Autor de "Os vestígios do dia", escritor britânico nascido no Japão, de 62 anos, é o premiado de 2017. Academia destaca a "grande força emocional" para justificar sua escolha.
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O escritor britânico nascido no Japão Kazuo Ishiguro, de 62 anos, foi laureado nesta quinta-feira (05/10) com o Nobel de Literatura. No anúncio, a Academia Sueca destacou a "grande força emocional" de sua obra. Entre seus romances mais famosos está Os vestígios do dia, de 1989.
"Os escritos de Ishiguro são marcados por um modo de expressão cuidadosamente restrito, independentemente de qualquer evento que ocorra", disse a Academia. "Os temas com os quais ele está mais associado – memória, tempo e desilusão – são particularmente notáveis em seu romance mais renomado, Os vestígios do dia."
O livro Os vestígios do dia foi adaptado para o cinema num filme homônimo, que chegou a ser indicado ao Oscar e teve o ator Anthony Hopkins fazendo o papel do mordomo obcecado Stevens.
Entrevistada logo após o anúncio, a secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, descreveu Ishiguro como um autor que é uma mistura entre Jane Austen e Franz Kafka, com um pouco de Marcel Proust.
"Ao mesmo tempo, é um escritor de grande integridade. Desenvolveu um universo estético próprio", afirmou Danius, que realçou que a Academia Sueca atribuiu o prêmio à obra na sua plenitude e não a um livro específico.
Questionada, porém, sobre qual o seu livro favorito do autor, Danius disse encarar todos os seus livros como "maravilhosos, verdadeiramente requintados", embora destaque O gigante enterrado, de 2015.
"Ele é muito interessado em compreender o passado, mas não é um escritor proustiano. Não está à procura de redimir o passado. Explora o que tem de esquecer para sobreviver, em primeiro lugar, enquanto indivíduo ou enquanto sociedade", afirmou.
O escritor britânico nasceu em Nagasaki, no Japão, e estabeleceu residência com a família no Reino Unido no início da década de 1960, quando tinha cinco anos de idade.
Destacou-se com os primeiros contos, publicados na revista Granta, escreveu para cinema e televisão, e é autor de canções. Tanto seu primeiro romance, Uma pálida visão dos montes (1982), e o subsequente Um artista do mundo flutuante (1986) se passam em Nagasaki poucos anos depois da Segunda Guerra. Com a obra Os vestígios do dia, ele venceu o renomado Booker Prize, em 1989.
Depois de dois anos de vencedores não convencionais, o anúncio desta quinta-feira marca o retorno da literatura tradicional ao Nobel de Literatura. O prêmio dotado em 9 milhões de coroas suecas (1,1 milhão de dólares) do ano passado foi para o compositor americano Bob Dylan e no ano anterior para a jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich.
Curiosidades sobre o Nobel de Literatura
O homenageado mais jovem, os mais controversos, os que não quiseram buscar o prêmio e outras curiosidades do Nobel de Literatura, que é concedido desde 1901.
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Por livro antigo
Quando Thomas Mann recebeu o Nobel de Literatura em 1929, não foi pela sua então obra mais recente, "A montanha mágica". O escritor foi homenageado por seu romance anterior, "Os Buddenbrook". Os jurados do Nobel na Suécia consideraram ""A montanha mágica" muito "prolixo e pesado", por isso optaram por uma obra mais antiga.
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"Outros compromissos" mais importantes
Bob Dylan foi o primeiro músico a ganhar o Nobel de Literatur em 2016. Embora muitos músicos tenham celebrado o fato, Dylan demonstrou dar pouca importância ao prêmio. Ele não só não compareceu à cerimônia de entrega, alegando outros compromissos, como não enviou nenhum discurso para ser lido em sua ausência. Em março de 2017, então, ele deu uma passada por Estocolmo par apanhar sua medalha.
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Medo de aglomeração humana
Também a escritora austríaca Elfriede Jelinek não compareceu à cerimônia de premiação em 2004. Na época, alegou sentir medo em aglomerações humanas e da popularidade repentina: "Não estou em condições psíquicas de me expor a isso". Mas ela ao menos mandou um discurso por vídeo.
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Ameaça do regime soviético
O autor russo Boris Pasternak, famoso pelo romance "Doutor Jivago", foi homenageado em 1958. Seu governo, no entanto, o ameaçou de expatriação se aceitasse o prêmio. Pasternak não cedeu à pressão, o que lhe valeu a saída da Associação dos Escritores da União Soviética. Apesar de tudo, Pasternak permaneceu no país. A medalha pelo Nobel foi apanhada pelo filho dele em Estocolmo em 1989.
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Outro prêmio controverso
A elite literária se indignou em 1997, alegando que o italiano Dario Fo, homenageado naquele ano com o Nobel de Literatura, era apenas um "bufão divertido e não um autor de classe mundial". Ao que o escritor respondeu com um discurso memorável ao receber o prêmio da Academia sueca.
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Nobel pela retórica
Por duas vezes, o então premiê britânico Winston Churchill esteve na lista de nomeados ao Nobel da Paz. Até que, em 1953, ele recebeu o prêmio, mas de Literatura. O júri elogiou sua "maestria na descrição histórica e biográfica" e por sua "brilhante oratória, em que defende os valores humanos".
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Interesse pelo dinheiro do prêmio
Em 1969, o prêmio foi para o francês Jean-Paul Sartre. Mas ele surpreendentemente o negou, alegando que "todo prêmio cria a dependência". Mais estranho ainda foi que, alguns anos mais tarde, ele discretamente perguntou junto ao Comitê Nobel se não seria possível receber as 273 mil coroas suecas do prêmio.
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O mais jovem
O britânico Joseph Rudyard Kipling é o mais jovem agraciado com o Nobel de Literatura. Ele o recebeu em 1907, com 41 anos de idade, por suas histórias curtas e poemas sobre o tempo que passou na Índia e por suas famosas histórias infantis como "O livro da selva". Ele também foi o primeiro escritor britânico a ganhar o Nobel de Literatura.