de fato, a chance de causar um verdadeiro impacto.
Foto: picture-alliance/dpa
Prêmio póstumo
Em 2011, Jules Hoffmann, Bruce Beutler e Ralph Steinman levaram o Nobel de Medicina pela descoberta de uma nova célula do sistema imunológico. Mas Steinman morreu de câncer alguns dias antes da premiação e, de acordo com as regras, prêmios não podem ser concedidos postumamente. O conselho decidiu manter os homenageados, alegando não ter conhecimento da morte de Steinman no momento da decisão.
Foto: picture-alliance/dpa/Rockefeller University
A maior omissão
Não só os vencedores são responsáveis por tornar o Nobel um prêmio controverso. Mahatma Gandhi, líder da luta pacífica pela independência da Índia, foi indicado cinco vezes ao Nobel da Paz, mas nunca ganhou. Em 2006, Geir Lundestad, membro do Comitê Nobel, disse: “A maior omissão nos nossos 106 anos de história é, sem dúvida, o fato de Gandhi nunca ter recebido o Nobel da Paz.”